José Mário Branco, operário das artes do espectáculo

José Mário Branco, operário das artes do espectáculo; nem mais, um operário. Um mestre como os mestres que admiravas, sapateiro, padeiro, pescador, mestres da vida na arte da presença. Por Rui Júnior.

19 de novembro 2019 - 18:55
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Querido irmão,

Quero pedir-te para ficares mais um pouco.

Aos poucos, vamos perdendo partes de nós que são as partes dos outros. Que se vão. Assim. De repente.

A tua obra; ora, a tua obra (grandiosa) que se lixe (faço de ti as minhas palavras) o que interessa somos nós, as pessoas.

E tu interessavas-te. Por tudo. Por todos.

José Mário Branco, operário das artes do espectáculo; nem mais, um operário. Um mestre como os mestres que admiravas, sapateiro, padeiro, pescador, mestres da vida na arte da presença.

Depois da revolta e teres ido, a revolução e regressaste. E deste a vida a este povo e tornaste-nos mais ricos.

Deixa-nos uma fortuna inesgotável. Quanto mais dela consumirmos, mais ela brotará.

O menino é educadamente deseducado. No palco, o punho ao alto. Não há pachorra, merda para isto. Que se foda o FMI.

Na vida privada um ombro seguro, quente, afável.

Rias-te com ironia da vida e fazias piada com coisas sérias.

Fazes-me falta meu irmão mais velho.

Eu vou ficar mais um pouco.

Até já.

Rui Júnior


* Rui Júnior – músico, diretor do Projecto de Percussões “Tocá Rufar”. Acompanhou espectáculos e participou em diversas obras discográficas de artistas portugueses como Júlio Pereira, Fausto, José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho, Janita Salomé, Vitorino, Rão Kyao, Jorge Palma, António Pinho Vargas, Amélia Muge, João Afonso e Carlos Barretto, entre outros.

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