Cavaco Silva não suscitou compaixão com as suas declarações sobre a sua alegada dificuldade em pagar todas as suas despesas, antes contestação. Mas podemos sempre perguntar: afinal que despesas tem o Presidente da República para que dez mil euros por mês brutos não cheguem? Mas é que afinal não são dez mil, são quase 13 mil euros brutos. Fora os outros rendimentos (Ler mais aqui).
Além das reformas de quase dez mil euros, o Presidente da República recebe ainda 2900 euros por mês para despesas de representação pelo cargo que ocupa. Assim, a Presidência assegura a Cavaco, durante os próximos quatro anos, os gastos com alimentação, habitação, médico e outras despesas pessoais.
O Orçamento da Presidência da República prevê uma verba de 4,5 milhões de euros para 2012 na rubrica representação da República. Um valor que diminuiu desde 2009 e que inclui, além das despesas de representação do Presidente, as remunerações com o gabinete de Cavaco e as Casas Civil e Militar e ainda as remunerações pagas ao pessoal dos gabinetes dos anteriores presidentes da República. Uma benesse que também Cavaco irá ter depois de sair de Belém.
A dias de terminar o primeiro ano do segundo mandato na Presidência da República, Cavaco Silva cometeu o erro que levou até Marcelo Rebelo de Sousa dizer, a propósito, que "Há dias em que uma pessoa não é feliz".
Em Guimarães, onde esteve para o arranque da Cidade Europeia da Cultura, o Presidente foi vaiado (ler mais aqui) e conheceu o sabor amargo da contestação social como não se lembrava desde o buzinão da ponte em 1994. Se nos anos 90 respondia a críticas com a célebre frase: "Deixem-me trabalhar", desta vez a Presidência da República opta pela estratégia do silêncio... envergonhado?
Cavaco queixa-se mas assinou o Orçamento que “tira a quem tem uma pensão de 600€, dois meses do seu salário para o qual descontou a vida inteira”
O coordenador da Comissão Política do Bloco, Francisco Louçã, lamentou esta manhã a "falta de espessura e estatura" para resolver os problemas das pessoas demonstrada pelos governantes portugueses.
"Os portugueses percebem que deste Governo ou de quem preside ao país, temos uma gravíssima crise de confiança: quem tem mais poder neste país é quem mais pensa em si próprio e menos pensa nos outros", afirmou Louçã, quando questionado sobre o primeiro aniversário da reeleição de Cavaco Silva para a Presidência da República.
Louçã assinalou que o início do segundo ano do segundo mandato de Cavaco Silva está já muito marcado pelas declarações que fez na sexta-feira sobre as suas pensões, "que são contraditórias com a sua campanha eleitoral".
"Na campanha eleitoral Cavaco Silva pediu o voto dos portugueses lembrando aos reformados que tinha sido ele a decidir na altura em que era primeiro-ministro o estabelecimento do 14º mês pago aos reformados", lembrou Francisco Louçã, que falava aos jornalistas à saída de uma reunião com a presidente do Instituto de Segurança Social.
"Um presidente, que acha que com 10 mil euros não pode pagar as suas contas, não se coibiu de assinar um Orçamento que o Governo lhe apresentou para tirar a quem tem 600 euros por mês, dois meses do seu salário para o qual descontou a vida inteira", frisou Louçã.
"O mais importante da política portuguesa é que todos percebemos que quem decide sobre o país, quem governa e quem preside ao país, tem um enorme menosprezo pelas dificuldades das pessoas e pela vida das pessoas", constatou.