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Almaraz: Mobilização da opinião pública contra o nuclear é essencial

Durante a conferência “Almaraz - uma bomba-relógio aqui ao lado”, o deputado bloquista Pedro Soares afirmou que “o dossier Almaraz não está fechado” e frisou que “a produção de eletricidade a partir do nuclear é um obstáculo ao processo de transição energética”.
Foto do Ministério do Interior espanhol.

O deputado bloquista e presidente da Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, Pedro Soares, participou este sábado na Conferência internacional “Almaraz - uma bomba-relógio aqui ao lado”, promovida pelo município de Idanha-a-Nova, que contou ainda com a presença de Nuno Sequeira, da Quercus, António Minhoto, da Azu - Ambiente em Zonas Uraníferas, Joanaz de Melo, do GEOTA, Luísa Schmidt, investigadora do ICS, entre muitos outros, e a moderação da jornalista Fernanda Gabriel, correspondente da RTP no Parlamento Europeu, e do jornalista Diego Carcedo, da RTVE.

“O dossier Almaraz não está fechado”

“Ao contrário do que alguns estão interessados em fazer crer, o dossier Almaraz não está fechado”, sublinhou Pedro Soares durante a sua intervenção, sinalizando que “houve um acordo sobre a construção do ATI, que as autoridades portuguesas consideraram cumprir garantias de construção internacionais, mas a sua relação com o eventual prolongamento do funcionamento da central nuclear para depois de 2020 não ficou abordado em qualquer documento, nem ficou esclarecido”.

“O que podemos concluir é que o governo português aceitou, errada e contraditoriamente, a construção do ATI, mas manteve aberto a questão do fim da central, para o qual está mandatado unanimemente pelo Parlamento”, acrescentou o deputado do Bloco.

Conforme salientou Pedro Soares, “o prolongamento da vida da central de Almaraz aumenta de forma exponencial os riscos de acidente, com consequências dramáticas para populações, ambiente e territórios”: “Em caso de acidente, há fundadas dúvidas sobre a capacidade da Proteção Civil assegurar socorro e minimização dos efeitos”, advertiu, adiantando que “apesar de ter vasta experiência em incêndios florestais, nos últimos dias ficaram demonstradas graves fragilidades na proteção das populações”.

A Conferência internacional “Almaraz - uma bomba-relógio aqui ao lado” teve lugar em Monfortinho, concelho de Idanha-a-Nova.

“Numa situação de acidente nuclear junto à fronteira, em que não há experiência nem preparação, que garantias pode dar a Proteção Civil?”, questionou.

Lembrando que, “no mix de energia elétrica em Portugal, há perto de 60% de energia de origem renovável, enquanto que Espanha tem pouco mais de 40%””, sendo que “esta diferença significativa prende-se em primeiro plano com a existência de energia nuclear em Espanha”, Pedro Soares afirmou que “a produção de eletricidade a partir do nuclear é um obstáculo ao processo de transição energética, com grande prejuízo para o ambiente e para a progressão para um novo modelo de produção”. 

“O investimento nos dois reatores de Almaraz já foi amortizado. As empresas energéticas espanholas, Endesa, Iberdrola e a Gas Natural Fenosa, estão a faturar cerca de 1 milhão de euros por dia com Almaraz e estão a procurar evitar os custos elevados do desmantelamento da central. Atrasar a transição energética é uma estratégia para estas empresas, com o apoio do PP de Rajoy nas Cortes espanholas”, vincou.

Segundo o presidente da Comissão de Ambiente, Ordenamento do Território, Descentralização, Poder Local e Habitação, “a atitude das autoridades espanholas sobre Almaraz, mas também sobre a abertura das minas de urânio em Retortillo (Salamanca), perto do concelho de Almeida, mina a confiança entre os dois Estados ibéricos”.

“A fuga a prestar informações às autoridades portuguesas sobre iniciativas com evidentes impactes transfronteiriços é inadmissível e contraria as normas internacionais sobre a matéria”, referiu Pedro Soares, acrescentando, por outro lado, que “o governo português não tem tido firmeza suficiente pra tornar esta situação evidente perante o governo espanhol, ao contrário da Assembleia da República, que tem manifestado grande unidade das forças partidárias contra a construção do ATI e o prolongamento da central de Almaraz”.

Para o deputado, “a mobilização da opinião pública é essencial”: “Apesar do bloqueio dos principais órgãos da imprensa espanhola ao debate sobre o nuclear, realizou-se uma importante manifestação em Madrid, no passado dia 10, convocada pelo MIA - Movimento Ibérico Antinuclear”.

O presidente da CM de Idanha-a-Nova mostrou-se entretanto disponível para vir a apoiar um grande concerto antinuclear, pelo encerramento de Almaraz, a ter lugar numa localidade junto da fronteira, bem como a promover a distribuição de pastilhas de iodo pela população com informação sobre os riscos de acidente nuclear.

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