O espaço da Associação de Moradores do Bairro Aldoar é pequeno, mas a comitiva do Bloco de Esquerda junta-se aos vizinhos lá dentro. Na zona do café, apertadas entre a multidão, Mariana Mortágua, Marisa Matias e Esmeralda Mateus conversam sobre os problemas do bairro e as suas lutas.
Esmeralda é presidente da associação, que fundou em 1989. Neste momento, 20% das pessoas do bairro estão sem água e 40% estão sem luz. “Já chegou a ser 85%”, explica. “Quando ficam sem água, a dívida acumula e para voltarem a ligar querem que se pague 40% do total de uma só vez”. Isso significa que muita gente não consegue voltar a ligar.
As pessoas do bairro de Aldoar atravessam dificuldades económicas e a associação de moradores tenta ajudar quem não tem que comer. Todos os dias, Esmeralda recebe comida às 8h da manhã e enche 21 sacos para distribuir entre os moradores do bairro. Pão, tomates, pimentos, hortaliças, frango assado, sopa. “Quem precisa é quem trabalha”, explica Esmeralda.
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Mariana visita o bairro do Zambujal e denuncia zonas “que o Estado abandona”
“O salário é muito pequeno”, diz a presidente da associação de moradores. “Há casos que até me vêm as lágrimas aos olhos. Não quero ver ninguém sem água, é uma dor muito forte. E agora cortam os canos para garantir que não há acesso à água. Tiram tudo”
Ao ouvir o testemunho de quem mora no bairro, Mariana Mortágua volta a frisar os problemas da “população invisível do país”, como já fez também no bairro do Zambujal, em Lisboa. “É gente que trabalha e não consegue ganhar um salário suficiente para fazer face às despesas mensais, com todas as condições que merecem”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda lembra que há 900 mil trabalhadores que trabalham e são pobres, e o objetivo da campanha do partido para as eleições legislativas é por em cima da mesa as propostas dos tetos às rendas e do subsídio para o trabalho por turnos, para ajudar estas pessoas.
Sobre as carências de eletricidade e água no bairro, a dirigente bloquista salienta que o partido avançou com a tarifa social da eletricidade e a tarifa social da água. Viver sem luz, a morrer de frio no inverno, é uma realidade na Europa e em Portugal, onde há muita pobreza energética.
“Nós hoje começámos o dia num bairro pobre do Porto, para falar sobre como a comunidade se organiza para chegar onde o Estado não chega, e vamos acabar o dia a falar sobre como taxar os ricos. Porque achamos que há uma ligação entre as pessoas que não conseguem pagar a eletricidade e quem acumula fortunas milionárias”, explica Mariana Mortágua.
Chegar onde o Estado não chega é o que Esmeralda faz. Foi operária numa fábrica durante 32 anos, e ficou com 300 e poucos euros por mês. Agora, já depois de reformada, trabalha na associação de moradores. Uma vez por semana dão apoio ao estudo às crianças que ali moram. Tem um chaveiro no qual guarda as chaves que os vizinhos lhe confiam, para garantir que estão bem.
Na porta da sala de costura, onde fazem remendos e bainhas a quem precisa mas não sabe fazer ou não tem dinheiro, lê-se: “É urgente o amor! Obrigado, Esmeralda”. É essa a doutrina que ali se apregoa, e a presidente da Associação de Moradores não concebe outra coisa. “Não posso ouvir os tubarões que dizem que as pessoas têm é de ir trabalhar”, confessa. A realidade daquele bairro é outra: “Os assistentes sociais não vêm aqui, ninguém vem ver como é que isto está. Sou eu que tenho de tratar, porque quero ver um bairro melhor”.