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Catarina Martins: “A luta popular é o meu lugar”

Num discurso de abertura da Convenção em que procurou “tomar balanço para o futuro”, Catarina Martins falou da coerência do percurso do Bloco, acusou o PS de ser o “padrasto do populismo” e reafirmou a confiança nas lutas que crescem e na alternativa anti-conservadora que o Bloco protagoniza.
Foto de Ana Mendes.

Na sua última intervenção como coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins recusou tratar-se de uma despedida. “Termino um mandato, continuo a caminhar aqui. Como sempre. E se olho este percurso, muito mais do que balanço do passado, quero tomar balanço para o futuro”.

Por entre agradecimentos aos aderentes “por estes anos extraordinários”, houve referências aos fundadores do Bloco, a quem agradeceu por ”nunca terem hesitado nesse princípio de combate a todos os imperialismos em nome dos povos”, mas também a João Semedo e ao líder parlamentar bloquista Pedro Filipe Soares.

Catarina elencou algumas das lutas em que o Bloco procurou assumir um papel determinante na defesa dos direitos de quem trabalha. Como a das trabalhadoras das limpezas e dos cuidados, “a maioria mulheres negras, a maioria imigrantes, a exigir contratos”, dos trabalhadores das plataformas, de quem começou a trabalhar em criança “no longo caminho para garantir o direito de pensão aos 40 anos de trabalho”. Mas também as lutas que se traduziram em melhorias concretas na vida da população, como os manuais escolares gratuitos, os transportes públicos gratuitos para jovens e idosos ou os passes família. Ou a denúncia dos escândalos financeiros, “a pirataria das privatizações e os banqueiros e CEOs que prejudicaram o país”, lembrando que “era o Bloco de Esquerda que Ricardo Salgado tratava como o seu inimigo e tinha toda a razão. É uma honra para nós termos mostrado que o crime é crime e que foram banqueiros quem assaltou os bancos”.

Para Catarina, este foi um percurso marcado pela “coerência”, em nome da qual “promovemos e assinámos os acordos da geringonça, ajudámos a salvar o país da direita, e não nos submetemos nunca à ideia peregrina de que bastaria um “acordo de cavalheiros” para um compromisso de medidas”, sublinhou.

“Fomos unitários contra o sectarismo e nunca deixaremos de o ser, queremos toda a força da esquerda junta, porque não é demais para enfrentar a casta oligárquica que manda em Portugal”, garantiu.

O discurso também referiu a derrota eleitoral do ano passado, que “deixou feridas”. No entanto, garantiu que “não nos arrependemos da coerência”, pois “fizemos o que tínhamos de fazer e voltaríamos a fazer o mesmo enfrentamento com o Governo nos Orçamentos a propósito da saúde e dos direitos laborais”.

“O PS, com maioria absoluta, achou que chegara o seu momento cavaquista"

“Se agora estamos a recuperar força é por levarmos o país a sério e levarmos a sério o compromisso de quem confiou em nós”, prosseguiu Catarina, acusando António Costa de ter recusado qualquer acordo à esquerda em 2019 para dois anos depois provocar uma crise política e ter maioria absoluta. “Foi uma artimanha de que saiu vencedor. E agora não sabe o que fazer com a sua vitória e é consumido pela pior de todas as situações: o Governo pouco faz e não tem desculpa nenhuma, pediu todo o poder de uma maioria absoluta e num ano e meio desbaratou a confiança de boa parte dos seus eleitores”, sublinhou Catarina.

Sobre o momento político atual, Catarina afirmou que o PS “usa o aparelho do Estado, perde-se em guerras internas e Portugal assiste incrédulo a um governo paralisado e enredado nos seus próprios erros”, ao mesmo tempo que o país sente na pele “uma economia da desigualdade em que aumentam os lucros dos supermercados e o número de pessoas que não consegue sequer comprar o que comer”.

“O PS, com maioria absoluta, achou que chegara o seu momento cavaquista. E hoje encena confrontos vazios com a direita, enquanto lhe copia as políticas”, prosseguiu Catarina.

Da mesma forma, “ao negar as condições concretas do salário, do serviço público, da habitação, ao fazer dos serviços secretos um misterioso joguete, ao propor restrições constitucionais perigosas, o PS está a contaminar todo o debate democrático e a estender a passadeira ao regresso dos piores fantasmas do passado”, alertou, apelidando o PS de “padrasto de todo o populismo”.

Mas para enfrentar o atual estado de coisas, Catarina Martins manifestou confiança nas lutas que se desenvolvem e veem crescer o apoio popular, como é o caso da luta dos professores ou da “força das mais jovens gerações a ocupar as ruas e as escolas, em nome do clima e em nome da igualdade, o 8 de março que é a enorme maré feminista, as marchas do orgulho que levam as cores do arco-íris a todo o país, o grito antirracista que nem a pandemia travou, as manifestações pela habitação”.

“É aí que nos encontramos. Nas grandes mobilizações unitárias que juntam gente diferente, juntam urgências concretas, mostram que a esquerda é da praça e da rua, é povo que fala e tem voz forte. E vai crescer. Já está a crescer”, garantiu Catarina, concluindo que “essa força não quer saber dos jogos da direita, porque é a força anti conservadora, é a esquerda, a força da alternativa”. E é ali que continuará a estar a partir desta Convenção, pois “a luta popular é o meu lugar”.

 

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