Assédio

Extrema-direita ataca escritora de livros infantis

22 de junho 2024 - 20:21

Mariana Jones apresentava um livro sobre Rui Nabeiro quando foi interrompida este sábado por elementos da extrema-direita. A autora tem sido assediada há meses por causa do livro “O Pedro gosta do Afonso”. Ataques feitos por "quem só vê o título e nunca sequer leu a história" que não é sobre o que eles pensam, garante.

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Ilustração de Luís Melo para o livro O Pedro gosta do Afonso.
Ilustração de Luís Melo para o livro O Pedro gosta do Afonso.

Desde outubro que a escritora Mariana Jones é alvo de assédio por parte da extrema-direita portuguesa. A causa é um livro intitulado "O Pedro gosta do Afonso" que despertou a ira dos homófobos.

Este sábado a apresentação de outro livro intitulado “O avô Rui, o senhor do Café”, na Fnac do NorteShopping foi interrompida por membros do grupo extremista Habeas Corpus. A escritora tem o estatuto de vítima por causa de várias ameaças e intimidações anteriores, explicou à Lusa. Desta feita, contou, foi o próprio chefe do grupo, um ex-juiz expulso da sua atividade e em busca de protagonismo político, chamado Rui Fonseca, que a interrompeu. “A partir daí não consegui falar mais e fui retirada do local por seguranças”.

Já na apresentação do mesmo livro na Feira do Livro de Lisboa, outro elemento daquele grupo assediou-a, chamando-lhe “promotora da homossexualidade infantil e pedofilia”. Foi então que a escritora apresentou queixa na PSP por ameaças e intimidações e o caso está a ser avaliado pelo Ministério Público. A autora diz que vai pedir para juntar o sucedido agora ao mesmo processo.

Em causa estão ainda "dezenas de mensagens de ódio", dizia também à Lusa aquando dessa queixa. Nas redes sociais, o seu número de telefone foi publicitado e uma fotografia da sua filha bebé divulgada, acompanhada por frases do tipo "esta também é lésbica?" Podem-se encontrar ainda publicações em que é chamada de "animal", "técnica de recrutamento homossexual infantil" ou "escritora medíocre que encontrou uma forma de ganhar dinheiro com conteúdos de natureza homossexual para crianças".

Ao contrário da campanha de intimidação da extrema-direita nas redes sociais, Mariana Jones explica que o livro em questão não é destinado ao público pré-escolar. Nem sequer é sobre homossexualidade, pelo que a situação só se explica porque os ataques são feitos por "quem só vê o título e nunca sequer leu a história".

Mesmo antes dos acontecimentos deste sábado dizia: "Passo noites sem dormir, já vomitei, estou constantemente a reforçar as regras de segurança na escola das minhas filhas e relativamente a quem as pode ir buscar, e a eventos públicos não vou sozinha".

A 11 de junho, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda questionava o Governo sobre esta situação perguntando-lhe que medidas iria tomar para “monitorizar a atividade de grupos promotores do discurso de ódio, violento e discriminatório”.

O deputado Fabian Figueiredo sublinhava que este discurso “é público e conhecido das autoridades, sendo muitas das ameaças feita publicamente” e que “a monitorização deste tipo de organizações extremistas é um passo necessário para que se possa combater este fenómeno e, consequentemente, prevenir a ocorrência de crimes de ódio”.

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