Alexander Lukashenko está no poder na Bielorrússia há 26 anos. Cumpriu já cinco mandatos consecutivos e prepara-se agora para o sexto. A vitória parece muito mais próxima depois dos dois candidatos mais fortes que se lhe opunham terem sido impedidos de concorrer às eleições presidenciais do próximo mês, devido a uma decisão da Comissão Eleitoral conhecida esta terça-feira.
Um deles já se encontrava detido. O ex-chefe do banco russo Gazprombank, Viktor Babariko, foi impossibilitado de se candidatar devido ao processo criminal contra ele, justificou a Comissão Eleitoral. Babariko é acusado de desvio de centenas de milhões de dólares do país, de evasão fiscal e de subornos. Os seus apoiantes alegam que se trata apenas de mais uma das perseguições políticas do regime. E a Amnistia Internacional considerou-o, junto com o seu filho também encarcerado, um prisioneiro de consciência.
O outro, o ex-embaixador e atual gestor de um parque de negócios, Valery Tsepkalo, também foi rejeitado. Apesar de ter entregue as cem mil assinaturas necessárias para se apresentar às eleições, centenas de entre elas foram consideradas nulas.
Até agora Lukashenko tinha passeado pelos atos eleitorais. Desta feita, o descontentamento crescente a propósito da crise económica, das violações dos direitos humanos e da gestão da pandemia parecia amedrontar o regime.
O presidente da Bielorússia é um negacionista da covid-19, tendo chegado a declarar que a doença se curaria com “um copo de vodka, sauna e trabalhar com o trator no campo”. Por isso, não tomou medidas contra a propagação da doença porque “não há vírus no gelo”.
Depois destas decisões, sobrou ainda uma candidata de oposição, Svetlana Tikhanovskaya, que foi validada mas que tinha pouco apoio. O seu marido, um conhecido vlogger, está preso por ter participado nas recentes manifestações contra Lukashenko e lhe ter chamado “barata”. Apesar de tudo, a oposição restante pode vir a unir fileiras nesta candidatura. A agora candidata presidencial tinha denunciado ameaças contra os seus filhos devido à decisão de ir a votos.
Para além das decisões sobre os candidatos elegíveis, há que tomar em conta a prisão de cerca de sete centenas de pessoas, denunciada pelos grupos de defesa dos direitos humanos, e que tem sido encarada como uma forma de impedir mais protestos contra o governo antes das eleições.
Os protestos têm enfrentado a mão dura do regime. Lukashenko declarou triunfalmente que a sua ação impediu uma revolução apoiada por forças estrangeiras: “conseguimos tomar providências para antecipar e frustrar um plano importante para desestabilizar a Bielorrússia e fazer uma nova Maidan no país”, disse, referindo-se ao que se passou na Ucrânia.