Na terça e quarta-feira, o cenário de manifestação e de repressão com bastões, gás lacrimogéneo e granadas de dissuasão voltou às ruas do Bangladesh. Milhares de pessoas participaram numa “Marcha pela Justiça” protestando contra o uso excessivo da força pela polícia nas manifestações que aconteceram ao longo de julho e que foram protagonizadas por estudantes que se tinham organizado contra as quotas na Função Pública local que beneficiavam apoiantes do governo de Sheikh Hasina.
Nos recentes protestos, pelo menos 206 pessoas morreram, muitas mais ficaram feridas e perto de 10.000 foram presas. A vaga de manifestações tinha parado depois do Supremo Tribunal ter decidido eliminar a grande maioria das quotas para os descendentes de participantes no movimento de libertação nacional. Regressou agora para confrontar o poder com o uso da violência mas a resposta foi a mesma, voltando a registar-se dezenas de detenções.
Revolta
Estudantes do Bangladesh meteram o governo de Sheikh Hasina contra as cordas
Santiago Montag
À Reutuers, Mohammad Mahin Sarkar, um dos coordenadores dos Estudantes Contra a Discriminação, diz que vão pedir uma investigação das Nações Unidas à repressão. Volker Türk, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, apelou pelo seu lado a que o governo do país inicie uma investigação independente ao que classificou como “violência horrível”. Análises realizadas pela Amnistia Internacional confirmaram o uso de armas letais pela polícia, grupos e forças paramilitares incitados pelo governo contra manifestantes desarmados.
Para além do uso da violência contra manifestantes, na tentativa de acabar com os protesto, o regime, no poder há 15 anos, tinha impedido o acesso à Internet e implementado um recolher obrigatório.
Mais recentemente, ameaça banir o partido islâmico Jamaat-e-Islami e a sua ala juvenil que culpa por atos violentos cometidos durante as manifestações. Este, em comunicado, recusa participação em atos de violência e diz que a proposta de interdição é “ilegal, extra-judicial e inconstitucional”. Recorde-se que este partido já foi proibido de participar em atos eleitorais sob o pretexto de ser um partido religioso e, assim, violar a constituição secular do país.
Desta feita, terão havido confrontos pelo menos em Sylhet, no nordeste, em Chittagong e Barishal no sul, e na capital Dhaka, de acordo com a Reuters.
Líderes estudantis libertos
A AFP noticia já esta quinta-feira que seis coordenadores do grupo Estudantes Contra a Discriminação, alguns deles presos desde que o movimento se tornou massivos foram libertados. O Governo tinha declarado então, de acordo com a agência noticiosa francesa, que os tinha prendido para garantir a sua própria segurança. Agora, o ministro da Justiça, Anisul Huq, insiste nessa ideia: “vieram de livre vontade. Disseram que queriam ir. Foi-lhes permitido que regressassem aos seus pais”.
Uma das reivindicações das manifestações do dia anterior era precisamente a sua libertação. Os estudantes tinham dado um prazo para a sua libertação que não foi cumprido e só depois saíram às ruas, terminando assim a sua “moratória” às manifestações.
Mas o movimento ganhou asas para além das reivindicações sobre quotas de acesso a emprego público e da rejeição da violência nas manifestações. Ao Guardian, Hasan, um dos manifestantes, esclarece que “isto tornou-se um movimento de massas contra uma ditadora. A primeira-ministra tem governado durante 15 anos e passou tanto tempo a reforçar o seu controlo sobre os mecanismos do Estado que pensa que se tornou invencível. Tornou-se um monstro.”