Turismo

Estudo mostra que mais turistas não significa mais emprego

29 de outubro 2025 - 14:03

A partir da realidade catalã, uma investigação mostra que a criação de postos de trabalho graças ao turismo massificado vem a par com com salários mais baixos e a destruição de emprego em setores mais produtivos. Já para não falar noutros problemas como a sazonalidade.

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Turistas em Barcelona.
Turistas em Barcelona. Foto de Edgar Jiménez/Flickr.

A aposta económica no turismo de massa vem muitas vezes acompanhada pela ideia de que este, por um lado, conduziria diretamente à criação de emprego, por outro, levaria ao desenvolvimento das regiões. O estudo Do More Tourists Promote Local Employment? (Será que mais turistas promovem o emprego local?), divulgado esta segunda-feira, vem contestar esta narrativa.

As autoras, Libertad González, da Universidade Pompeu Fabra e Tetyana Surovtseva da Universidade de Barcelona, centram o seu estudo na realidade catalã. A sua análise da relação entre fluxos turísticos e mercado laboral local permite-lhes concluir que a criação de postos de trabalho no turismo vem a par com a destruição em setores mais produtivos.

Para além disso, estabelecem que “a chegada de mais turistas acaba por reduzir” não só o emprego mas também “os salários”.

No resumo da investigação pode ler-se assim que “um aumento exógeno dos fluxos turísticos leva a mais emprego na indústria do turismo para os trabalhadores em idade ativa a curto prazo, mas não aumenta o emprego total nas economias locais. O emprego total desce, na realidade, para os trabalhadores muito jovens e mais velhos, bem como para as mulheres em idade ativa. O aumento do emprego no turismo é compensado por uma queda do emprego (pouco qualificado) noutros sectores, especialmente na construção e na indústria”.

O território a partir do qual as autoras trabalham, a Catalunha, é um exemplo adequado da massificação do turismo. O ano passado, o número de turistas chegou aos 20 milhões, perto de três vezes mais do que os habitantes da região. Como o jornal Público espanhol salienta, os observatórios laborais têm vincado a baixa qualidade do emprego criado e a sua sazonalidade que enche as filas dos centros de emprego passado o verão. Há ainda outras “externalidades negativas” identificadas que passam pelo impacto ambiental, pela saturação dos espaços públicos, pelos problemas que causa aos residentes, pelos impactos sobre a oferta da habitação e a pressão sobre serviços públicos como transportes, centros de saúde, limpeza e segurança.

As advertências sobre os efeitos do “monocultivo turístico” vêm até de entidades como a Câmara de Comércio de Barcelona que, num relatório apresentado recentemente, destaca o desincentivo ao investimento noutros setores com retorno económico mais distante e que requerem investimentos mais avolumados.