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Bloco quer leques salariais para travar desigualdades

À saída de uma reunião com trabalhadores da TAP, Catarina Martins deu a empresa como um bom exemplo da necessidade de leques salariais. Objetivo é evitar que os administradores possam ganhar num mês mais do que um trabalhador da mesma empresa ganha num ano.
Reunião entre dirigentes do Bloco e do SNPVAC este sábado. Foto Rodrigo Antunes/Lusa

Catarina Martins reuniu este sábado com dirigentes do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) acerca da situação na TAP e do polémico regime de privilégio na sua administração. À saída da reunião, a coordenadora bloquista lembrou que "quem trabalha na TAP já está com um ritmo de trabalho superior ao de 2019, que foi um ano de grande atividade", mas entretanto a empresa perdeu trabalhadores e mantém salários congelados, ou seja "os salários base estão a ser apanhados pelo Salário Mínimo Nacional".

"É normal que estes trabalhadores sintam que estão a ser desprezados por uma empresa que está nas notícias como pagando mais de meio milhão de euros a alguém que decide sair do conselho de administração a meio do mandato", afirmou Catarina, sublinhando a proposta de uma comissão parlamentar de inquérito à forma como a tutela política está a lidar com a TAP. Das respostas da véspera do ministro das Finanças a Mariana Mortágua no Parlamento, Catarina conclui que afinal Fernando Medina sabia as razões da saída de Alexandra Reis da TAP. "Pela primeira vez, Medina reconhece que sabia tudo menos do meio milhão de euros. Esforçou-se muito por não saber do prémio de meio milhão", ironizou a coordenadora do Bloco.

Para a coordenadora bloquista, esta comissão de inquérito "é uma exigência da democracia, da própria empresa e da intervenção pública", pelo que o PS "devia ser o primeiro interessado" em que ela se realize, até porque "tudo o que está escondido e tudo o que não está explicado cria uma situação muito complicada ao próprio Governo".

Ricardo Penarroias: "não existe só o episódio Alexandra Reis"

Também o presidente do SNPVAC, Ricardo Penarroias, afirmou aos jornalistas que "estamos totalmente de acordo que se faça a comissão de inquérito". E acrescentou que "não existe só o episódio Alexandra Reis, existem outros episódios que esta direção sindical sempre acusou da má gestão", caracterizada por "rigidez financeira por um lado e grande latitude e flexibilidade financeira para outras questões". Por isso, prosseguiu o líder do SNPVAC, "é preciso que haja uma investigação séria, transparente, que se apurem responsabilidades" porque "o caso não está fechado".

"Sabemos que alguém recebeu dinheiro e essa pessoa assumiu responsabilidades, houve alguém que devia ter sabido o que tinha acontecido e não sabia e assumiu responsabilidades e demitiu-se do seu cargo. Contudo, alguém pagou para alguém receber esse dinheiro e essa pessoa ainda não assumiu responsabilidades. E também houve uma entidade externa que redigiu o documento e até agora não assumiu responsabilidades", resumiu Ricardo Penarroias.

Bloco propõe imposição de leques salariais para combater desigualdades

Catarina Martins aproveitou a iniciativa para anunciar a proposta que o Bloco vai entregar no Parlamento para a imposição de leques salariais nas empresas. E deu a TAP como "um bom exemplo" da necessidade destes leques salariais, pois "Alexandra Reis ganhava um salário já de si milionário de 90 mil euros e passou para 200 mil a meio do seu mandato na mesma altura em que os trabalhadores da TAP tinham cortes salariais".

O caso da TAP está longe de ser uma exceção entre as grandes empresas, onde há conselhos de administração que aumentam muito os seus próprios salários "ao mesmo tempo que cortam, congelam ou fazem atualizações insignificantes aos salários dos trabalhadores".

"As maiores empresas portuguesas chegam a ter diferenças de salários em que num mês um administrador ganha mais do que um trabalhador da mesma empresa precisa de uma década para ganhar", resumiu a coordenadora do Bloco. O objetivo desta proposta "é que ninguém possa ganhar mais num mês do que um trabalhador da mesma empresa ganha num ano". Isso pode ser alcançado de forma faseada, mas deve ser obrigatório em empresas públicas e uma condição para empresas privadas que queiram ter concursos púbicos, ser fornacedores do Estado, ter algum tipo de contratação e financiamento público, resumiu Catarina, concluindo que os dados internacionais confirmam que "uma economia muito desigual é uma economia de pobres".

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