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Catarina desafia PSD e PS a revelarem austeridade escondida
No comício do Bloco realizado no Largo do Intendente, em Lisboa, Catarina Martins começou por defender que esta quarta-feira foi “um dia de viragem na campanha”, ao tornar-se oficial em Bruxelas que o défice português em 2014 é igual ao de 2011, “depois de todos os cortes e sacrifícios”. “Hoje é o dia da prova do algodão e o programa da direita morreu”, acrescentou, registando a “atrapalhação” de uma direita que “não tem mais nada para mostrar” na campanha, e que fez Passos Coelho dar três respostas diferentes em menos de 24 horas a estes números do défice agora estimado em 7.2% do PIB.
Numa das reações de Passos Coelho, “ficámos a saber que o défice, quando é provocado pela banca até é bom porque rende juros”, prosseguiu Catarina Martins, lembrando em seguida que “quando nós dissemos que com o mesmo dinheiro que está no Novo Banco, os 4 mil milhões de euros, se podia pagar subsídio social de desemprego durante dois anos a todas as pessoas que estão em situação de desemprego, aí já não podia ser. Aí já não rendia juros. Aí os efeitos positivos na economia, das pessoas poderem comprar o que precisam, poderem responder às necessidades da sua vida, aí já nada interessava, porque o défice era ‘custe o que custar’”.
Das várias respostas de Passos Coelho ao aumento brutal do défice, Catarina Martins fez o resumo: “Ficámos a saber que o buraco do BES nas contas públicas não interessa nada porque é só contabilístico, até é bom porque rende juros, mas mesmo assim não nos permite fazer os pagamentos de dívida que estavam programados. Parece complicado? Se calhar é porque a direita não tem agora respostas…” Quanto a respostas à esquerda, Catarina Martins lembrou que “o PS que dizia que há vida para além do défice está desaparecido há muito”. “O Partido Socialista que conhecemos hoje é o que se comprometeu em Bruxelas com as mesmas metas do défice do que se comprometeram PSD e CDS”, acrescentou a porta-voz do Bloco. “E por isso, a pergunta é: se mantêm esse compromisso, quais são as medidas de austeridade que estão a preparar para o país?. O que estará a preparar para o país o centrão, que diz sempre que sim a Bruxelas e se comprometeu com défices impossíveis?”, questionou.
Mariana Mortágua: Privatização da PT foi uma “epopeia sobre o empreendedorismo”
A cabeça de lista do Bloco por Lisboa apresentou neste comício uma “epopeia sobre o empreendedorismo, protagonizada pelos melhores banqueiros, os mais bravos CEO’s e os poderosos políticos do Bloco Central”. E começou pelo fim, citando um dos protagonistas, o presidente da Altice, a nova dona da PT: “‘Eu não gosto de pagar salários. Eu pago o mínimo que puder’. É assim que acaba esta epopeia sobre as maravilhas da iniciativa privada em Portugal”, prosseguiu Mariana Mortágua, recordando alguns dos episódios da “epopeia” desde o início da privatização da Portugal Telecom, no governo de António Guterres: “lutas de titãs” entre Belmiro e Salgado, a venda da Vivo que nem impostos pagou, a fusão com o gigante da dívida brasileira, a Oi.
“Vejam só o quão empreendedora foi esta burguesia da Portugal Telecom, que desde 2000 conseguiu arrecadar 10 mil milhões de euros de dividendos sacados à PT”. Quando o BES levou a PT à bancarrota, “o trauma foi tal, que provocou amnésia na maior parte dos CEO’s deste país”. E no fim da história, o governo ficou ao lado dos grandes investidores para vender a PT à Altice. “A Altice é o espelho da mentira deste governo sobre a nova economia” ao assentar no endividamento, canibalizar a economia e trazer mais exploração”, como provam as suas experiências anteriores noutros países e as polémicas declarações de Patrick Drahi.
Helena Pinto: “Somos gente de verdade que quer resgatar a esperança de quem já perdeu a esperança no nosso país”
A dirigente e deputada bloquista Helena Pinto, que não se recandidata à próxima legislatura, trouxe a este comício uma intervenção com base no poema “Esta Gente / Essa Gente”, de Ana Hatherly, “que tem uma força imensa e fala do centro desta campanha do Bloco de Esquerda e do que andamos a dizer de Norte a Sul do país”.
“Fala da gente de verdade que é o lema da nossa campanha, gente que quer resgatar a esperança de quem já perdeu a esperança no nosso país”, concluiu Helena Pinto, apelando à conquista da confiança que se traduza no voto no Bloco de Esquerda e assim “empurrar a política do dia a dia para a esquerda, pois precisamos de mais esquerda”.
Shahd Wadi: “Direita usa negócios com Israel como arma eleitoral”
A intervenção da lusopalestiniana Shahd Wadi foi crítica dos governos europeus, tanto pela sua resposta de “tapar os ouvidos com blocos de cimento” à crise dos refugiados, como pela sua responsabilidade nos conflitos que provocam a fuga em massa de populações. “Alimentam guerras e fornecem armas, sem nunca se comprometerem com os valores europeus da solidariedade e paz. Pelo contrário, já falam em mais bombardeamentos atrozes”, sublinhou. Referindo-se à imagem que chocou o mundo, Shahd Wadi lembrou que “jazem no fundo do mar milhares de Aylans desconhecidos”, e que, tal como ele “há 67 anos muitas crianças palestinianas morreram quando as famílias foram obrigadas a apanhar o barco e a esperar até hoje por uma solução”, havendo muitos que “são já duplamente e até triplamente refugiados”.
Shahd Wadi diz que os crimes da ocupação israelita da Palestina têm vindo a intensificar-se, ao mesmo tempo que Israel “continua a ter tratamento preferencial, com a Europa a vender armas e Portugal a fazer negócios”. “Digo a quem se orgulha na sua campanha eleitoral de vender bovinos vivos a Israel que os palestinianos nem sequer como bovinos são tratados”, afirmou a candidata independente pelo Bloco, referindo-se a Paulo Portas, que na véspera visitara uma empresa agropecuária que exporta para Israel. Shahd Wadi defendeu a campanha de sanções e de boicote a Israel. “Quando fazemos negociações com o opressor estamos a financiar guerras e a ajudar a construir mais colonatos”, defendeu.
Jorge Costa: “Prioridade é combater voto útil e desilusão”
Este comício no centro de Lisboa, que também contou com um concerto de Benjamin e Memória de Peixe, teve início com a intervenção de Jorge Costa, apontando “o voto útil e a desilusão” como os dois principais inimigos do Bloco na campanha. “O primeiro já foi enfraquecido pela forma como foi confrontado pelo Bloco nesta campanha: nos debates televisivos, a Catarina Martins mostrou como o programa mais à direita que o PS apresentou algum dia a este país pode ser revelado na praça pública pela esquerda”, afirmou o terceiro candidato do Bloco por Lisboa, referindo-se à “flexibilização dos despedimentos, o congelamento das pensões e a manutenção do tabu da dívida” por parte do Partido Socialista.
Jorge Costa defendeu que o combate da campanha bloquista se concentre também no segundo inimigo: “a desilusão com a Europa que puniu a Grécia e vira as costas aos refugiados”, a desilusão com as promessas falhadas de Passos Coelho e Paulo Portas ou a desilusão com a resposta do PS aos protestos populares contra a troika, ajudando a prolongar o mandato do atual governo durante a crise política, através das negociações que também envolveram o Palácio de Belém.
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