André Ventura e o Chega/Madeira passaram semanas a garantir que não viabilizariam um Governo liderado por Miguel Albuquerque, constituído arguido em janeiro após a mega-operação anticorrupção que visou membros do Governo Regional da Madeira e um grande empresário de construção do arquipélago. Mas, na hora da verdade, deram uma cambalhota e com a sua abstenção viabilizaram o regresso de Albuquerque ao Governo em plenas funções.
Assim, graças ao voto da extrema-direita, há pela primeira vez em Portugal um Governo presidido por um arguido sobre o qual recaem suspeitas graves de corrupção em negócios que há muito têm sido denunciados pela oposição à esquerda.
Na votação do programa de Governo esta quinta-feira, três dos quatro deputados do Chega juntaram-se à IL na abstenção que permitiu a aprovação com os votos favoráveis do PSD, CDS e PAN. Os votos contra vieram das bancadas do PS, JPP e de uma deputada do Chega. Magna Costa admitiu ao Jornal da Madeira ter feito “o papel da pessoa que tinha de cumprir a palavra com o voto contra”, remetendo explicações para os outros deputados que “poderão explicar porque se abstiveram”.
Com esta cambalhota, o Chega substitui o anunciado veto a um arguido por corrupção por um eventual veto, caso Albuquerque seja acusado. A extrema-direita aposta assim num calendário de investigações judiciais mais lento que o calendário político, beneficiando entretanto das contrapartidas por este apoio a um político bem conhecido por recompensar apoiantes.
“A Madeira precisa de quem não se deixe corromper”
Em comunicado, o Bloco de Esquerda/Madeira lembra que o CDS e o PAN derrubaram o governo que apoiavam há cinco meses alegando falta de confiança em miguel Albuquerque, para agora voltarem a empossá-lo na liderança do executivo. E conclui que na campanha eleitoral “CDS, PAN, IL e CH venderam uma mentira aos madeirenses com o único objectivo de eleger deputadas e deputados” para agora acabarem a dar “um voto de confiança em 48 anos de políticas que nos conduziram a este estado de coisas”. Para o partido, o programa de Governo agora aprovado mantém “inalteradas as suas políticas e o sentido da governação” e não dá respostas às dificuldades crescentes dos madeirenses, que vão “do custo de vida à habitação, passando pelos baixos salários e a pobreza”.
“A Madeira precisa de quem não se deixe corromper e defenda os madeirenses e o seu direito a viverem plenamente na sua ilha e lhes proteja o futuro. Hoje sabemos quem quer manter tudo como está”, conclui o Bloco/Madeira.