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Sócios do Borussia Dortmund impõem código de valores

Os adeptos querem que continuem a ser os sócios a mandar no clube e não interesses privados e pretendem impor cláusulas de responsabilidade social e ambiental. No Bayern de Munique, negócios com o Qatar incendiaram a assembleia anual de sócios.
Adeptos do Borussia de Dortmund. Foto de Peter Fuchs/Flickr.
Adeptos do Borussia de Dortmund. Foto de Peter Fuchs/Flickr.

Na reunião geral anual do clube de futebol alemão Borussia de Dortmund de novembro, os sócios decidiram a criação de um código básico de valores que inclui a primazia da decisão dos sócios, a proibição do clube de mudar de nome ou da realização dos jogos caseiros fora da sua cidade natal.

Segundo o Tribune, não houve sequer um voto contra esta moção que estabelece ainda a prioridade de participação nas competições nacionais, uma cláusula pensada devido às recorrentes propostas de uma super-liga europeia.

Outro caminho que se tenta prevenir é o do domínio dos negócios sobre a decisão dos sócios. Por isso, do documento proposto faz parte a consolidação da regra 50%+1 que dita que a maioria dos direitos de voto sobre os destinos do clube pertencem aos sócios. Esta está incluída nas regras gerais da Bundesliga, o escalão principal do futebol alemão mas, ainda assim, os sócios do Borussia fizeram questão de a vincar.

Ao contrário de outras ligas europeias, na Alemanha este princípio vigora desde 1998. Nessa altura, os clubes deixaram de ser propriedade exclusiva de associações de membros geridas de forma não lucrativa, permitindo-se a entrada de investimento privado mas em posição minoritária.

Contudo, há pressões para que isto mude. O protagonismo ganho pelo RB Leipzig, acusado de ser uma fachada para a marca Red Bull que subverte a regra dos 50%+1 restringindo a admissão de sócios, e pelo Hoffenheim que estará ao serviço dos interesses do multimilionário Dietmar Hopp, causou preocupação.

Assim, há adeptos a organizar-se como Manuel Gaber, responsável de iniciativas como o Unser Fußball (o nosso futebol) e o 50+1 bleibt! (50+1 fica!). Este salienta a importância da medida para salvaguardar que investidores com interesses estranhos aos clubes imponham a lógica do negócio. Também o adepto da equipa de Dortmund, Steve Palmer, sublinha, ao mesmo jornal britânico, a importância da regra. Não fora ela, e “não teria sido possível” avançar com este código. Para ele, “o clube é dos adeptos” e é “uma parte massiva da cidade e da sua cultura”.

O código de valores inclui ainda a vinculação do clube a princípios de responsabilidade social e ambiental, que o preço dos bilhetes seja acessível e a salvaguarda das cores e emblema do clube. Esta vem na sequência da polémica gerada esta época quando, num jogo da Liga dos Campeões contra o Besiktas, a equipa jogou com um equipamento da Puma que menorizava o símbolo do clube em detrimento desta marca.

O processo de discussão está longe de terminar. Depois desta primeira votação, constituiu-se um grupo de trabalho que apresentará uma versão final. Finalmente, a decisão voltará a estar nas mãos dos cerca de 157.000 sócios do clube.

O Bayern de Munique e o Qatar

A semana passada, outra Assembleia Geral do futebol alemão foi notícia, desta feita não pela unidade mas pela polémica. Alguns sócios do Bayern de Munique tentaram levar a votação uma moção para acabar com as ligações comerciais do clube com o Qatar, nomeadamente com a companhia aérea estatal, devido às violações de direitos humanos perpetradas por este país. O presidente, Herbert Hainer, não permitiu que a moção fosse votada e acabou com a reunião abruptamente. Muitos adeptos não gostaram, pediram a sua demissão e gritaram contra a direção: “nós somos o Bayern, vocês não”.

O advogado Michael Ott tem sido o rosto da proposta de acabar com as ligações ao Qatar. Ao Deutsche Welle declarou que “já não se consegue sentir orgulho nos sucessos quando se sabe dos fardos e compromissos com que são alcançados. Se se sabe que este dinheiro vem do Qatar e é associado com graves violações dos direitos humanos, se é claramente dinheiro de sangue, então o sucesso associado a ele está manchado e, na minha opinião, é algo de que nos devemos envergonhar”.

Já no último jogo contra o Freiburg esta questão tinha sido colocada por uma faixa dos adeptos que mostrava o CEO Oliver Kahn e o presidente Hainer envolvidos por notas a colocar roupas manchadas de sangue numa máquina de lavar com a legenda: “lavamos tudo por dinheiro”.

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