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Celebrar a final da Taça das Nações Africanas na maior prisão do Mundo!

No passado dia 19, os Saharauis saíram à rua para celebrar a final da Taça das Nações Africanas, após vitória dos seus “irmãos” argelinos contra o Senegal, foram recebidos a ferro e fogo por polícia e paramilitares marroquinos, ocupantes ilegais do Sahara ocidental. Por Né Eme.
Polícia de Marrocos a disparar contra manifestantes saharauis, 19 de julho de 2019
Polícia de Marrocos a disparar contra manifestantes saharauis, 19 de julho de 2019

Foi um pesadelo em algumas cidades especialmente na capital do Sahara Ocidental, El- Aaiun.

Encurralados nas suas terras, ocupadas há mais de 40 anos por Marrocos, os Saharauis um povo pacífico vive diariamente numa prisão (cerca de 260.000 km²) a céu aberto.

Mohamed Bakka Fadel, conta-me que “nesse dia a maior parte dos cafés tiveram ordem para encerrar. As famílias teriam de ver a partida de futebol nas suas casas, através do canal Al Jazera, ou nos computadores.

Após o final do jogo, milhares de Saharauis saíram às ruas para festejar. Enquanto alguns repetiam o slogan: “one, two, three, vive l'Algérie”, outros aproveitaram o momento para se manifestarem contra a ocupação marroquina, e o seu direito à independência”.

Mas rapidamente a celebração se transformou num pesadelo.

A polícia de ocupação marroquina e paramilitares tinham preparado uma recepção demasiado dolorosa.

Os polícias marroquinos estavam por todo o lado, à paisana ou fardados. Tinham armas e disparavam indiscriminadamente balas de borracha e canhões de água. Estavam também os paramilitares que espancavam os Saharauis com bastões. Havia muitas pessoas desfalecidas e a sangrar caídas no chão. Os polícias continuavam a bater-lhes com bastões.

Sabah Azman Hamida, de 24 anos, morreu por ter sido atropelada por viatura das forças policiais de Marrocos
Sabah Azman Hamida, de 24 anos, morreu por ter sido atropelada por viatura das forças policiais de Marrocos

Uma jovem de 24 anos, Sabah Azman Hamida morreu devido a lesões muito graves após ter sido deliberadamente atropelada por um veículo das forças auxiliares ocupantes, e sem que lhe pudessem prestar auxílio uma vez que o hospital se encontrava encerrado.

Residências invadidas, jovens (alguns menores de idade) detidos arbitrariamente, alguns desaparecidos e dezenas de feridos.

Num constante desafio às Nações Unidas e aos seus princípios, Marrocos continua a exercer a pior das brutalidades contra os Saharauis que indefesos nada mais têm a fazer do que RESISTIR!

Resistir e viver uma vida sem futuro, de rumo incerto nos territórios ocupados da sua Pátria.

Com a cumplicidade de Espanha, de mãos dadas com a França e aos olhos da União Europeia (UE), Marrocos ignora tudo e todos, insistindo em manter o “status quo”, e impedindo os Saharauis do seu direito à autodeterminação.

Considerações:

- As técnicas usadas por Marrocos para reprimir o povo Saharaui nos territórios ocupados, são usadas há décadas e fazem parte de uma estratégia bem delineada para oprimir, matar e deter arbitrariamente os Saharauis.

- A MINURSO (Missão das Nações Unidas para o referendo no Sahara Ocidental) continua no terreno, sem poderes para monitorizar os flagrantes atropelos aos direitos humanos, o que perpétua o “status quo” e a intransigência marroquina.

- A última colónia de África não deixará de o ser enquanto e de uma vez por todas a UE não agendar com a maior celeridade possível, a data para o referendo, para que sejam os Saharauis a decidir democraticamente o seu destino.

Apelo:

Em meu nome e em nome de vários outros ativistas pró-saharauis, faço um apelo ao governo português para não importar produtos "roubados" do Sahara Ocidental e comercializados por Marrocos, uma vez que esta atitude perpétua a ilegal ocupação marroquina e consequentemente a violação dos direitos humanos, privando os Saharauis de escolherem o seu destino.

Faço ainda um apelo de carácter urgente às Nações Unidas para intervirem com a maior brevidade, fazendo com que Marrocos respeite a Carta das Nações Unidas, bem como a Declaração Universal dos Direitos do Homem em todos os seus artigos.

Artigo de Né Eme

Sabah Azman Hamida

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