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146 dias depois, argumentistas de Hollywood chegam a pré-acordo com os patrões

A equipa negocial do sindicato dos argumentistas classifica o resultado das negociações como “excecional”. Em Hollywood, continuará a greve dos atores. E agora os atores que dão a voz aos jogos de vídeos podem vir a juntar-se-lhes.
Atore e argumentistas juntos na luta. Foto da WGA.

Foram 146 dias de greve dos argumentistas de Hollywood até que algumas das exigências que os patrões, representados pela Alliance of Motion Picture and Television Producers, diziam ser impossíveis de aceitar passassem a constar do texto do pré-acordo assinado com o Writers Guild of America.

Os detalhes não são ainda conhecidos e o pré-acordo terá de ser ratificado em votação primeiro pela direção sindical, depois pelos 11.500 argumentistas representados pelo WGA mas o comité negocial considera desde já o resultado obtido como “excecional”. Entre os “ganhos significativos e proteções” para os argumentistas, estão muitas das suas reivindicações, nomeadamente aumentos salariais, pagamentos chamados “residuais” pela transmissão do conteúdo nas aplicações de streaming e novas regras para o uso de inteligência artificial no setor.

Se a votação for favorável ao acordo, terminará uma greve que dura desde 2 de maio e que afetou grande parte das maiores produções de filmes, de séries de televisão e de programas de late-night talk com guião. Mas este acordo não garante que estes conteúdos voltem a ser feitos, uma vez que se mantém a greve dos 160.000 atores representados pelo SAG-AFTRA desde 14 de julho e que não estão abrangidos por esta negociação. De acordo com Kevin Klowden, economista do Milken Institute, citado pela Reuters, o custo de ambas as greves estará a saldar-se em cinco mil milhões de dólares, tendo um impacto significativo em vários negócios associados às produções.

Atores que fazem videojogos podem juntar-se à greve dos seus colegas dos filmes e séries

Os sócios do mesmo sindicato autorizaram entretanto que a direção sindical declare greve dos atores que fazem videojogos no caso das negociações para um próximo acordo coletivo de trabalho falharem até à próxima quinta-feira. Estas negociações arrastam-se há quase um ano.

A votação no SAG-AFTRA foi clara, com 98,3% votos a favor, apesar de só terem votado 34.687 sócios, 27.47% do universo eleitoral.

Fran Drescher, presidente deste sindicato, vinca que “é hora das empresas de videojogos pararem de jogar e levarem a sério a possibilidade de chegar a um acordo sobre este contrato”. Também aqui a proteção contra a introdução da inteligência artificial no setor é uma das principais preocupações dos trabalhadores, a par das questões salariais, dada a inflação, e “precauções básicas de segurança”.

Neste último caso, é uma reivindicação que se aplica aos artistas que usam sensores em cena de forma a ajudar que os criadores de jogos desenvolvem os movimentos das personagens. Em muitos casos, realizam cenas consideradas perigosas. O ator Ashly Burch explica à Reuters que para além das proezas físicas têm de atuar, memorizando diálogos etc., já que o objetivo é não só reconhecer movimento mas sincronizá-lo com a voz.

Sobre algumas destas questões, Cissy Jones, uma das vozes mais reconhecíveis do setor, explica à mesma agência noticiosa que os atores que fazem videojogos não tiveram nenhum aumento nos últimos quatro ou cinco anos, enquanto a inflação aumentava. Como o resto dos seus colegas, também ela está preocupada com a entrada da Inteligência Artificial nas produções. A atriz explica que entrou “em pânico” quando há um ano e meio viu um vídeo no TikTok com uma versão da sua voz criada por IA sem o seu consentimento, pois “este é o meu único trabalho agora. É como alimento os meus filhos e os levo à escola”.

Estes trabalhadores não deixam de salientar que esta é uma indústria multimilionária, esperando-se que irá gerar rendimentos de 218,8 mil milhões de dólares no próximo ano, enquanto pouco dinheiro lhes chega aos bolsos.

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