Esquerda turca analisa recuo em eleições sob forte repressão

15 de maio 2023 - 20:24

O risco de ilegalização obrigou os candidatos do HDP a concorrerem nas listas da Esquerda Verde. Resultados provisórios confirmam-no como a terceira força política da Turquia, perdendo cinco deputados.

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Dirigentes da Esquerda Verde e HDP em conferência de imprensa esta segunda-feira.
Dirigentes da Esquerda Verde e HDP em conferência de imprensa esta segunda-feira. Foto Esquerda Verde.

A campanha eleitoral do Partido Democrático do Povo (HDP), a terceira força política na Turquia e primeira nas regiões de maioria curda, nem chegou a arrancar. Com os seus líderes presos e a estrutura partidária alvo da repressão do regime de Erdogan, o partido optou por não se apresentar em nome próprio, com o receio de que se concretizasse a intenção de o ilegalizar e assim privar o eleitorado de escolha nas eleições. A alternativa foi colocar os seus candidatos a concorrerem sob a sigla do Partido da Esquerda Verde, uma das organizações que formam o HDP, em coligação com outros partidos da esquerda turca na Aliança Trabalho e Liberdade. O partido decidiu também concentrar esforços nas legislativas e não apresentar candidatura à Presidência, apoiando o candidato da oposição melhor colocado, Kemal Kilicdaroglu, que disputará a 28 de maio a segunda volta das presidenciais com Erdogan.

Segundo os resultados preliminares relativos a esta aliança, a Esquerda Verde obteve cerca de 9% dos votos e 62 deputados (menos cinco do que os que obteve o HDP em 2018) e o Partido dos Trabalhadores da Turquia (TIP) obtém 4 deputados com 1,7% dos votos. Apesar da participação total nas eleições ter aumentado em três milhões de votos, o HDP perde 1,5 milhões em relação às eleições de 2018. Mesmo descontando os 900 mil votos que foram para o TIP, há uma quebra de 600 mil votos, mais acentuada no oeste do país.

Em conferência de imprensa, os líderes da Esquerda Verde e do HDP admitiram que o resultado ficou abaixo das suas expetativas, considerando que “o caso da possível ilegalização do HDP, como a espada de Dâmocles, impediu uma competição eleitoral igualitária e justa na Turquia”.

“Centenas dos nossos amigos e amigas foram detidos e presos com uma nova operação política a cada dia durante o processo eleitoral, criando condições em que mesmo o direito mais básico, o direito à política democrática, se tornasse impossível”, afirmou o líder da Esquerda Verde Çigdem Kiliçgun Uçar, acusando o AKP, partido de Erdogan, de “usar a seu favor todo o tipo de recursos públicos e de poder” ao longo da campanha.

Apesar das condições difíceis em que fizeram campanha, destacaram pela positiva terem conseguido manter o posto de terceira força política do país e de o seu eleitorado pró-democracia e justiça ter sido decisivo para obrigar Erdogan a uma segunda volta nas presidenciais. O co-presidente do HDP, Mithat Sancar, prometeu analisar ao pormenor as razões da quebra eleitoral, que ocorreu sobretudo na região oeste do país, e desenvolver essa avaliação no âmbito de “um processo de crítica e autocrítica”

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