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A história do capitalismo português em 40 minutos
Em 1958, num parecer da Câmara Corporativa, António Champalimaud falava em nome de todas as pequenas e médias empresas do país para reclamar menos impostos e mais lucros, ao mesmo tempo que defendia os benefícios dos grandes conglomerados privados apoiados pelo Estado:
‘É facto incontestado que no País não há, nem haverá por muito tempo, um mercado de capitais à altura de satisfazer as necessidades da indústria e que o recurso a capitais estranhos não resolverá inteiramente o problema. Por isso o autofinanciamento representa um papel primordial, indispensável à vida e ao crescimento das empresas, especialmente das de média dimensão, pois que para as grandes – geralmente contempladas no Plano de Fomento – se canalizam com preferência os recursos do Tesouro, da previdência e do público.
Não podem os industriais deixar de olhar com apreensão as referências que na prática conduzam a medidas de severa fiscalidade ou de exagerada limitação de lucros.
A verdade é que o país não pode prescindir, sem prejuízo para a sua economia, do potencial técnico e administrativo que só a coligação é capaz de criar.
Repare-se, por último, que em economias evoluídas, quer nas sujeitas com frequência à ação de governos de feição socialista (a Bélgica, por exemplo), o quer nas de tipo liberal (como a Alemanha), o desenvolvimento económico se apoia nas grandes organizações e coligações industriais (favorecidas pelo Estado)”
Em 1993, num artigo nos Cadernos de Economia, Belmiro de Azevedo escrevia sobre as exigências de uma política fiscal e financeira adequada às SGPS (Sociedades Gestoras de Participações Financeiras ou holdings) e defendia a criação de grandes conglomerados mistos:
“Só através de ligações entre grupos industriais e financeiros se poderá atingir a tal dimensão que não será atingida se se pretender crescer separadamente… O Governo tem uma oportunidade excecional de fomentar a criação de tais grupos se, mais do que autorizar, tiver uma política de privatizações que privilegie as participações cruzadas.”
Durante toda a sua história, os grandes grupos capitalistas portugueses falaram em nome de todo o setor empresarial para exigir melhores condições fiscais e financeiras, e do superior interesse nacional para reclamar o seu direito ao monopólio. Separadas por 35 anos, as palavras de António Champalimaud e Belmiro de Azevedo valem pela clareza com que expuseram os seus interesses e estratégias. Antes e depois da Revolução de 1974, estas estratégias condicionaram e foram condicionadas pelo poder estatal, influenciaram e formataram a estrutura económica portuguesa.
De onde vieram, como se organizaram e desenvolveram estes conglomerados em regimes políticos tão diferentes? Quais foram as suas estratégias de concentração e acumulação de capital? E, mais importante, qual o impacto destas estratégias no desenvolvimento/atraso económico do país? Será que Champalimaud e Belmiro falavam mesmo em nome do interesse nacional?
Estas e outras perguntas serão o mote desta apresentação que, para que se ajustem as expectativas, procurará contar apenas uma pequena parte da história do capitalismo português. Esta é uma história sobre os capitalistas portugueses e o seu papel no desenvolvimento/atraso económico do país.
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