A casa do vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi alvo de mandados de busca e apreensão na manhã de segunda-feira. Entretanto, foram extraídos dados dos computadores, telemóveis e tablets apreendidos.
Carlos Bolsonaro é suspeito de participar do esquema ilegal de espionagem montado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), com base na utilização do software First Mile, desenvolvido pela empresa israelita Cognyte (ex-Verint).
O filho de Jair Bolsonaro, que foi gestor das suas redes sociais quando este era candidato presidencial, foi o mentor da estrutura que ficou conhecida por “Gabinete do ódio”, criada para destruir reputações de inimigos e que espalhou fake news durante o mandato de Bolsonaro. Agora, a Policia Federal suspeita que as informações ilegais recolhidas a partir da Abin paralela destinavam-se a garantir conteúdos para as redes sociais e atingir os adversários.
Na semana passada, Alexandre Ramagem, e ex-diretor da Abin, foi alvo de busca e apreensão. O deputado federal pelo Partido Liberal do Rio tem uma relação próxima com os filhos do ex-presidente. Polícia federal de carreira, Ramagem trabalhou na segurança da campanha presidencial de 2018, tendo-se aproximado de Bolsonaro, que acabou por indicá-lo para a Abin. O ex-presidente também tentou nomear Ramagem para chefiar a Polícia Federal, no entanto, os seus propósitos foram contrariados pelo Supremo Tribunal Federal, que bloqueou a nomeação, por suspeita de desvio de finalidade.
“Sob a direção de Alexandre Ramagem, utilizaram ferramentas da Abin para serviços de contrainformação ilícitos e para interferir em diversas investigações da Polícia Federal, como, por exemplo, para tentar fazer prova a favor de Renan Bolsonaro, filho do então presidente Jair Bolsonaro”, lê-se na decisão do juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que autorizou as buscas.
“A utilização da Abin para fins ilícitos é, novamente, apontada pela Polícia Federal (PF) e confirmada na investigação, quando demonstra a preparação de relatórios para defesa do senador Flávio Bolsonaro”, escreve Moraes.
O juiz acrescenta que “ficou patente a instrumentalização da Abin para vigiar a promotora de Justiça do Rio de Janeiro e coordenadora da task force sobre os homicídios qualificados perpetrados em desfavor da vereadora Marielle Franco e o motorista que a acompanhava, Anderson Gomes”.
Entre aqueles que foram vigiados por uma organização criminosa infiltrada na agência estatal figuram, nomeadamente, os magistrados Gilmar Mendes e Alexandre de Moraes, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia e o ex-governador do Ceará Camilo Santana, atualmente ministro da Educação do governo do presidente Lula da Silva, do PT.
No âmbito da operação da PF que ocorreu na manhã de segunda, foi apreendido também um computador da Abin que estava na casa do militar Giancarlo Gomes Rodrigues, ex-assessor do deputado federal Alexandre Ramagem. A mulher de Giancarlo é funcionária da agência. A PF apreendeu o computador para periciar e aferir quem, de facto, fazia uso do equipamento.