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Chile: Oposição e independentes cantam vitória nas eleições constituintes

Direita ficou longe de alcançar um terço da assembleia, que lhe daria poder de veto sobre as mudanças. Resultado dos candidatos independentes foi a grande surpresa. Nas municipais, a candidata comunista venceu na capital.
Eleição este domingo no Chile.
Eleição este domingo no Chile. Foto Alberto Valdes/EPA

O eleitorado chileno foi chamado às urnas este fim de semana para escolher os próximos governos municipais, regionais, e também os 155 membros da Convenção Constitucional, a assembleia constituinte que deverá redigir a nova Carta Magna do país.

Nesta eleição histórica com uma participação de cerca de 40%, o resultado surpreendeu os analistas, com as candidaturas independentes a ultrapassarem as apoiadas pelos blocos partidários. A grande derrotada foi a direita chilena do presidente liberal Sebastian Pinera, da lista “Vamos por Chile”, ao alcançar apenas 37 lugares, longe dos 52 que lhe permitiriam vetar as propostas da maioria.

Do lado dos partidos da oposição, a lista “Apruebo Dignidad”, que juntava a Frente Ampla e o Partido Comunista, elegeu 28 representantes, enquanto a “Lista de Apruebo”, que integrava o Partido Socialista e outras formas de centro-esquerda, elegeu 25. Ao todo, as listas independentes elegeram 48 representantes, pelo que a sua soma com as listas dos partidos da oposição é superior aos dois terços da futura assembleia, cujo mecanismo de eleição assegura a paridade de género e a representação dos povos originários, para os quais estão reservados 17 lugares. No final de junho devem começar os trabalhos da elaboração de uma nova Constituição para o Chile, que será referendada em meados de 2022.

Em reação a esta derrota, o presidente Piñera disse que o resultado mostra que nem o Governo nem os partidos tradicionais estão “adequadamente sintonizados com os anseios e as exigências da cidadania”. A derrota dos neoliberais deixa a direita, pela primeira vez em muitas décadas, com pouca margem de manobra para influenciar os acordos políticos acerca das grandes questões do país. Por exemplo, pode estar em causa um dos seus símbolos políticos, o ruinoso sistema de pensões privatizado.

“Vamos ter uma Constituição inclusiva e integradora. O Chile vai poder reconstruir-se a partir do sentir e do pensar do próprio povo e da gente que se levanta, em vez das elites”, afirmou o advogado Daniel Stingo, o candidato que obteve a maior percentagem de votos, como independente pela lista do Apruebo Dignidad.

A alteração da Constituição, considerada uma herança da ditadura de Pinochet, foi uma das principais reivindicações do movimento que abalou o país em 2019. O novo texto deverá definir o papel do Estado na economia, qual o sistema de governo no país onde atualmente vigora o presidencialismo, a definição do reconhecimento e direitos dos povos originários e outros temas incontornáveis da sociedade atual, como a relação com o ambiente ou o direito à água, hoje em dia quase totalmente privatizada.

Comunistas vencem pela primeira vez em Santiago

Nas eleições municipais, a oposição também ganhou força e a maior vitória para a esquerda surgiu na capital Santiago, com a eleição da candidata comunista Iraci Hassler, com 38.62% dos votos, ultrapassando os 35.28% do atual alcalde Felipe Alessandri. “Vamos ter uma nova Constituição e vamos ter também uma transformação a partir dos bairros do município de Santiago, para conquistar nossa dignidade e o bem-viver neste momento histórico de transformações”, afirmou Hassler após a confirmação da vitória.

Trata-se da primeira alcaldesa comunista na capital, que elege esse cargo apenas desde 1992, quando terminou a indicação por nomeação presidencial para a liderança da autarquia.

Outro candidato comunista chileno, Daniel Jadue, é apontado como um dos favoritos nas próximas eleições presidenciais, e viu a sua reeleição confirmada à frente do município da Recoleta, na região metropolitana de Santiago, com uma folgada vitória de 64%.

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