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O que é o municipalismo de esquerda? 2/2

No dia 15 de maio de 2011, após uma manifestação pacífica, cerca de 40 pessoas decidem acampar na Puerta del Sol, em Madrid. Durante vários dias, mais pessoas juntam-se até atingirem a centena. São o acampamento dos “indignados”, como começarão a ser conhecidos. Um espaço onde existe um modelo assembleário e se debate, de um ponto de vista crítico, a economia, a dívida, o bipartidismo, as reformas laborais, o patriarcado, etc.
Slogans como “Sim, podemos” e “Não nos representam” ressoaram primeiro no Sol em Madrid e depois em todas as praças de Espanha, iniciando um movimento de denúncia que se tornou mundial e se refletiu em diferentes partes do mundo, tendo tido equivalentes como o Occupy Wall Street, movimento que fez com que muitas pessoas questionassem o modelo de política dominante. A cidadania exigia uma mudança, e desta vez eu faria parte dela.
Nesse contexto, na cidade de Cádiz, também se viveu todo o processo de ocupação das praças e de posterior desenvolvimento de assembleias de bairro. E onde o Podemos já tinha fortes raízes, entre outras coisas, pela figura de Teresa Rodriguez, um grupo de pessoas de diferentes idades e com diferentes caminhos na política - membros de movimentos sociais, estudantes, ex-militantes de partidos de esquerda, gente, em última instância, convencida de que era possível uma nova forma de fazer política e que o momento era então - decidiu unir-se e pôr em prática um projeto político para concorrer às eleições municipais de 2015.
Cádiz era uma cidade que passara por um doloroso processo de desindustrialização, era capital europeia do desemprego e tinha um governo do PP de maiorias absolutas havia 20 anos.
Com apenas 5 mil euros de orçamento, um grupo de cerca de 60 pessoas criou uma estrutura absolutamente horizontal para acabar com 20 anos de governo à direita.
Um processo que foi responsável pelo seu sucesso.
E, contra todas as probabilidades, no dia 13 de julho de 2015, José María González Santos, um professor do Instituto, anticapitalista, era eleito o primeiro presidente da câmara de Cádiz em democracia.
O que deve ir das ruas para a instituição? Qual é a força das câmaras municipais? Como é que as políticas municipais de esquerda são implementadas a partir de instituições que não têm nem poderes nem dotações económicas, mas sim o compromisso e a necessidade de responder aos cidadãos? Pretendo usar o exemplo de Cádiz, uma das poucas cidades chamadas de “mudança” que revalidaram a câmara municipal (aumentando significativamente o número de votos) e onde a extrema-direita do Vox não veio para governar, como uma experiência bem-sucedida de um modelo municipal de esquerdas.
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