Bancos portugueses foram dos que mais pagaram dividendos em 2022

14 de dezembro 2023 - 17:12

O rácio de dividendos pagos pelos bancos portugueses aos seus acionistas em relação aos resultados de 2021 foi de 171%, só ultrapassados pelos bancos da Letónia e República Checa.

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banco Santander Totta
Santander é o banco privado em Portugal que mais dividendos vai distribuir este ano. Foto de Paulete Matos

A banca portuguesa bateu o recorde dos lucros de 2007, com cerca de três mil milhões de euros em 2022. Mas tal como nessa altura, em vez de reforçar os seus capitais próprios para prevenir um cenário de crise financeira, prefere distribuir os lucros em dividendos aos acionistas, deixando para os contribuintes a eventual fatura de um novo resgate. Isto apesar dos recentes avisos do FMI, que recomendou aos bancos que se abstenham de pagar dividendos e usem esse dinheiro para reforçarem as suas almofadas financeira. Mas os banqueiros nacionais dizem que os bancos estão "bem capitalizados" e que os acionistas têm de ser remunerados.

Portugal foi o terceiro país onde o rácio de dividendos em relação aos resultados de 2021 é maior, com 171%, apenas atrás dos 233% da banca da Letónia e dos 178% da banca da República Checa. Aqui ao lado, em Espanha, esse rácio foi de 50%, e na Grécia foi mesmo de 0%.

Os números são da Autoridade Bancária Europeia que aponta como razão para os elevados rácios "o pagamento extraordinário de dividendos dos bancos às suas ‘holdings’ estrangeiras". Segundo o Jornal de Negócios, a distribuição de dividendos e recompra de ações dos bancos europeus em 2022 atingiu 63 mil milhões de euros, acima dos 48 mil milhões que tinham planeado no início do ano. O rácio foi de 56%.

Este ano, graças ao aumento da margem financeira da diferença entre os juros pagos nos depósitos e cobrados nos créditos, os bancos portugueses voltam a lucrar como nunca e a pagar centenas de milhões em dividendos aos seus acionistas. O BPI anunciou dividendos de 284 milhões face a um lucro de 365 milhões. O Santander lucrou 568 milhões em 2022 e aprovou a distribuição de 508 milhões em dividendos. A Caixa, com lucros de 843 milhões no ano passado, vai entregar ao Estado 351 milhões em numerário e a o seu edifício sede no valor de 361 milhões. A exceção à regra é o BCP, que nos últimos dez anos só por duas vezes distribuiu dividendos, mas que promete voltar a pagá-los em 2024, e o Novo Banco, com lucros de 561 milhões em 2022 mas que continua impedido de distribuir dividendos enquanto receber ajudas do Estado.