Pela primeira vez, centenas de claques de futebol de 150 clubes europeus juntaram-se num apelo aos clubes, à UEFA, às federações e aos governos para impedirem o regresso das competições. Para além de Itália, o manifesto tem a subscrição de grupos de adeptos de França, Espanha, Suíça, Roménia, Bulgária, Alemanha e também de Portugal - a Torcida Verde, afeta ao Sporting - e apela àquelas entidades para darem ouvidos aos adeptos e não “aos abutres dos negócios”.
Para estas claques de futebol, unidas pela hashtag “NoFootballWithoutFans”, o público e os adeptos são por definição o elemento essencial do desporto popular, pelo que exigem a manutenção da interrupção das competições “até que volte a ser possível encher os estádios sem que isso represente um risco para a saúde pública”.
Os grupos de “ultras” defendem que o principal e único objetivo deve ser continuar a proteger a saúde de todos, alertando que as movimentações em torno do regresso das competições são um sinal de que “uma vez mais a supremacia do dinheiro espezinha o valor da vida humana”.
Desde sempre críticos do negócio milionário em que se transformaram as principais competições, insufladas com o dinheiro dos direitos televisivos, estes adeptos temem que o seu desporto favorito se transforme definitivamente num espetáculo para consumo em frente ao ecrã. “Lutaremos juntos para voltar a estar ombro a ombro nas bancadas, para partilhar alegrias e tristezas, para cantar pelo que amamos”, conclui o manifesto.
Para a Torcida Verde, “esta trágica pandemia demonstrou que o futebol que se desenha para o futuro será um EXCLUSIVO espectáculo televisivo”. Esta claque portuguesa afirma que o regresso das competições “denota antes de tudo, uma total insensibilidade pela condição humana”.
“No mundo do futebol negócio, desde há muitos e muitos anos, temos a consciência que o futebol e os clubes foram capturados pelos interesses dos agentes dos jogadores, comissionistas, fundos de investimento... e das televisões, com os adeptos no papel de consumidores. Mas consumidores sem quaisquer direitos!”, refere esta claque no seu site, acrescentando que “há décadas” vem alertando sobre este perigo à beira de se concretizar.
Receio dos jogadores e crítica dos adeptos não demovem os "donos da bola" de tentar reatar competições
A primeira competição de futebol a regressar será a Bundesliga alemã já nos próximos dias. No Estado espanhol, os dois clubes bascos que iriam disputar a final da Taça do Rei - Atlético de Bilbau e Real Sociedad - já fizeram saber que se recusam a fazer o jogo à porta fechada. Mas a Liga de clubes espanhola mantém a intenção de regressar o campeonato a 12 de junho, tendo agora avisado os clubes para reforçarem a segurança dos estádios para prevenir eventuais protestos dos adeptos contra o reatar das competições.
Em Portugal, o reinício da Primeira Liga de futebol foi adiado para 4 de junho, mas a preocupação dos jogadores está a aumentar à medida que se sucedem os casos de contágio com a covid-19. A situação agravou-se quando tomaram conhecimento do Código de Conduta da DGS. Logo no primeiro ponto, o documento diz que os intervenientes assumem o risco de infeção "e todas as eventuais consequências clínicas da doença e do risco para a Saúde Pública".
Sem qualquer seguro que os proteja contra esta doença e sem "disponibilidade dos empregadores e seguradores para estabelecer um alargamento da cobertura de sinistros" existente, o Sindicato de Jogadores exige uma "resposta imediata" da Liga de Clubes, propondo a celebração de um novo seguro com esta finalidade.