Argentina

Avós da Praça de Maio encontram 140° neto sequestrado pela ditadura

09 de julho 2025 - 13:52

Homem nasceu em 1977, no centro clandestino La Escuelita, na cidade de Bahía Blanca, Os pais foram raptados quando a mãe estava grávida de cinco meses, deixando a irmã ainda bebé com vizinhos. Ela nunca deixou de procurar o seu irmão e tornou-se uma das dirigentes das Avós da Praça de Maio..

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Adriana Metz na conferência de imprensa das Avós da Praça de Maio.
Adriana Metz na conferência de imprensa das Avós da Praça de Maio.. Foto publicada na página Facebook da organização.

O movimento argentino das Avós da Praça de Maio anunciou, nesta segunda-feira, a descoberta do 140º neto. Trata-se de um homem nascido em 17 de abril de 1977, no centro clandestino La Escuelita, na cidade de Bahía Blanca, a 630 quilómetros de Buenos Aires, capital da Argentina. Seus pais, Graciele Alicia Romero e Raúl Eugenio Metz, nunca foram encontrados. Eles eram militantes contrários ao regime autoritário.

“Com a restituição do neto 140, confirmamos, uma vez mais, que estes netos e netas estão entre nós e que graças à perseverança e ao trabalho constante destes 47 anos de luta, eles continuarão a aparecer”, disse Estela de Carlotto, presidente da organização, em conferência de imprensa realizada em Buenos Aires. “O apoio da sociedade, que continua a fornecer informações sobre possíveis filhos e filhas de pessoas desaparecidas e a acolher quem tem dúvidas sobre a sua origem, demonstra que essa busca não pode ser solitária”, declarou.

As Avós da Praça de Maio chegaram até ao neto 140 a partir de uma informação anónima enviada ao grupo. Com auxílio da Comissão Nacional por Direito à Identidade (Conadi) e da Unidade Especializada para Casos de Apropriação de Crianças durante o Terrorismo de Estado (Uficante), a organização reuniu documentos para prosseguir as buscas.

Em abril de 2025, o homem foi contactado pelo Conadi. Por fim, um exame de DNA confirmou a identidade original, até então desconhecida por ele. “Hoje, damos boas-vindas ao filho de Graciela Aliceia Romero e Raúl Eugenio Metz, o neto 140″, celebrou Carlotto. “Damos graças às avós, por nos ensinarem que a busca é coletiva”, completou Adriana Metz, irmã do neto 140. Ela tinha pouco mais de um ano quando a sua mãe, grávida de cinco meses, e seu pai foram sequestrados por agentes da ditadura.

Adriana foi deixada com vizinhos da família, que entraram em contacto com outros familiares da criança. Dias depois, ela foi entregue aos avós paternos, com quem viveu até a adolescência. Ela participou da procura pelo irmão e é uma figura de referência dentro do movimento que busca por outros desaparecidos.

Em comunicado, as Avós da Praça de Maio relataram que a atual família do neto 140, bem como os familiares do casal sequestrado, foram notificados no último fim de semana e isso possibilitou o comunicado oficial, feito nesta segunda-feira.

“Cada neto confirma que o Estado terrorista sequestrou pessoas, as manteve ocultas em Centros Clandestinos de Detenção sob tortura, as assassinou e fez desaparecer os seus corpos. Que nesses campos de concentração existiam maternidades clandestinas, onde mulheres como Graciela Romero deram à luz em condições desumanas. Que houve um plano sistemático de apropriação de menores, condenando essas crianças a viverem na mentira e suas famílias biológicas a buscá-las indefinidamente”, sublinha o comunicado.

As Avós da Praça de Maio estimam que ainda há cerca de 300 casos de sequestro de crianças ainda não elucidados.

A organização de defesa dos direitos humanos Avós da Praça de Maio desempenha um papel crucial na Argentina em busca por justiça e defesa dos direitos das vítimas da ditadura militar.

Fundada em 1977, a organização é composta por mães, que posteriormente se tornaram avós, e buscavam informações sobre os seus filhos desaparecidos durante a ditadura militar argentina (1976-1983). Elas reuniam-se na Praça de Maio, em Buenos Aires, todas as quintas-feiras, vestindo lenços brancos na cabeça como símbolo de sua luta.


Com informações de Página 12. Editado por Maria Teresa Cruz e publicado no Brasil de Fato.

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