Cavaco recebe mais 2900 euros por mês só para gastos pessoais

23 de janeiro 2012 - 13:24

Além das duas reformas, o Presidente da República, que se queixou de não ter dinheiro para despesas, ganha 2900 euros para gastos de representação. "Os portugueses percebem que deste Governo ou de quem preside ao país, temos uma gravíssima crise de confiança: quem tem mais poder neste país é quem mais pensa em si próprio e menos pensa nos outros", afirmou Francisco Louçã, esta manhã, em Lisboa.

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Segundo a declaração de rendimentos de 2009 entregue no Tribunal Constitucional, a soma das pensões recebidas por Cavaco Silva relativas ao trabalho universitário e ao Banco de Portugal somaram 140.601,81 euros, ou seja, 11.716 euros por cada um dos doze meses do ano. Foto maiqui maiqui/Flickr

Cavaco Silva não suscitou compaixão com as suas declarações sobre a sua alegada dificuldade em pagar todas as suas despesas, antes contestação. Mas podemos sempre perguntar: afinal que despesas tem o Presidente da República para que dez mil euros por mês brutos não cheguem? Mas é que afinal não são dez mil, são quase 13 mil euros brutos. Fora os outros rendimentos (Ler mais aqui).



Além das reformas de quase dez mil euros, o Presidente da República recebe ainda 2900 euros por mês para despesas de representação pelo cargo que ocupa. Assim, a Presidência assegura a Cavaco, durante os próximos quatro anos, os gastos com alimentação, habitação, médico e outras despesas pessoais.



O Orçamento da Presidência da República prevê uma verba de 4,5 milhões de euros para 2012 na rubrica representação da República. Um valor que diminuiu desde 2009 e que inclui, além das despesas de representação do Presidente, as remunerações com o gabinete de Cavaco e as Casas Civil e Militar e ainda as remunerações pagas ao pessoal dos gabinetes dos anteriores presidentes da República. Uma benesse que também Cavaco irá ter depois de sair de Belém.



A dias de terminar o primeiro ano do segundo mandato na Presidência da República, Cavaco Silva cometeu o erro que levou até Marcelo Rebelo de Sousa dizer, a propósito, que "Há dias em que uma pessoa não é feliz".

Em Guimarães, onde esteve para o arranque da Cidade Europeia da Cultura, o Presidente foi vaiado (ler mais aqui) e conheceu o sabor amargo da contestação social como não se lembrava desde o buzinão da ponte em 1994. Se nos anos 90 respondia a críticas com a célebre frase: "Deixem-me trabalhar", desta vez a Presidência da República opta pela estratégia do silêncio... envergonhado?

Cavaco queixa-se mas assinou o Orçamento que “tira a quem tem uma pensão de 600€, dois meses do seu salário para o qual descontou a vida inteira”

O coordenador da Comissão Política do Bloco, Francisco Louçã, lamentou esta manhã a "falta de espessura e estatura" para resolver os problemas das pessoas demonstrada pelos governantes portugueses.

"Os portugueses percebem que deste Governo ou de quem preside ao país, temos uma gravíssima crise de confiança: quem tem mais poder neste país é quem mais pensa em si próprio e menos pensa nos outros", afirmou Louçã, quando questionado sobre o primeiro aniversário da reeleição de Cavaco Silva para a Presidência da República.

Louçã assinalou que o início do segundo ano do segundo mandato de Cavaco Silva está já muito marcado pelas declarações que fez na sexta-feira sobre as suas pensões, "que são contraditórias com a sua campanha eleitoral".

"Na campanha eleitoral Cavaco Silva pediu o voto dos portugueses lembrando aos reformados que tinha sido ele a decidir na altura em que era primeiro-ministro o estabelecimento do 14º mês pago aos reformados", lembrou Francisco Louçã, que falava aos jornalistas à saída de uma reunião com a presidente do Instituto de Segurança Social.

"Um presidente, que acha que com 10 mil euros não pode pagar as suas contas, não se coibiu de assinar um Orçamento que o Governo lhe apresentou para tirar a quem tem 600 euros por mês, dois meses do seu salário para o qual descontou a vida inteira", frisou Louçã.

"O mais importante da política portuguesa é que todos percebemos que quem decide sobre o país, quem governa e quem preside ao país, tem um enorme menosprezo pelas dificuldades das pessoas e pela vida das pessoas", constatou.