O movimento que varre o Bangladesh começou por ser organizado pelos estudantes conta o regresso da política de quotas na Função Pública reservadas aos descendentes dos combatentes pela independência do país, muitos deles afetos ao regime.
A repressão foi forte e houve pelo menos 206 mortes, muitos feridos e perto de 10.000 presos. A imposição do recolher obrigatório e a decisão do Supremo Tribunal de eliminar grande parte das quotas fez com que as manifestações parassem e tivesse sido decretada uma moratória nos protestos por parte da coordenadora estudantil. A semana passada, face à recusa em libertar muitos dos detidos, as manifestações voltaram. Já não apenas sobre as quotas, se é que alguma vez terão sido “apenas” sobre isso. Mas desta feita para pedir a demissão da primeira-ministra Sheikh Hasina.
Revolta
Estudantes do Bangladesh meteram o governo de Sheikh Hasina contra as cordas
Santiago Montag
Este domingo, foram centenas de milhares nas ruas num dia que acabou tragicamente com pelo menos 93 mortos, a Internet foi outra vez cortada e voltou a ser decretado recolher obrigatório em todo o país.
A primeira-ministra primeiro tinha-se disponibilizado para falar com os manifestantes, depois acusou-os de terem “grupos terroristas” infiltrados nas manifestações. Agora acabou por se demitir e abandonar o país, segundo vários meios de comunicação locais. Ainda antes da confirmação oficial de que um helicóptero tinha retirado a ex-governante do palácio governamental para parte incerta, provavelmente para a Índia, já se celebrava nas ruas a queda do Governo.
Antes disso, Ikbal Karim Bhuiyan, um ex-chefe do Exército, junto com um grupo de ex-oficiais de alta patente tinham já lançado um comunicado duro a condenar “assassinatos atrozes, torturas, desaparecimentos e detenções massivas”. Estes militares pediam na sua missiva ao “governo em funções” para que retirasse “imediatamente as forças armadas da rua”.
Depois, foi outro militar a assumir o protagonismo. Waker-Us-Zaman, chefe do Exército, confirmou nas televisões que Hasina tinha saído do país e que se iria formar um governo interino. Sobre este, ainda não se conhecem mais detalhes.
A residência oficial da primeira-ministra, filha do primeiro presidente do país e que estava no poder desde 2009, está agora ocupada por centenas de pessoas que clamam vitória.
Em Portugal, associações de imigrantes repudiam “massacre”
A plataforma das associações de imigrantes em Portugal tinha emitido uma nota de repúdio “ao massacre de estudantes” no Bangladesh.
De acordo com a estrutura, as forças policiais perpetraram um “verdadeiro massacre de estudantes e populares” “na sequência de protestos legítimos contra as medidas tomadas pelo governo que privilegiam setores da população em detrimento de outros no acesso ao emprego público”.
Na nota, manifestam a sua solidariedade para com as associações que representam os imigrantes do Bangladesh em Portugal que integram este grupo, sublinhando que “infelizmente há muitos países no mundo onde os governos adotam a repressão violenta contra as mobilizações populares por seus legítimos interesses e reivindicações”.
Por isso, pedem “o apoio e a solidariedade dos portugueses ao povo de Bangladesh e ao governo português que proteste diplomaticamente contra a extrema violência realizada contra estudantes e populares”.