Resultados das eleições locais e regionais no Reino (des)Unido

08 de May 2021 - 11:34

Conservadores vencem em Inglaterra, SNP na Escócia e Labour em Gales. Os resultados mostram as contradições existentes entre estas três nações constituintes no Reino Unido, a que se junta a conturbada Irlanda do Norte, que não foi a votos. Por Jorge Martins.

porJorge Martins

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Foto de RachelH_, Flickr, Creative Commons.

As eleições para alguns Conselhos Regionais e Locais em Inglaterra e para os Parlamentos autónomos da Escócia e de Gales mostraram resultados contraditórios, mostrando as contradições existentes entre estas três nações constituintes no Reino Unido, a que se junta a conturbada Irlanda do Norte, que não foi a votos.

Ainda temos apenas resultados parciais, devendo os números finais ser conhecidos durante este sábado.

Na Inglaterra, decorreram as eleições para eleger o “mayor” e a Assembleia da Grande Londres, os “mayors” de algumas outras áreas metropolitanas, os Conselhos dos condados e distritos ou das autoridades unitárias regionais, resultantes da fusão daquelas duas entidades.

Aqui, os conservadores, do primeiro-ministro Boris Johnson, obtiveram uma vitória clara e os trabalhistas uma derrota significativa. Por seu turno, os liberal-democratas tiveram pequenos avanços e recuos, embora, no balanço final, registem ligeiras perdas no número de conselheiros eleitos. Já os Verdes tiveram uma prestação positiva, ganhando vários lugares, um pouco por todo o território. Em contrapartida, o partido de extrema-direita UKIP praticamente desapareceu, enquanto o Reform UK, sucessor do Partido do Brexit, teve resultados residuais. Verificou-se, ainda um aumento do número de conselheiros independentes eleitos e, em menor grau, por associações de residentes (equivalentes aos nossos movimentos de cidadãos).

Assim, neste momento, apuradas 76 dos 143 conselhos em jogo, os conservadores controlam 31 conselhos, dispondo de 1154 conselheiros, contra 23 e 994 nas últimas eleições, respetivamente. Por seu turno, os trabalhistas dominam 32 e elegeram 791 conselheiros, quando, no anterior ato eleitoral, detinham a maioria em 36 e 958, respetivamente. Já os liberais-democratas controlam um conselho e têm 226 eleitos, uma descida face aos 253 que detinham. Há, ainda, 12 conselhos onde não existe maioria absoluta, o que, em Inglaterra, é designado por “No Overall Control” (NOC), sendo a eleição do presidente e sua vereação dependente de acordos pós-eleitorais. Antes, havia 16 nestas condições.

As restantes forças políticas não obtiveram o controlo de nenhum conselho. Ao invés, os Verdes obtiveram, para já, 56 lugares, contra os 20 anteriores. Por seu turno, o UKIP perdeu todos os 17 conselheiros que elegera anteriormente, enquanto o Reform UK apenas ganhou dois mandatos. Já outros partidos detêm três, contra os quatro de antes. Por fim, foram eleitos 105 independentes, mais cinco que nas últimas eleições, e 29 através das associações de residentes, mais oito.

Mas o resultado mais marcante foi o triunfo conservador na eleição parcial de Hartlepool. Após a renúncia do deputado trabalhista eleito em 2019, foi necessário escolher quem o iria substituir. Aquela cidade do Nordeste industrial, que constitui uma circunscrição desde 1974, encontrava-se na posse do Labour desde aí. Contudo, nas últimas legislativas, os trabalhistas obtiveram 37,7% dos votos, contra 28,9% dos conservadores e 25,8% do Partido do Brexit (BP). Agora, os Tories obtiveram 51,9%, ficando-se o Labour pelos 28,7%, enquanto o Reform UK, sucessor do BP, não foi além de 1,2%, o mesmo que Verdes e LibDem. Uma candidata independente obteve quase 9,7% captando parte do voto de trabalhistas descontentes.

Este resultado, bem como o claro triunfo conservador no Conselho Regional da área (Tees Valley) e os avanços destes em zonas com características mostra uma perda do apoio da base operária trabalhista tradicional, muita dela apoiante do Brexit, que se dirigiu primeiro para a direita radical e, agora, para os conservadores de Boris Johnson.

Entretanto, na Escócia, os independentistas do Partido Nacional Escocês (SNP), da primeira-ministra Nicola Sturgeon, arrasaram nas eleições dos círculos uninominais na eleição para o Parlamento escocês. Assim, apuradas 48 das 73 circunscrições de voto maioritário, o SNP venceu em 39, mais três que em 2016. Das restantes, os liberal-democratas conquistaram quatro (o mesmo que no último ato eleitoral), os conservadores três (menos duas) e os trabalhistas duas (menos uma).

Apesar destes resultados, ainda não é certo que o SNP consiga uma maioria absoluta, já que 56 mandatos são compensatórios, atribuídos por escrutínio proporcional nas oito regiões em que se divide a Escócia. Logo, na alocação dos lugares, serão descontados os eleitos nos círculos uninominais. Será curioso ver a votação dos Verdes Escoceses, que são, igualmente, defensores da independência, e que quase não se apresentaram nos círculos maioritários, mas podem ultrapassar os 10% na votação proporcional.

Em todo o caso, é certo que haverá uma maioria parlamentar pró-independência, que pressionará Londres para um segundo referendo sobre aquela.

Por fim, em Gales, os trabalhistas, que governam desde o estabelecimento da autonomia galesa, aguentaram as suas posições, apesar do desafio dos conservadores e dos independentistas do Plaid Cymru (PC). Assim, apuradas 40 circunscrições uninominais, o Labour conquistou 27, as mesmas de 2016, os conservadores oito (mais duas) e o PC cinco (menos uma). Por seu turno, os liberal-democratas perderam a única que detinham.

Apesar destes resultados, os trabalhistas não deverão obter a maioria absoluta. É provável que os conservadores melhorem os seus resultados, em parte à custa do UKIP, que obteve 13% nas últimas eleições e agora quase desapareceu. Por seu turno, o PC deverá manter as suas posições, quiçá melhorando um pouco, enquanto os LibDem deverão ficar fora do Parlamento, onde deverá entrar o Partido Abolir a Assembleia de Gales (AWAP) e ao qual poderão aceder os Verdes.

Daremos, entretanto, a informação sobre os resultados finais.

Jorge Martins
Sobre o/a autor(a)

Jorge Martins

Professor. Mestre em Geografia Humana e pós-graduado em Ciência Política. Aderente do Bloco de Esquerda em Coimbra