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Parlamento Europeu aprova negociação sobre regulação laboral das plataformas digitais

Depois de aprovar a sua posição em dezembro na Comissão do Emprego, o Parlamento Europeu aprovou esta quinta-feira por 376 votos contra 212 o mandato para negociar a sua proposta para a diretica sobre regulação do trabalho nas plataformas digitais com o Conselho da União Europeia e a Comissão.
A decisão foi atrasada por iniciativa da direita, que "ao longo de todo este processo procurou esvaziar a diretiva de qualquer conteúdo relevante", afirmou o eurodeputado bloquista José Gusmão ao Esquerda.net. "A votação desta semana foi uma última tentativa de travar a consagração destes direitos", mas a votação final confirmou a proposta negociada nos últimos meses no Parlamento Europeu.
"A diretiva estabelece o que todos sabíamos: o trabalho de plataformas é trabalho. Agora tem de ser trabalho com direitos", acrescenta José Gusmão, sublinhando que "o combate não terminou". Por exemplo, "o governo português introduziu na lei aspetos que não constam da diretiva e que podem ser usados para diluir o efeito prático destas conquistas", alerta.
Na proposta aprovada, ao contrário do que pretendia a Comissão Europeia, a presunção de laboralidade pode ser requerida em tribunal a pedido do trabalhador ou de uma entidade administrativa e são as plataformas que têm de provar que o trabalhador é independente.
Calcula-se que hoje em dia haja 28 milhões de trabalhadores na União Europeia em atividade através das plataformas digitais. A Comissão Europeia calcula que a reclassificação enquanto trabalhadores por conta de outrém abranja até 5,5 milhões detses trabalhadores, passando a garantir-lhes direitos básicos como subsídio de doença, licença parental e subsídio de férias, bem como um salário mínimo nos países onde este é fixado por lei, contratação coletiva, definição de horário de trabalho e proteção na saúde.
Os lóbis das plataformas tentaram influenciar o processo nas suas várias fases, como já o tinha demonstrado o escândalo dos "Uber Files", ao revelar com esta empresa cultivava a proximidade com os círculos de poder em vários países para moldar a legislação a seu favor, pagando fortunas em troca de estudos académicos que apoiassem o seu modelo de negócio ou explorando a seu favor a violência dos taxistas contra os seus motoristas, procurando cativar a simpatia da opinião pública e dos governantes.
"Os lobistas da Uber, Deliveroo e os seus aliados lutaram até à ultima hora para enfraquecer a diretica, e até tentaram negociar um compromisso que era pior para os trabalhadores do que a situação atual", diz a eurodeputada da França Insubmissa Leila Chaibi, acrescentando que graças à luta dos trabalhadores das plataformas e ao trabalho de convencimento dos eurodeputados das várias bancadas, conseguiu-se chegar a uma proposta "boa e equilibrada", que defende os trabalhadores.
Com a aprovação do mandato para negociações, a bola está agora do lado dos governos da UE, que ainda não encontraram uma posição comum. As esperanças de que esse acordo chegue em breve ficaram mais ténues em dezembro, quando o Conselho não conseguiu a maioria necessária para avançar para a negociação. A próxima reunião dos ministros do emprego está marcada para 13 de março e os mais otimistas esperam que a negociação fique encerrada ainda durante a próxima presidência espanhola, ou seja, até ao final do ano.
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