O aeroporto de Schiphol, que serve a cidade de Amsterdão, anunciou que pretende eliminar os voos noturnos até 2025 e proibir os jatos privados em certos períodos horários. Em linha com as metas do Acordo de Paris, a medida pretende reduzir as emissões de CO2 mas também reduzir a poluição sonora, uma das principais razões de queixa das populações a viver nas proximidades deste grande aeroporto europeu.
"Temos pensado muito sobre o crescimento, mas muito pouco sobre o seu impacto. Temos de ser sustentáveis para os nossos trabalhadores, o ambiente local e o mundo. Compreendo que as nossas escolhas tenham um impacto significativo para a indústria de aviação, mas elas são necessárias", afirmou o CEO do aeroporto, Ruud Sondag, em comunicado. Seguir-se-á agora um período de consultas com as companhias aéreas para se adaptarem às novas regras.
Este responsável diz que o fim dos voos noturnos - hoje em dia cerca de dez mil por ano - irá reduzir em 54% os casos de distúrbios graves do sono, o que corresponde a 13 mil pessoas que vivem nas imediações de Schiphol. Quanto aos que se queixam de "incómodo grave" com a passagem dos aviões, as mudanças devem resolver a situação para 17 mil pessoas (16%).
A proposta prevê proibir a descolagem de voos comerciais e de carga entre a meia-noite e as 6h e as aterragens entre a meia-noite e as 5h. Mas também limitar o número de voos agendados para as horas próximas desses limites
No que diz respeito à limitação dos voos privados, o objetivo passa por reduzir as emissões de CO2, proibindo aterragens e descolagens durante certos períodos horários. O aeroporto diz que estes voos emitem vinte vezes mais CO2 do que um voo comercial e que entre 30% a 50% dos voos privados têm como destino locais turísticos como Ibiza, Cannes e Innsbruck, para os quais existe oferta abundante por parte das companhias aéreas. O grupo Scientist Rebellion dos Países Baixos saudou a decisão como um "bom primeiro passo" na luta contra os jatos privados e a desigualdade das emissões poluentes excessivas.
O aeroporto pretende também apertar as regras para que os aviões mais antigos e barulhentos deixem de utilizar as suas instalações. E anunciou o abandono do plano de ampliação já aprovado pelo Governo para construir mais uma pista. Em vez desse investimento, o aeroporto pretende destinar 10 milhões de euros por ano a medidas de mitigação dos impactos negativos, como o isolamento acústico das casas.
O capital do Royal Schiphol Group, que detém a gestão do aeroporto de Amesterdão, é detido em quase 70% pelo Estado, e também pelo grupo Aéroports de Paris (com 8% do capital) e as autarquias de Amesterdão (20%) e Roterdão (2%).
Em Portugal, foi em dezembro do ano passado que o Bloco de Esquerda levou a debate no Parlamento um projeto de lei para limitar a aterragem e descolagem de jatos privados. "Num momento em que o mundo tem de responder ao flagelo das alterações climáticas, os super-ricos não podem ter um privilégio de super-poluição", afirmou na altura Pedro Filipe Soares. Mas a proposta bloquista foi chumbada pelo PS, PSD, Chega e Iniciativa Liberal, com a abstenção do PCP.