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COP21: 289 ativistas detidos, 174 ficam em prisão preventiva

Este domingo, a polícia francesa usou gás lacrimogéneo e realizou detenções violentas após cercar centenas de ativistas que se juntaram na Praça da República, em Paris, reclamando justiça climática e o direito fundamental de manifestação.
COP21: 289 ativistas detidos, 174 ficam em prisão preventiva
Foto DR, retirada do site do NPA.

A um dia do início da 21.ª Cimeira do Clima em Paris, milhares de pessoas saíram à rua desafiando as medidas securitárias ditadas pelo estado de emergência, decretado após os ataques de 13 de Novembro, que permite ao Estado francês proibir manifestações. Na Praça da República, centenas de ativistas anti-Cop21 acabaram cercados pela polícia que usou gás lacrimogéneo para dispersar a multidão e deteve 289 pessoas no seguimento de confrontos violentos. Segundo o governo francês, 174 ativistas mantêm-se em prisão preventiva.

“Libertação imediata dos manifestantes! Parem a repressão!” é o que exige o comunicado do Novo Partido Anti-Capitalista francês, NPA, que tem dezenas de militantes detidos. No comunicado, o NPA relata os acontecimentos que tiveram lugar na Praça da República, considerando uma “mentira vergonhosa” as declarações do governo francês que, por sua vez, denunciou "a violência inaceitável" dos manifestantes. Segundo o NPA, um grupo de centenas de pessoas foi cercado pela polícia que agrediu manifestantes, a ponto de algumas pessoas procurarem abrigo nas ruas adjacentes à emblemática praça parisiense. Entre os manifestantes estavam militantes e porta-vozes deste partido anti-capitalista, como Christine Poupin e Olivier Besancenot, entre centenas de ativistas de outros movimentos de esquerda.

“O Governo permite homenagens às vítimas de 13 de Novembro, eventos desportivos, concertos, etc., mas reprime manifestações”, lê-se no comunicado divulgado esta segunda-feira. O NPA critica o governo francês por estar mais preocupado em implementar as suas medidas de segurança do que em proteger os manifestantes. “Enquanto os chefes de Estado se reunirão amanhã em Paris, na 21º Conferência do Clima, todos aqueles que não querem deixá-los decidir o destino do planeta e da humanidade estão a ser reprimidos”, são declarações publicadas no site do partido, ainda no final de domingo.

“Um dia negro para o direito de manifestação”, escreveu Olivier Besancenot na sua conta do Twitter.

“Um dia negro para o direito de manifestação”, escreveu Olivier Besancenot na sua conta do Twitter, respondendo às declarações do Presidente francês, François Hollande, que se referiu a "elementos perturbadores" na origem dos confrontos e considerou os protestos "censuráveis” e “escandalosos".

Na mesma tarde, outros protestos simbólicos e pacíficos tiveram lugar. Na Praça da República, foram depositados cerca de 20 mil pares de sapatos de todo o tipo, um protesto silencioso em forma de instalação, proposto pela Avaaz, uma das organizações que tinham planeado a grande marcha pelo clima. O Papa Francisco também enviou um par de sapatos em solidariedade com a iniciativa que assim respondeu à proibição das manifestações. Os sapatos substituíram as pessoas que se teriam manifestado, caso pudessem. Além disso, também em Paris realizou-se um extenso cordão humano, exigindo ações contra o aquecimento climático do planeta.

"O estado de emergência protege-nos, mas quem nos protege do estado de emergência?”

Esta pergunta abre atualmente o site do NPA e surge no seguimento das detenções de ativistas que este domingo reclamaram, em Paris, o direito à manifestação.

Ainda este sábado, e na sequência da detenção de seis ativistas que foram postos em prisão domiciliária na região de Rennes, a Coligação Clima emitiu um comunicado no qual afirmava que as organizações da sociedade civil estão convencidas de que não conseguirão atacar o aquecimento climático renunciando às suas “liberdades e direitos fundamentais”. Um dos detidos é Joël Domenjoud, membro do órgão jurídico da Coligação do Clima, um grupo que representa 130 organizações civis e sindicatos de proteção dos direitos humanos e do ambiente.

O estado de emergência decretado por Hollande, após os ataques terroristas de 13 de Novembro, em Paris, permite novos poderes às forças de segurança que assim podem realizar buscas e aplicar medidas de prisão domiciliária a ativistas ambientais que julgam poder estar a preparar ações de protesto para a COP21, que começou esta segunda-feira, em Paris.

Segundo o jornal Le Monde, as ordens de prisão domiciliária terminam no dia 12 de Dezembro, o dia em que termina esta cimeira do clima. Porém, o Ministério do Interior e autoridades locais poderão ordenar mais buscas e prisões domiciliárias sem mandado judicial, desde que acreditem que essas pessoas ou locais representam uma ameaça à ordem pública. Em alguns casos, as detenções na residência significam 12 horas por dia em casa e três apresentações diárias numa esquadra de polícia.

Na semana passada, um grupo de personalidades francesas lançou um abaixo-assinado com o nome “Desafiemos o estado de emergência”, no qual propunham a participação na marcha do clima deste domingo, apesar da sua proibição policial. Mais de 4600 pessoas assinaram esta petição, indicando que a deriva autoritária em França começa a ser fortemente questionada.

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