Europeias

“A direita está a transformar-se num exército de guerra contra as mulheres”

02 de junho 2024 - 18:05

Num comício ao ar livre em Lisboa, Catarina Martins prometeu que “cada voto no Bloco é muito mais do que uma garantia contra o recuo: é a força para avançar” nas políticas de igualdade e nos direitos das mulheres.

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Catarina Martins no comício deste domingo em Lisboa.
Catarina Martins no comício deste domingo em Lisboa. Foto Ana Mendes

Num discurso dedicado às lutas das mulheres e aos perigos que estas eleições representam para o ataque aos seus direitos na União Europeia, Catarina Martins começou por evocar Nora Cortiñas, a fundadora das Mães da Praça de Maio falecida esta semana em Buenos Aires e que nunca desistiu de lutar para saber o paradeiro do seu filho e de muitos milhares de desaparecidos durante a ditadura argentina, participando também na luta pelo direito ao aborto, agora ameaçada pelo governo Milei que propõe o regresso à criminalização das mulheres.

“Sabemos de ciência certa que por cada vitória as mulheres serão mais atacadas e por forças mais ferozes. A bandeira da direita dos dias de hoje é esse ataque: sentem que a igualdade ameaça privilégios e responde à violência. A direita está a transformar-se num exército de guerra contra as mulheres”, prosseguiu Catarina Martins, apontado os “aliados de Ventura, seja Milei, seja Trump, seja Meloni, seja Orbán” que “tomam os direitos das mulheres como alvo”. Mas também “os aliados de Montenegro , que querem aproximar-se dos aliados de Ventura, afirmando que se normalizaram e são democratas”. Catarina contrapõe que “quem quer espezinhar os direitos das mulheres não é democrata, é simplesmente alguém que despreza a humanidade”.

Em seguida, afirmou que “Portugal está cheio de mulheres de coragem que protegem as filhas e os filhos”, desde as assalariadas agrícolas que protagonizaram as lutas pelo salário, exigiram a lei do divórcio e reclamaram que os filhos não fossem mandados para a guerra colonial na ditadura, às que em democracia exigiram que o aborto deixasse de ser punido com pena de prisão, às que este sábado protestaram em Viseu contra o encerramento noturno das urgências de pediatria no seu hospital, ou às que na manhã de domingo apresentaram o seu manifesto a exigir o reconhecimento dos direitos para as trabalhadoras domésticas. Ainda sobre o aborto, lembrou ”que os que dizem que não vão mexer na lei já mexeram, precisamente no último governo PSD-CDS, e para humilhar as mulheres”.

A concluir, Catarina Martins prometeu que “cada voto no Bloco é muito mais do que uma garantia contra o recuo. É a força para avançar” nas políticas de igualdade.

Comício do Bloco no Parque da Quinta das Conchas e dos Lilases, em Lisboa
Comício do Bloco no Parque da Quinta das Conchas e dos Lilases, em Lisboa. Foto Esquerda.net

Mariana Mortágua quer repetir no domingo a mobilização e alegria da manifestação do 25 de Abril

Num comício que contou também com intervenções do ativista humanitário Miguel Duarte e da candidata e dos atuais eurodeputados José Gusmão e Anabela Rodrigues, Mariana Mortágua falou do que a Europa representou para a sua geração e as anteriores, da “luz brilhante ao fundo do túnel” da ditadura à “grande viagem sem passaporte” para os jovens após a adesão. Para a coordenadora do Bloco, a “nossa Europa é a dos povos que não aceitam genocídios” e “que vai muito além dos governos e das instituições”, como já se viu durante as guerras da ex-Jugoslávia e do Iraque.

“A nossa Europa é a dos povos que recebem os refugiados das guerras e do sofrimento com a memória presente de quem já sofreu e fugiu do horror”, prosseguiu Mariana Mortágua, contrapondo-a à Europa da austeridade da troika contra os povos do sul. “O medo que a minha geração conheceu, foi a União Europeia que o impôs, e contra essa agressividade social e económica erguemos sempre a ideia de Europa”, prosseguiu.

Mariana Mortágua falou também da Europa do presente, onde “não há quem não oiça os tambores da guerra”: da guerra na Ucrânia “que ameaça transformar-se num conflito nuclear às mãos de líderes internacionais irresponsáveis” e da “guerra genocida em Gaza, conduzida por um criminoso e apoiada na vontade de extermínio que já assassinou mais de quarenta mil palestinianos”. Mas há outra guerra em curso na Europa, avisou: a guerra social “que usa, financia e incentiva os cultores do ódio, a extrema-direita que está a contaminar toda a direita”, em que as anteriores linhas vermelhas perante o neofascismo se transformaram agora na passadeira vermelha que Ursula von der Leyen “estendeu à chefe da extrema-direita italiana”, Giorgia Meloni, que recentemente autorizou as “hordas de perseguidores anti-aborto” a entrarem nos centros clínicos onde se deslocam as mulheres que querem interromper a gravidez.

“A cada dia fica mais claro que a direita tradicional e os mais tradicionais da direita, os liberais, são uma rampa deslizante contra a democracia, são a mão dada com a extrema-direita e só triunfarão se criarem o medo”, avisou a coordenadora do Bloco, sublinhando que nestas eleições é o Bloco que se ergue pela democracia e contra o medo que se traduz no negacionismo climático e sanitário, na cultura da guerra ou no racismo e a desumanização do outro. Por isso, apelou a que no próximo domingo se repita a mobilização e a alegria que o país viveu nas ruas nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril. “Vamos votar lembrando-nos do que somos e do que queremos ser: uma Europa por ti e por nós”, concluiu.