Wikileaks

Assange está em liberdade com acordo judicial

25 de junho 2024 - 11:10

O fundador da Wikileaks e a justiça norte-americana que o acusava ao abrigo da lei de espionagem fecharam um acordo que põe fim à sua prisão. A seguir rumará à Austrália, o seu país-natal.

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Julian Assange
Julian Assange a bordo do jato que o levou para a liberdade. Foto Wikileaks/X.

Ao fim de doze anos, repartidos entre a embaixada do Equador em Londres de 2012 a 2019, e em seguida a prisão inglesa de Belmarsh, onde esteve detido até esta segunda-feira, Julian Assange está a caminho da liberdade. Para isso teve de dar a volta ao mundo, tendo embarcado num jato privado em Londres com destino à ilha de Saipan, a maior das Ilhas Marianas do Norte, um protetorado norte-americano no Pacífico Ocidental,  a norte da Austrália.

É nesta ilha que será presente a um juiz para selar o acordo alcançado com a justiça norte-americana, que o acusava de vários crimes ao abrigo da lei de espionagem, arriscando passar décadas na prisão caso fosse extraditado para aquele país. O seu crime foi ter publicado os documentos secretos com informações militares e diplomáticas dos EUA, obtidos ilegalmente, e assim exposto alguns dos crimes de guerra das tropas de ocupação no Iraque e Afeganistão.

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Por entre notícias sobre a debilitação do seu estado de saúde, há poucas semanas Julian Assange tinha obtido uma rara vitória nos tribunais superiores britânicos, a  da possibilidade de recorrer da decisão de extradição. A próxima audiência estava marcada para o dia 9 de julho. A solidariedade com Assange e os pedidos para que os EUA desistissem das acusações aumentaram nos últimos meses e nos bastidores, com a intervenção decisiva da diplomacia australiana, de onde é natural, negociava-se um acordo para evitar que a extradição viesse a acontecer.

Esse acordo, segundo a imprensa internacional, consiste em Assange aceitar declarar-se culpado de uma das acusações, sendo em troca condenado a um tempo de prisão igual ao que já cumpriu em Inglaterra, deixando-o assim em liberdade. Assim que o juiz confirme o acordo, o fundador da Wikileaks rumará à Austrália, onde poderá encontrar-se pela primeira vez com os seus dois filhos mais pequenos fora dos muros de uma prisão.

A sua esposa, Stella Assange, disse à BBC4 que os últimos dias têm sido “um turbilhão de emoções” e que a primeira prioridade será ajudar Assange a voltar a ser saudável após ter passado cinco anos na prisão por causa de um “processo ultrajante, que criminaliza a publicação e a divulgação de informações que incriminam os Estados".

Para o editor da Wikileaks, Kristinn Hrafnsson, “este é o resultado de um longo, longo processo que se arrasta há algum tempo. Foi uma batalha difícil, mas agora o objetivo é que o Julian se reencontre com a sua família”, afirmou à agência PA Media.

Reações saúdam liberdade para Assange

Mal a notícia foi conhecida, não tardaram as reações de contentamento por ver o fim da perseguição ao homem que ganhou fama por expor os crimes de guerra das ocupações dos EUA no Iraque e Afeganistão, a começar por vários chefes de estado latino-americanos.

Um dos primeiros foi o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, felicitando-o e dizendo que “a prisão eterna de Assange e a sua tortura era um atentado contra a liberdade de imprensa à escala global”. “Denunciar o massacre de civis no Iraque por parte da ação bélica dos EUA foi o seu crime, agora o massacre repete-se em Gaza”, apontou ainda Petro, antes de convidar Julian e Stella a visitarem a Colômbia no âmbito de uma iniciativa “pela verdadeira liberdade”.

O presidente mexicano López Obrador também saudou a libertação de Assange, congratulando-se por “ao menos neste caso, a Estátua da Liberdade não ficou um símbolo vazio, está viva e contente como milhões em todo o mundo”. A referência é a um discurso de Obrador em fevereiro, quando propôs a propósito do caso de Assange, que os EUA transferissem a estátua para o México. Também o presidente venezuelano Nicolás Maduro veio a público mostrar alegria pela libertação de um homem que descreve como “um exemplo de coragem e valentia na batalha pela verdade”.

Em Portugal, a recém-eleita eurodeputada bloquista Catarina Martins saudou a libertação de Assange, lembrando que os crimes de guerra que divulgou há 14 anos “ficaram impunes, mas quem os denunciou (Assange e Manning) foi perseguido”. “Quem denuncia crimes deve ser protegido. Esta é uma boa notícia”, concluiu Catarina.