Boris Kagarlitsky condenado a pena de prisão pela justiça de Putin

14 de fevereiro 2024 - 10:36

O intelectual marxista russo terá de cumprir cinco anos de prisão por ser crítico da invasão da Ucrânia. A Amnistia Internacional diz que é “um abuso flagrante da vaga legislação antiterrorista, utilizada como arma para suprimir a dissidência e punir um crítico do governo”.

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Boris Kagarlitsky. Foto das redes sociais.

Esta terça-feira, um tribunal militar de recurso condenou o sociólogo russo Boris Kagarlitsky a cinco anos de prisão numa colónia penal. O académico marxista já tinha feito críticas à invasão da Ucrânia mas foi um vídeo no Youtube, entretanto apagado, em que comentava a explosão da ponte da Crimeia que fez com que acabasse por ser condenado por “justificar publicamente o terrorismo”.

Limitava-se aí a dizer que, de um ponto de vista militar, se entendia porque é que o ataque à ponte que liga o território ocupado à Rússia tinha sido feito. Mas a procuradoria e os juízes consideraram que o objetivo tinha sido “reconhecer e emular a prática da intimidação como a forma correta para travar a operação militar especial”. A principal acusação, contudo, estava não no que era afirmado ao longo da intervenção mas no título irónico do vídeo: “Parabéns explosivos para Mostik, o gato”. Mostik, que significa ponte, é o nome de um gato verdadeiro que vivia na ponte e que a propaganda oficial tinha utilizado para promover a ideia de a Crimeia pertencer à Rússia.

A questão voltou à barra dos tribunais depois de um recurso do Gabinete da Procuradoria da República de Komi. Em primeira instância, em dezembro, o intelectual marxista de 65 anos fora multado em 600 mil rublos (cerca de 6.000 euros), o que este organismo considerou “excessivamente indulgente”.

A página informativa independente Mediazona informou entretanto que Kagarlitsky foi já detido.

O ativista tinha também fundado e era editor um site de esquerda, o Rabkor. É ainda diretor do Instituto da Globalização e Movimentos Sociais que o regime classificou em 2018 como “agente estrangeiro”, um rótulo aplicado a muitas das organizações independentes que não agradem a Putin. E ele próprio, em maio de 2022, foi também incluído na lista de “agentes estrangeiros”.

A Amnistia Internacional reagiu imediatamente através da sua diretora para a Rússia, Natalia Zviagina, que considerou o veredito “um abuso flagrante da vaga legislação antiterrorista, utilizada como arma para suprimir a dissidência e punir um crítico do governo. Ao visar Boris Kagarlitsky, um distinto sociólogo conhecido pela sua posição crítica contra as políticas governamentais, as autoridades russas estão a mostrar, mais uma vez, o seu ataque implacável a todas as formas de dissidência.”

Amnistia Internacional afirma ainda que quer a condenação quer a “natureza escondida do julgamento” providenciam “mais um exemplo flagrante do tratamento dado aos dissidentes políticos na Rússia”, sendo “um ataque ostensivo à liberdade de expressão com o objetivo de silenciar as vozes críticas através do medo e da repressão”.

A organização de defesa dos direitos humanos sublinha que não se trata de um “incidente isolado” mas é “parte de um esforço mais vasto e sistemático para sufocar a oposição e controlar o que pode e não pode ser dito na Rússia”.

Nestas circunstâncias, os promotores da petição Free Boris Kagarlitsky! voltam a apelar à subscrição do documento que tinha sido elaborado no final de julho. Esta, nascida no Reino Unido, reúne nomes com os antigos dirigentes trabalhistas Jeremy Corbyn e John McDonnell, académicos como Fredric Jameson e Etienne Balibar, artistas como o cinesta Ken Loach, o músico Brian Eno, o escritor Tariq Ali, o ator Mark Rylance ou o poeta e escritor Michael Rosen.

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