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Paula Rego (1935-2022)

Morreu a pintora Paula Rego, esta quarta-feira em Londres, aos 87 anos. “Pintora da matéria de que são feitos os sonhos e os pesadelos, as mulheres e a vida”, escreveu Catarina Martins nas redes sociais.
Paula Rego, 17 de novembro de 2016 – Foto de José Coelho/Lusa (arquivo)
Paula Rego, 17 de novembro de 2016 – Foto de José Coelho/Lusa (arquivo)

A pintora Paula Rego morreu na manhã desta quarta-feira em Londres. Era uma das mais premiadas artistas portuguesas a nível internacional. Segundo o galerista Rui Brito, citado pela Lusa, a pintora "morreu calmamente em casa, junto dos filhos".

Maria Paula Figueroa Rego nasceu em 26 de janeiro de 1935, em Lisboa, estudou nos anos 60 na Slade School of Art em Londres, onde se radicou nos anos 70. Em 2009, foi inaugurado um museu que acolhe parte da sua obra, a Casa das Histórias, em Cascais.

Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian para fazer pesquisa sobre contos infantis, em 1975, e em Londres viria a conhecer o futuro marido, o artista inglês Victor Willing, cuja obra Paula Rego exibiu por várias vezes na Casa das Histórias, em Cascais.

Em 1989, foi galardoada com o Prémio Turner e em 2013 com o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, tendo sido distinguida com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada em 2004. Em 2010, recebeu da Rainha Isabel II a Ordem do Império Britânico com o grau de Oficial, pela sua contribuição para as artes. Em 2019, recebeu a Medalha de Mérito Cultural do Governo de Portugal.

Catarina Martins: “Ninguém fica indiferente à obra de Paula Rego”

Catarina Martins destaca que a artista foi “pintora da matéria de que são feitos os sonhos e os pesadelos, as mulheres e a vida”.

“Paula Rego tem um lugar na história da arte já conquistado e internacionalmente reconhecido já há muitos anos. Essa é uma apreciação internacional que só nos deve orgulhar”, disse Catarina Martins à agência Lusa em reação à morte da pintora Paula Rego.

Para a coordenadora bloquista, “ninguém fica indiferente à obra de Paula Rego”, na qual “há também um empenhamento muito grande no que é a própria condição da mulher e no que é Portugal”.

“Desde a sua crítica à ditadura, a sua crítica ao conservadorismo e ao moralismo bafiento e as imagens às vezes tão cruéis, às vezes com murros no estômago sobre as mulheres e a sua condição, são em si uma parte do que foi a construção de uma imagem de mulher emancipada e acho que a Paula Rego é também, desse ponto de vista, uma feminista de referência”, acrescentou Catarina.

Da Casa das Histórias à exposição na Tate Britain

As histórias, reais ou imaginadas, acompanharam a vida da pintora Paula Rego, um fascínio que começou na infância, quando a tia lhas contava, e inspirou os seus quadros, reconhecidos a nível mundial, assinala a Lusa. "[Com as histórias] pode-se castigar quem não se gosta e elogiar quem se gosta. E depois inventa-se uma história para explicar tudo", comentou, um dia, na inauguração de uma das suas exposições, no seu museu, em Cascais, ao que chamou exatamente Casa das Histórias.

O valor internacional da sua obra evidenciou-se sobretudo em 2015 com a venda, num leilão, em Londres, da obra "The Cadet and his Sister" (1988) (“O cadete e a sua irmã”, em tradução do inglês), por 1,6 milhões de euros, tornando-se um novo recorde da artista portuguesa. A data da obra assinala um importante acontecimento na vida pessoal da pintora na década de 1980, pela morte do marido, o também artista Victor Willing (1928-1988), de esclerose múltipla.

Em 2021, conseguiu tornar real um dos seus maiores sonhos como artista: expor no museu Tate Britain, em Londres, uma casa de exposições que sempre viu como um baluarte masculino. Ali apresentou uma exposição retrospetiva - com mais de 100 obras dos seus 60 anos de carreira - um feito simbólico que Paula Rego conquistou, já que sempre se tinha sentido discriminada por não poder ali levar a sua obra, sendo mulher e estrangeira.

Acabou por ser a maior a mais completa exposição de Paula Rego no Reino Unido, incluindo, além da pintura, esculturas, colagens e desenhos, desde os anos 1950, até aos mais recentes, incluindo a série "Mulher Cão", dos anos 1990, e “Aborto”, uma das que mais impacto político e social tiveram em Portugal, produzida durante a campanha pela despenalização no país.

Já este ano, a sua obra foi alvo de outro reconhecimento por parte da curadoria-geral de um dos certames mais importantes de arte contemporânea do mundo: A Bienal de Arte de Veneza, com o tema "The Milk of Dreams", que privilegiou o trabalho de artistas mulheres.

Cecilia Alemani, curadora geral da 59.ª Exposição Internacional de Arte Bienal de Veneza, escolheu a pintora portuguesa Paula Rego como uma das âncoras da exposição-geral, reunindo numa sala azul do Pavilhão Central, nos Giardini, obras em pintura, gravuras e esculturas.

Em entrevista à agência Lusa uma semana antes da inauguração, em abril, a curadora considerou Paula Rego uma "artista completa" que "só agora está a ter o devido reconhecimento".

Paula Rego "é alguém que, ao longo de cinco décadas, tem dedicado o seu trabalho a temas e ideias muito fortes, a aspetos das nossas sociedades que foram obscurecidos e ignorados, cancelados, censurados, desde questões políticas, de género, liberdade de expressão, direitos das mulheres. São temas que aborda de forma muito direta e original", salientou Cecilia Alemani sobre a artista de 87 anos.

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