A crise política “passou” pelo Parlamento. Uma crise tridimensional: um governo isolado, como ficou claro no debate da moção de censura, com o CDS a cumprir os serviços mínimos e o PS a bater com a porta; um governo em decomposição, cujo último rombo foi a demissão forçada de Miguel Relvas, o pequeno cérebro político da governação que criou mais problemas do que aqueles que resolveu; e, finalmente, um governo fora da lei, reincidente no ataque à Constituição, com um segundo orçamento declarado inconstitucional pelo Tribunal Constitucional.
O debate da moção de censura revelou dois aspetos fundamentais da atualidade política. Primeiro, o governo não consegue, em sua defesa, mostrar um só resultado positivo de quase dois anos de governação, multiplicando-se em desculpas e alibis, seja a crise em Itália ou no Chipre, a oposição ou o Tribunal Constitucional. Por isso, o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho passou o debate a atacar o PS de… Sócrates. Paulo Portas, a preparar-se para o que der e vier, entrou no debate para “namorar” o PS, ajeitando-se a uma futura parceria de governo com o PS.
Segundo, o PS tem uma nova versão para o equívoco político que António José Seguro tem alimentado através de um equilíbrio muito instável, como temos dito, um pé na oposição e outro na troika. Diz agora o PS que é preciso renegociar a dívida numa versão em tudo parecida com o que tem anunciado Vítor Gaspar. Durante o debate da moção de censura, o PS voltou a insistir no respeito pelos compromissos internacionais, traduza-se, pagar a dívida, apenas propondo a revisão dos prazos acordados com a troika e os credores. A moção de censura mostrou que o PS pode ter cortado com o governo mas, de facto, continua preso ao memorando, à troika e aos credores. Essa não é a alternativa que o país exige.
O debate quinzenal centrou-se na demissão de Relvas. O primeiro-ministro bem tentou desviar o debate para a economia social. As suas palavras confirmaram o que já se sabia: o plano do governo é transferir as responsabilidades sociais do estado para terceiros, no caso as misericórdias e as IPSS, no registo conservador da caridade institucional e do assistencialismo misericordioso.
O governo perdeu um ministro e o ministro perdeu a licenciatura. A demissão de Relvas – que o ministério de Crato tornou inevitável ao revelar as condições em que o aluno Miguel Relvas obteve a “licenciatura”- espelha o estado de decomposição em que se encontra o governo e a fraqueza política do chefe do governo, incapaz de demitir um ministro apesar do seu envolvimento numa situação de abuso. Não falta muito para ser o próprio Pedro Passos Coelho a seguir o mesmo destino que Relvas. A não ser Cavaco, já ninguém aguenta este governo…
A crise política
08 de abril 2013 - 2:36
A crise política “passou” pelo Parlamento. Uma crise tridimensional: um governo isolado, como ficou claro no debate da moção de censura, com o CDS a cumprir os serviços mínimos e o PS a bater com a porta; um governo em decomposição, cujo último rombo foi a demissão forçada de Miguel Relvas; e, finalmente, um governo fora da lei, reincidente no ataque à Constituição, com um segundo orçamento declarado inconstitucional pelo Tribunal Constitucional.
porJoão Semedo
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