“Por 50 anos, os governos falharam em agir sobre as alterações climáticas. Não há mais desculpas”, escrevem Christiana Figueres, Yvo de Boer e Michael Zammit Cutajar num artigo publicado no The Guardian.
Os três antigos secretários executivos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (UNFCCC) recordam as conclusões do relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que reconhece que as alterações climáticas são “uma ameaça ao bem-estar humano e à saúde planetária” e alerta para a urgência na ação.
Os especialistas assinalam que, como reconhecido na Conferência de Estocolmo de 1972 sobre o Meio Ambiente Humano, as crises de segurança, saúde, desenvolvimento e meio ambiente estão ligadas, pelo que “os governos devem agir contra as alterações climáticas ao mesmo tempo em que lidam com outras crises urgentes”.
Christiana Figueres, Yvo de Boer e Michael Zammit Cutajar realçam que, no seu tempo à frente do secretariado do UNFCCC, testemunharam “compromissos e promessas que não foram totalmente honrados” e que o desempenho dos países desenvolvidos “foi dececionante, principalmente na redução das suas emissões de gases de efeito estufa e na mobilização de apoio financeiro para os países em desenvolvimento que precisam”.
“A ciência mostra que a ação nesta década para reduzir todos os gases de efeito estufa é crítica. Mas a soma total de políticas em vigor agora levar-nos-á a um mundo mais quente em 2,7°C e talvez a uns catastróficos 3,6°C acima dos níveis pré-industriais”, advertem.
Os especialistas têm esperança de que, “se a ciência não persuadiu a maioria dos governos a agir, talvez a economia o faça”, já que “o IPCC fornece evidências claras de que as sociedades serão mais prósperas num mundo onde as alterações climáticas são limitadas, do que num mundo deixado para queimar”.
“No setor de energia, a evidência da transição zero carbono está ao nosso redor”, destacam, avançando que “a menos que se invista em combustíveis fósseis, agora não há razão para não seguir o caminho da energia limpa”.
Christiana Figueres, Yvo de Boer e Michael Zammit Cutajar lembram que, na Conferência sobre o Meio Ambiente Humano de 1972 em Estocolmo, “os líderes concordaram em cooperar em ameaças enfrentadas em comum”. Atualmente, “com a geopolítica congelada por divergências de superpotências e com nações sangrando de covid e conflitos, os povos do mundo precisam que os seus líderes trabalhem juntos mais uma vez”, vincam.
Alertando que a janela de oportunidade para evitar alterações climáticas perigosas está a fechar-se, os ex-líderes da ONU exortam os líderes a cumprir as suas promessas, “no interesse das pessoas, da prosperidade e do planeta”.