A noite deste domingo foi de festa para a esquerda francesa. Depois de duas vitórias consecutivas da extrema-direita, nas eleições europeias e na primeira volta das legislativas, as sondagens da segunda volta iam apontando para uma terceira.
Primeiro, a estratégia unitária à esquerda, com a constituição imediata da Nova Frente Popular, depois a frente “republicana” com o apelo à concentração de votos na segunda volta nos candidatos melhor colocados para derrotarem a União Nacional, tentavam contrariar o que alguns davam como certo.
Logo depois das primeiras projeções, as reações ao terceiro lugar da extrema-direita foram de alívio e surpresa. A cara dos militantes da UN e dos comentadores do canal CNews contrastavam com as celebrações nas ruas numa noite que terminou com a eleição de 178 deputados da NFP, 150 do campo presidencial e 142 da extrema-direita.
Mas a noite não foi só de festa. Começaram desde logo as conversações entre os partidos da frente sobre o novo governo com Manuel Bompard (da França Insubmissa), Olivier Faure (do Partido Socialista), Marine Tondelier (dos Verdes) e Fabien Roussel (do Partido Comunista Francês) a encontrarem-se para uma primeira análise dos resultados.
Esta segunda-feira começa com uma ronda de entrevistas dos principais dirigentes da Nova Frente Popular em diversos canais televisivos ao que se seguem, segundo confirmam, mais discussões com a ideia de apresentação de um novo executivo em cima da mesa, sobretudo a questão do primeiro-ministro, em aberto desde a marcação das eleições antecipadas.
Na Franceinfo, Faure vincou a “clara rejeição do campo presidencial” ,contrapondo que a “única alternativa credível” é agora a NFP. O líder dos socialistas recordou que, ao contrário da esquerda, os macronistas não retiraram candidatos em todo o lado para combater a extrema-direita, e pediu que Macron reconhecesse a derrota, disse que “o realismo se impõe” e que “seremos obrigados a discutir”, querendo desta forma marcar desde logo pontos na discussão sobre o novo primeiro-ministro.
Aos microfones da RTL, Tondelier instou também o presidente da República a que peça que a esquerda transmita o nome de um novo primeiro-ministro e também sublinhou que “um bom primeiro-ministro deve apaziguar o país, federar o seu próprio campo”, pelo que à partida “não seria Jean-Luc Mélenchon”. Vincou depois o mesmo numa publicação na rede social X em que o seu “retrato-robot do futuro ou da futura primeira-ministra” incluía os pontos “ser alinhado com o nosso programa”, “uma figura que deve apaziguar e reparar o país”, “fazer consenso” e ter “competência e experiência”.
Bompard, na France 2, reiterou a ideia de que deve ser a NFP a governar e ao fantasma da “ingovernabilidade” que está a ser agitado pelos comentadores políticos respondeu lembrando que o campo macronista também não tinha maioria absoluta no parlamento e governou aplicando o seu programa. Assim, aos apelos a “negociar” o programa, contrapôs claramente que este é para aplicar como foi aprovado entre as partes da coligação. Enquanto foi recusando comentar nomes para o cargo de primeiro-ministro, quando questionado sobre o facto de Mélenchon não ser consensual, prestou-lhe “homenagem”, recordando o seu resultado eleitoral presidencial e o avanço para a constituição da NUPES, a coligação de esquerda nas passadas eleições, sem a qual esta vitória não seria possível.
Internamente no parlamento, a relação de forças no interior da NFP dá uma maioria relativa de 78 deputados para a França Insubmissa, à qual provavelmente haverá que retirar alguns dos que estão em rota de colisão com a direção do partido e que provavelmente não irão fazer parte do seu grupo parlamentar (no caso de se constituírem, como nas passadas eleições, grupos dos distintos partidos), o PS terá mais de seis dezenas, os ecologistas perto de metade disso e os comunistas uma dezena. Contas feitas relativamente à legislatura passada, isto significa uma estabilidade no número de eleitos para a LFI, um aumento de 109% para o PS e de 47% para os Verdes.
Até ao momento, do lado de Macron, chegou apenas ao fim da manhã a notícia de que pediu ao primeiro-ministro demissionário Gabriel Attal para “de momento” se manter no cargo para “assegurar a estabilidade do país”.