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A concepção do processo revolucionário em Rosa Luxemburg

Texto de António Louçã de apoio ao debate “Rosa Luxemburgo”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 16h30, no Porto.
Fotografia: commons/wikimedia.org
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Nos tempos que correm, tornou-se moeda corrente a imagem de Rosa Luxemburg como sendo a dirigente socialista que em 1918, atrás das grades da prisão, olhou a revolução russa e teve a perspicácia de detetar, logo à primeira vista, os sinais de que tudo ia acabar mal. A deteção precoce dos sinais pressupõe uma grelha de leitura simplista, com um código detalhado do que se pode e do que não se pode fazer. Armada com a sua grelha de princípios democráticos formais, RL teria concluído rapidamente que a realidade da revolução não encaixava nas normas ideais. O processo, nascido torto, desde muito cedo estaria condenado a não mais se endireitar.

Nas linhas que se seguem, sugiro que RL não entrou nas revoluções da sua vida a saber tudo nem andou nelas sem aprender nada. Pelo contrário, a ideia de RL sobre a revolução regista uma evolução notável, desde o chamado “ensaio geral” de 1905-1906, passando pela revolução russa de 1917-1918 e culminando na revolução alemã de 1918-1919. Nesta dúzia de anos, um pouco mais, RL não cessa nunca de enriquecer a ideia que tem do processo revolucionário, suas forças motoras, seus ritmos, seus mecanismos evidentes e ocultos.

1906: a revolução russa vivida em Varsóvia

Supostamente, o diagnóstico precoce de taras jacobinas no bolchevismo já vem do princípio do século, desde logo com as críticas que RL dirigira à teoria leninista da organização, mas também, para o que agora nos importa, com o olhar especial que ela teve sobre a revolução russa de 1905. RL terá sido capaz de olhar 1905 como um grande processo de massas, por contraste com as pretensões hegemonistas dos aparelhos partidários, no caso o bolchevismo russo, que ficou com a fama de ser insensível ao protagonismo do movimento de massas em qualquer revolução autêntica, e também à sua mais espectacular manifestação exterior – neste caso os sovietes.

É verdade que já no Congresso de Jena, em Setembro de 1905, RL preconiza a valorização da greve de massas, por oposição à rotina parlamentar e sindical cada vez mais consolidada na prática do SPD. Mas as suas convicções sobre a posição que defendia não se encontravam ainda tão consolidadas que a fizessem rejeitar uma fórmula de compromisso com o líder partidário centrista, August Bebel, para poder aliar-se com ele contra a burocracia sindical que constituía a direita do Congresso. RL parte depois para Varsóvia, em Janeiro de 1906, mergulha de cabeça no processo revolucionário que sacode o império russo e dessa experiência irá resultar, já no final do ano, o livro “Greve de massas, partido e sindicatos”. Aí, rompe mais claramente com o esquema do SPD, de apostar sempre numa organização sindical e política poderosa como condição prévia para a actividade das massas.

Quanto ao caminho que fez RL para chegar a “Greve de massas, partido e sindicatos”, a primeira constatação é que, ao chegar a Varsóvia ela ainda tinha um ponto de vista muito diferente daquele que depois veio a pôr em letra de forma nesse livro fundamental. Sabemo-lo pelas cartas que, ainda na Alemanha, escreveu ao seu companheiro Leo Jogiches, que já se encontrava em Cracóvia. Na correspondência de 1905, ela procura sempre saber o que se passa com o partido polaco-lituano de ambos, o SDKPiL. Essa é a bitola por onde RL procura avaliar se o processo revolucionário está a correr bem, ou não. E entusiasma-se com as informações, porque na verdade o SDKPiL, de ser um grupo pequeno, passou em poucos meses a poder contar com uma militância calculada em 30.000 pessoas, com um jornal diário que era vendido na rua, desafiando a lei marcial1. Entretanto, há uma omissão que diz quase tanto como as perguntas efectivamente formuladas: RL nunca interroga Jogiches sobre essa novidade decisiva que são os sovietes2.

Depois, RL parte para Varsóvia, e a partir do início de 1906 as cartas que temos são as que envia para a Alemanha. Para Karl e Luise Kautsky, ela envia uma, logo depois de chegar, que constata a derrota da greve geral e parte daí para uma reflexão sobre as limitações inerentes a essa forma de luta:

“A greve geral parece ter falhado, principalmente em S. Petersburgo, onde os ferroviários não fizeram qualquer tentativa para levá-la a cabo (…) Em geral, há uma atitude vacilante, de esperar para ver. A razão para isto é a simples circunstância de a greve geral em si mesma, pura e simples, ter esgotado o seu papel. Só a luta de rua, directa e em todo o lado, pode agora trazer uma solução, mas para isso tem de haver mais preparação para o momento certo.”

Ainda estamos longe da enérgica propaganda a favor da “greve de massas” que, no fim desse ano, será o centro do livro.

Por outro lado, RL manifesta entusiasmo pela insurreição que os bolcheviques desencadearam em Moscovo. Contrapondo os méritos da direcção moscovita ao soviete de S. Petersburgo, que não refere pelo nome, ela diz ainda na mesma carta: “O pior de tudo é o caos em S. Petersburgo. Moscovo está a portar-se muito melhor e elevou a táctica a um novo nível. Não se pode falar de direcção em S. Petersburgo (…) A revolução nunca poderá triunfar apenas em S. Petersburgo; só pode triunfar no império russo como um todo” 3.

Nove dias depois, em nova carta aos Kautsky, e apesar de um agravamento da repressão que constata, RL formula o prognóstico de um desenlace revolucionário: “Na situação actual, sentimos que a próxima fase da luta será a do confronto armado”. E explica esse prognóstico a partir do exemplo insurreccional moscovita:

“Fiquei a saber de muita coisa sobre Moscovo e é do mais gratificante (vou escrever-vos assim que tenha mais relatos rigorosos e fiáveis). Por agora, sabemos apenas que em Moscovo é uma vitória que deve ser registada, e não tanto uma derrota. As tropas regulares de infantaria permaneceram imóveis, até mesmo os cossacos! Só a cavalaria e a artilharia continuam a ser ‘utilizáveis para o combate’. As perdas do lado dos revolucionários são mínimas. Foi a população civil no seu conjunto que sofreu terrivelmente, isto é, pessoas totalmente alheias aos acontecimentos, porque os soldados abriram fogo indiscriminadamente e destruíram as casas das pessoas. Resultado: toda a população civil está furiosa e revoltada! Por essa população está agora a ser doado dinheiro em larga escala para armar os operários. Entre os dirigentes revolucionários de Moscovo quase ninguém foi morto.”4

Além de defender a linha insurreccional moscovita contra o “caos” petersburguês, RL comenta as eleições para a Segunda Duma manifestando clara preferência pelos boicotistas bolcheviques contra os eleitoralistas mencheviques:

“Vocês já conhecem o significado da estafada lei eleitoral. Ficámos a saber que a lei marcial não será levantada na altura das eleições!! Nessas circunstâncias a participação nas eleições devia evidentemente ser posta de lado, mais ainda do que com a Duma Bulygin. Mas vejam isto: os social-democratas de S. Petersburgo decidiram participar nas eleições”.

Sobre a attitude a adoptar pelo SDKPiL, acrescenta: “Nós provavelmente ficar-nos-emos por uma rejeição aberta, simples e clara de quaisquer eleições baseadas numa lei eleitoral de quatro classes e levadas a cabo sob a lei marcial” 5.

A par do espírito vanguardista manifestado nas questões da greve, da insurreição e das eleições, RL continua a não mostrar nenhum especial interesse pelo significado dos sovietes. Na correspondência desse ano, ela só os menciona uma vez, de fugida, para dizer que Parvus se demitiu da sua função dirigente no soviete de Petersburgo, e dando a entender que possivelmente terá feito bem:

“Parvus demitiu-se da presidência e do seu assento no Soviete de Deputados Operários depois de ter ficado em minoria sobre a questão do rumo adoptado pela mais recente greve geral. A questão tinha que ver com a forma como podia ser reanimada a greve, que perdeu força. P[arvus] propunha que se apelasse a uma insurreição armada, seguindo o modelo de Moscovo, de modo a salvar a situação. Toda a gente concordou com a ideia, mas a maioria deles estava convencida de que isso não podia ser posto em prática naquele momento. P[arvus] explicou que considerava ter sobrestimado o seu conhecimento da realidade, que queria sobretudo continuar a aprender e que ia renunciar para poder dedicar-se ao seu jornal, que está a ter um sucesso colossal”6.

RL emite ainda um outro comentário ilustrativo do poder que têm nas fábricas os comités nascidos da revolução:

“Em todas as fábricas, ‘por sua própria iniciativa’, comités foram constituídos pelos operários para tomar decisões sobre as condições de trabalho, a contratação ou o despedimento de trabalhadores, etc.. O patrão deixou literalemtne de ser ‘dono da sua casa’. Eis aqui um pequeno exemplo bizarro: há pouco tempo a administração de uma fábrica queria castigar alguns trabalhadores por se atrasarem muito, mas o comité de fábrica impediu-a de fazê-lo; o dono da fábrica recorreu então ao comité do Partido Social-Democrata, queixando-se de este assunto ‘não ter sido tratado de acordo com princípios social-democratas fundamentais’, visto que, afinal, o Partido Social-Democrata é suposto defender o cumprimento firme e honroso das obrigações”.7

Contudo, não deixa de ser revelador que RL relate com vivacidade e colorido um exemplo de duplo poder, omitindo, ainda e sempre, qualquer referência aos sovietes, e sem relacionar uma coisa com a outra.

Em março interrompe-se a correspondência para os Kautsky: RL é presa, passa três meses na cadeia, é libertada, permanece um mês com residência fixa, parte para a Rússia e detém-se por mais três meses na Finlândia em contacto permanente com Lenine, que também aí se instalara para acompanhar o processo revolucionário. É durante a estadia na Finlândia que escreve “Greve de massas, partido e sindicatos” – um livro concebido para sacudir a inércia do proletariado alemão com o exemplo russo. E trata de sacudi-la com os argumentos mais contundentes, os da efervescência e da maré revolucionária de massas, não os do heroísmo da vanguarda operária moscovita.

Nesta obra de referência, a insurreição de Moscovo já não aparece mencionada como o exemplo, por contraste com a frouxidão do movimento em Petersburgo, e sim num contexto mais elaborado, como uma sequela importante, entre outras, da greve geral derrotada: “As jornadas de dezembro em Moscovo encerram o laborioso primeiro ano de revolução, como culminar da linha ascendente da acção política e do movimento de massas”8. Entretanto, ao longo do livro, RL continua sem prestar qualquer atenção aos sovietes – que não são mencionados.

1918: a revolução russa vista da prisão

Passa-se depois uma dezena de anos, sem novas revoluções e sem novas elaborações de RL sobre a teoria da revolução. São os anos da luta pelo sufrágio universal e pela república na Prússia, os anos da luta contra as veleidades guerreiras do imperialismo alemão em Marrocos e, finalmente, contra a carnificina imperialista da Grande Guerra. RL, na primeira linha do combate ao militarismo e à guerra, é condenada em tribunal e fica a cumprir pena, primeiro em Wronke e depois em Breslau.

A revolução russa surpreende-a em Breslau e é analisada por ela a partir de informações fragmentárias – aquelas que lhe chegam pela imprensa ou pelo contacto directo ou epistolar com os amigos mais próximos. A principal convicção que manifesta nas cartas sucessivas a quatro amigas (Mathilde Wurm, Clara Zetkin, Luise Kautsky e Sophie Liebknecht) é a de que os bolcheviques provavelmente acabarão por ser derrotados em pouco tempo.

A Mathilde Wurm, ela diz, logo em 15 de Novembro de 1917: “O meu coração bate ansiosamente pelos russos, mas infelizmente não tenho esperanças numa vitória dos leninistas”. E logo acrescenta: “Mas é certamente preferível morrer assim do que ‘viver pela pátria’” 9. Em 24 de Novembro repete a mesma ideia numa carta a Clara Zetkin:

“Os acontecimentos na Rússia são admiravelmente grandiosos e trágicos. Claro que Lenine e os seus não conseguirão prevalecer contra um caos insuperável, mas só por si a tentativa que fizeram destaca-se como um feito de significado histórico universal” 10.

No mesmo dia, escreve a Luise Kautsky que

“certamente eles [os russos] não conseguirão aguentar-se neste Sabbath de bruxas – não por as estatísticas mostrarem o tal atraso económico da Rússia, como o teu sábio esposo tem dito, mas porque a social-democracia dos países ocidentais altamente desenvolvidos consiste em cães miseravelmente cobardes, que ficarão a olhar calmamente enquanto os russos se esvaem em sangue” 11.

Um mês depois, em 24 de Dezembro, escreve a Sophie Liebknecht, já no tom de quem começou a admitir que os bolcheviques consigam sobreviver ao caos. Este, diz RL, é provavelmente exagerado pelas agências noticiosas, tanto mais que, “em geral, as coisas parecem estar a passar-se sem grande efusão de sangue, ou em todo o caso os rumores sobre ‘massacres’ continuam sem confirmação”. A melhor notícia é a de que, “no tocante aos pogroms contra os judeus, todos os boatos desse tipo são simplesmente fabricados. Na Rússia, o tempo dos pogroms ficou definitivamente para trás” (aqui RL acrescenta, profeticamente, que mais facilmente imagina pogroms na Alemanha do que na Rússia) 12.

A partir do início de 1918, RL formula numerosas críticas sobre a política dos bolcheviques. Em vários artigos publicados na imprensa spartakista, durante o Verão, ela critica duramente o acordo de Brest-Litovsk. Considera-o uma paz separada entre a Rússia soviética e o imperialismo alemão, que favorecia o esforço de guerra deste contra as potências aliadas. Depois de RL ter batido várias vezes nessa tecla, o núcleo redactorial das “Cartas de Spartacus” envia Paul Levi a Breslau, para visitá-la na prisão e convencê-la a abster-se de criticar publicamente os bolcheviques.

RL não fica convencida, mas entende que os seus camaradas irão opor-se doravante a novas publicações na mesma linha. Mete então ombros à escrita de “Sobre a revolução russa”, que é um texto de 35 páginas, de natureza privada, para ser lido por Paulo Levi, não destinado a publicação, em que portanto temos a vantagem de encontrar várias ideias da autora expressas cruamente, sem preocupação de melindrar alguma parte do seu público.

Aí, RL critica outros aspectos da política bolchevique além da assinatura do acordo de Brest-Litovsk. Critica, nomeadamente, a distribuição da terra aos camponeses, que criou milhões de pequenos proprietários, por natureza hostis ao socialismo. Do mesmo modo, critica os bolcheviques por terem reconhecido o direito à autodeterminação das pequenas nações do antigo império russo, incluindo o seu direito a separarem-se da Rússia. Também esse gesto, diz RL, vai permitir que várias pequenas nações se aliem ao imperialismo contra a Rússia soviética. Ambas são políticas que terão contribuído largamente para o bolchevismo lutar com sucesso pelo poder, mas que tornam mais difícil lutar com sucesso pelo socialismo.

RL critica depois os bolcheviques por não terem convocado uma segunda eleição da Assembleia Constituinte. Ela aceita o argumento de que a primeira eleição já não reflectia a realidade do eleitorado, mas reclama, por isso mesmo, a realização de uma segunda eleição. Segundo Michel Löwy, para RL o que está em causa não é tanto a Constituinte, e sim a limitação de liberdades que veio com a sua dissolução. Löwy tem razão no essencial, mas é certo que a existência de uma Constituinte ainda não é nessa altura uma questão completamente resolvida para RL – e já lá iremos.

RL entende que os sovietes contêm, para o bolchevismo, um princípio de representatividade, a Constituinte contém outro, e que o bolchevismo opta pelo dos sovietes. O problema, diz ela, é que, ao negarem as liberdades de imprensa, de reunião, de organização, os bolcheviques acabarão também por sufocar os sovietes. A liberdade, diz RL numa frase famosa, é sempre a liberdade de quem pensa de outro modo. Para RL, as limitações às liberdades democráticas estão relacionadas com a decisão de não convocar novas eleições para a Constituinte.

Esta primeira leitura suscita naturalmente uma perplexidade: de que ponto de vista critica RL o bolchevismo? Critica-o por não ter uma política socialista ou por não ter uma política democrática? Dos primeiros pontos aqui enumerados, dir-se-ia que o critica por não ter uma política plenamente socialista: em vez de distribuir aos camponeses as terras da oligarquia agrária, o socialismo normalmente havia de colectivizá-las; em vez de permitir a desagregação do império czarista numa miríade de Estados mais pequenos, o socialismo havia de tornar-se um polo para atrair novas nações a uma federação que fosse apagando cada vez mais as fronteiras.

Dos pontos seguintes, dir-se-ia que RL critica o bolchevismo por não ter uma política democrática: embora não se canse de repetir que é a favor da ditadura do proletariado, a verdade é que a exigência de respeito pelas liberdades formais tem muito mais a ver com uma imagem idealizada dessa ditadura do que com a realidade de um país no limiar da guerra civil. É a imagem, um tanto idílica, que aliás encontramos também em “O Estado e a revolução”, de Lenine.

RL explica o seu conceito de ditadura do proletariado como algo que consiste em impor uma transformação radical das relações de produção, em iniciar a transição para o socialismo. Pode mesmo consistir em retirar direitos políticos ou meios de subsistência à classe média ou à intelectualidade pequeno-burguesa que boicota o funcionamento dos serviços públicos por hostilidade à revolução: em determinadas circunstâncias, é preciso pressionar duramente essas classes intermédias “para quebrar a resistência com punho de ferro”. Mas RL sublinha também que “esta ditadura deve ser a obra da classe, e não de uma pequena minoria dirigente em nome da classe”.

Do ponto de vista de RL, as liberdades democráticas são indispensáveis a uma revolução que queira fazer-se com a participação activa e empenhada da grande maioria da população. Embora esteja sempre a comparar a revolução proletária com a revolução inglesa do século XVII ou a revolução francesa do século XVIII, ela chega a este ponto e diz que Lenine e Trotsky não podem tomar como modelos Cromwell ou Robespierre. E não podem, porque a revolução socialista apresenta uma diferença essencial relativamente às revoluções burguesas: quer abolir a exploração e portanto não pode olhar o movimento de massas como uma multidão obediente e instrumental. Deve promover a consciência das massas, deve mobilizá-las para fazerem coisas que verdadeiramente sintam e compreendam.

Mas um outro argumento de RL a favor de novas eleições para a Constituinte vai além desta desejada reanimação do debate democrático: ela encara com expectativa e simpatia a existência da instituição em si mesma. Apesar de ter fustigado impiedosamente durante anos o cretinismo parlamentar alemão, RL contesta a ideia de Lenine e Trotsky de que a Constituinte seria sempre mais reaccionária do que o país que a elegeu. RL invoca mais uma vez os seus dois casos de estudo favoritos, a revolução inglesa do século XVII e a francesa do século XVIII, para sustentar que uma poderosa revolução de massas pode forçar a mão a um parlamento retrógrado. Ela censura aos bolcheviques negarem “qualquer vínculo vivo entre aqueles que uma vez foram eleitos e o eleitorado, [negarem] qualquer interacção entre ambos” e confia que, em revolução, “o fluido vivo da vontade popular constantemente rodeie as instituições representativas, que se infiltre nelas, que as conduza”.

Apesar das notáveis divergências aqui enumeradas, RL guarda-se de posar em guru dessa revolução que continua a ver de trás das grades. Ela admite que, “tudo o que num momento histórico um partido pode oferecer, de coragem, de iniciativa, de larga visão revolucionária e de coerência, [os bolcheviques] conseguiram-no plenamente”. Com isso, diz ainda, salvaram não só a revolução russa, “mas também a honra do socialismo internacional”. RL enaltece, para além disso, a aposta dos bolcheviques na revolução mundial como “a prova mais brilhante da sua larga visão política e da firmeza fundamental, da audaz envergadura da sua política”.

A concepção ideal da ditadura do proletariado é algo que, segundo reconhece RL, não pode aplicar-se enquanto a revolução europeia – e desde logo, em primeiro lugar, a revolução alemã – não vier aliviar a pressão dos vários imperialismos sobre a Rússia soviética. O desenvolvimento da guerra e da revolução russa, sublinha a nossa autora, não vieram provar “a imaturidade da Rússia, e sim a imaturidade do proletariado alemão para cumprir as suas tarefas históricas”. E a dita imaturidade do proletariado alemão cria “uma cadeia inexorável de causas e efeitos” que explica as decisões do bolchevismo questionadas por RL: sobre a assinatura do tratado de Brest-Litovsk, a distribuição da terra aos camponeses, a autodeterminação das pequenas nações, a não convocação de novas eleições constituintes e a limitação das liberdades democráticas. Ela admite que

“seria exigir algo sobrehumano de Lenine e seus camaradas, se se quisesse obrigá-los em tais condições a tirar da cartola a mais bela democracia, a mais modelar ditadura do proletariado e uma economia socialista florescente. Com a sua atitude revolucionária, a sua exemplar capacidade de realização e a sua inquebrantável fidelidade ao socialismo internacional, eles fizeram verdadeiramente o que era possível fazer em condições tão diabolicamente difíceis”.

RL não tenta portanto fazer-se passar por mentora espiritual da república soviética nem insinua, remotamente sequer, que ela própria conseguiria fazer melhor no lugar e nas condições que calharam aos bolcheviques. Mas reserva-se o direito de querer fazer melhor nas condições, que espera mais favoráveis, de uma revolução europeia iniciada na Alemanha. E por isso critica as tentativas de dourar a pílula, de teorizar como verdade universal aquilo que foram decisões impostas por uma situação muito específica13:

“O perigo começa onde [os bolcheviques] fazem da necessidade uma virtude, onde plasmam numa teoria, ponto por ponto, a táctica imposta por estas condições fatais e onde querem recomendá-la como modelo ao proletariado internacional”.

Bem longe de endeusar, “ponto por ponto”, a táctica adoptada, RL exorta o seu leitor a “distinguir na política dos bolcheviques o essencial do acessório” e acrescenta:

“Lenine e Trotsky com os seus amigos foram os primeiros que deram o exemplo ao proletariado mundial, e continuam até hoje a ser os únicos que, como Hutten, podem proclamar: Eu ousei! Isto é o essencial e o que fica da política dos bolcheviques. Nesse sentido, cabe-lhes o mérito histórico imperecível de se terem adiantado ao proletariado internacional com a tomada do poder político e enfrentado os problemas práticos da realização do socialismo (...) Na Rússia, o problema só podia ser formulado. Ele não podia ser resolvido na Rússia. Nesse sentido, o futuro pertence em todo o lado ao ‘bolchevismo’”.

Ocasionalmente, em momentos mais depressivos, RL parece tentada a ir além da crítica sobre a teorização de um estado de necessidade. Numa carta de 30 de setembro a Marchlewski, então em Moscovo, que é talvez o ponto mais baixo do seu ânimo sobre as perspectivas da revolução russa, RL volta a fustigar o acordo de Brest-Litovsk, não apenas como uma inevitabilidade, mas também como algo que já começou a produzir frutos objectivos e subjectivos altamente nefastos – “tudo sintomas da posição equívoca a que o Governo dos bolcheviques foi levado desde Brest”.

Objectivamente, há os acordos adicionais, reconhecendo direitos de propriedade alemães em território soviético, ou prometendo compensações financeiras à Alemanha. Subjectivamente, volta a haver a famosa atitude de dourar a pílula, fazendo da necessidade virtude. A RL custa especialmente ver o seu camarada Feliks Dzerzhinski apelar “ao mundo civilizado” contra as conspirações anglo-francesas e comenta:

“Esta unilateralidade da política desde Brest – a submissão ilimitada às atrocidades de um lado [o lado alemão] e a gritaria sobre as estupidezes do outro lado – corrói qualquer autoridade moral em política e torna-a nolens volens [querendo ou não] um instrumento de um dos dois campos. Bem sei que a razão para isto é a completa impotência militar [do Governo soviético face à Alemanha], mas então [deveria haver] um comportamento passivo perante os dois lados.”

RL preocupa-se também com a possibilidade de Dzerzhinski – o luxemburguista que, à cabeça da Tcheka, chefia a repressão bolchevique –, se ter “deixado levar [pela ideia] de que possam ser tapados buracos económicos e políticos perseguindo energicamente ‘conspirações’ e matando ‘conspiradores’”. Dando largas ao seu ódio de estimação contra um velho inimigo, acrescenta depois: “Aquela noção de Radek, por exemplo, de ‘dizimar a burguesia’ ou nem que seja apenas de lançar ameaças nessa linha, é na verdade uma idiotice ao mais alto grau; ela apenas desacredita o soc[ialismo], e nada mais”14.

Mesmo assim, RL volta a afirmar que essa situação “desastrosa” se explica, de certo modo, pelas condições dramáticas em que os bolcheviques se vêem obrigados a exercer o poder: “É claro que, em tais condições, isto é, as de ser apanhado num fogo cruzado de todos os lados pelas potências imperialistas, nem o soc[ialismo] nem a ditadura do proletariado podem tornar-se uma realidade, quando muito [o que pode emergir é] uma caricatura de ambos”.

Contudo, mesmo nessa carta mais sombria de RL, o estado de necessidade continua a não ser imputável ao bolchevismo, e sim aos socialistas europeus, por assistirem a uma guerra que se encaminha para o seu fim sem nada terem feito para lhe pôr termo: “O escândalo para o socialismo será definitivo se mais uma vez a paz for ditada pelos canhões – desta vez os canhões americanos – e não pela acção do proletariado”15.

1918: a revolução alemã vivida em Berlim

Ao sair da prisão, RL chega a Berlim em 10 de novembro de 1918 e mergulha no turbilhão revolucionário. Os escassos dois meses que tem para viver introduzem mudanças profundas no seu modo de encarar o processo revolucionário em geral e as duas revoluções que tem pela frente em particular. Na revolução alemã, RL realiza uma intensa aprendizagem também sobre a revolução russa e repensa, implícita ou por vezes explicitamente, algumas das avaliações que fizera sobre ela.

Numa carta ao luxemburguista polaco Adolf Warski, sem data mas certamente escrita três semanas após a sua libertação, ela volta a olhar a revolução russa com grande optimismo. A propósito da discussão interna no partido polaco, RL escreve:

“Se o nosso partido (na Polónia) está cheio de entusiasmo pelo bolchevismo e ao mesmo tempo (num panfleto clandestino) se pronunciou contra o tratado de Brest dos bolcheviques, e contra o uso que eles fazem do slogan propagandístico de ‘autodeterminação das nações’, então isso é entusiasmo combinado com pensamento crítico – que mais poderíamos nós desejar!”.

Sugere depois que está a reconsiderar alguns dos seus reparos mais duros contra o bolchevismo, e que os camaradas polacos chegam por vezes mais longe do que ela alguma vez chegou nesses reparos:

“Também eu partilhei todas as vossas reservas e receios, mas nas questões mais importantes deixei-os cair, e em muitas [questões] não fui tão longe como vocês. O uso do terror indica uma grande fraqueza, certamente, mas é dirigido contra inimigos internos que baseiam as suas esperanças na existência do capitalismo fora da Rússia, em receber dele apoio e encorajamento. Com a aproximação da revolução europeia, os contra-revolucionários russos vão perder não só o apoio [do exterior] como também – e o que é mais importante – a coragem. Portanto, o uso do terror pelo bolchevismo é acima de tudo uma expressão da fraqueza do proletariado europeu”.

Tal como o terror, também a política agrária do bolchevismo deve ser vista nesse contexto: “É certo que as relações agrárias que foram criadas constituem o aspecto mais perigoso, a maior ferida da revolução russa. Mas também aqui se aplica aquela verdade – mesmo a maior revolução apenas pode levar a cabo aquilo que amadureceu como resultado do desenvolvimento [histórico]. Também esta ferida só pode ser curada pela revolução europeia. E ela vem aí!” 16.

Entretanto, nas páginas do jornal spartakista Die Rote Fahne começou desde os primeiros dias a acompanhar a revolução alemã, em tom vibrante e entusiástico. Nos artigos que aí publica, encontra-se facilmente a chave para explicar a sua reavaliação da revolução russa. Logo desde esses primeiros dias, constata-se que RL descobriu os sovietes na sua versão alemã – os conselhos de operários e soldados. No primeiro artigo que publica após a queda da monarquia, logo em 18 de novembro, afirma:

“Do objectivo da revolução, resulta claramente o caminho, da tarefa resulta o método. Todo o poder nas mãos das massas trabalhadoras, nas mãos dos conselhos de operários e soldados, garantir a obra da revolução face aos seus inimigos que espreitam: esta é a linha de rumo para todas as medidas do governo revolucionário”17

Ao mesmo tempo que descobre os sovietes, RL liberta-se de qualquer ambiguidade sobre as instituições da democracia representativa – neste caso a Assembleia Nacional que os “socialistas do Governo” querem fazer eleger com um mandato constituinte. Em artigo de 20 de novembro, ela recusa discutir com os sequazes de Ebert sobre a Assembleia Nacional, mas discute com os dirigentes do USPD Kautsky, Hilferding e Haase:

“Quem hoje recorre à [eleição da] Assembleia Nacional faz consciente ou inconscientemente a revolução recuar ao estádio histórico das revoluções burguesas; ele é um agente encapotado da burguesia ou um ideólogo inconsciente da pequena-burguesia” 18.

Uma semana depois, em 28 de novembro, volta à carga: “Constituinte ou Conselho Central dos delegados operários e soldados: solidamente ancoradas e cruelmente claras, assim contrapôs a História estas duas peças de organizações de classe diferentes” 19.

E logo no dia seguinte, comentando o congresso do USPD:

“Nesta questão como em todas as outras, são apenas possíveis dois pontos de vista. Ou se pretende a Assembleia Nacional como meio para arrebatar ao proletariado o seu poder, para paralizar a sua energia, para dissolver na poeira os seus objectivos finais socialistas; ou então pretende-se colocar todo o poder nas mãos do proletariado, desenvolver a revolução iniciada como poderosa luta de classe pela ordem social socialista e com esta finalidade pôr de pé o domínio da grande massa trabalhadora, a ditadura dos conselhos de operários e soldados” 20.

Será também RL a escrever o texto programático intitulado “O que quer a Liga Spartakus?”, depois aprovado no congresso que acaba por fundar o Partido Comunista Alemão (KPD), no último dia de dezembro e no primeiro de janeiro. Aí incita o proletariado a “substituir os órgãos herdados do domínio burguês – as assembleias, parlamentos e conselhos municipais – com os seus próprios órgãos de classe, com os conselhos de operários e soldados”21.

Nesse texto fundamental, RL polemiza também contra a ingenuidade dos “independentes” (USPD), de suporem que “os capitalistas acatariam de boa gana o veredicto socialista de um parlamento ou de uma assembleia nacional, que abdicariam calmamente de propriedades, lucros, direitos de explorar” e preconiza uma atitude correspondente por parte do proletariado:

“Toda esta resistência tem de ser quebrada, passo a passo, com punho de ferro e energia implacável. (…) Contra os ataques, insinuações, boatos da burguesia tem de erguer-se a inflexível clareza de propósitos, a vigilância e mesmo a activa prontidão da massa proletária. Contra as ameaças da contra-revolução, o armamento do povo e o desarmamento das classes dominantes. Contra as manobras de obstrução parlamentar por parte da burguesia, a activa organização da massa de operários e soldados” 22.

Na parte prática do escrito programático, RL reclama mais uma vez “substituição de todos os órgãos políticos e autoridades do anterior regime por delegados dos conselhos de operários e soldados” e preconiza, simultaneamente, “eleição de conselhos operários em toda a Alemanha por toda a população trabalhadora adulta de ambos os sexos, na cidade e no campo, nas empresas, bem como [eleição de] conselhos de soldados pelas tropas (excluindo oficiais e militares profissionais). Direito dos operários e soldados a revogarem os seus representantes em qualquer momento”. Além de eleger os delegados dos conselhos, a população trabalhadora deveria também ser chamada eleger delegados para o conselho central dos conselhos, “o que significa eleger o conselho executivo do órgão supremo do poder legislativo e executivo”23.

No discurso que pronuncia perante o congresso, para sustentar a aprovação do programa, RL recorda o momento de colapso da monarquia alemã e explica porque não se instalou nesse momento uma situação caótica: “A única fonte de união, o princípio estável e salvador, foi o lema: ‘Criem conselhos de operários e soldados’. Foi essa noção-chave da revolução”. E, após uma homenagem às lições obtidas na experiência revolucionária russa, ela elabora sobre o significado universal do tipo de organização sovietista:

“Podemos prever com segurança que, em qualquer país em que possa dar-se, depois da Alemanha, a próxima irrupção do proletariado, o primeiro passo será a formação de conselhos de operários e soldados. (…) E é muito característico das contradições dialécticas em que se move a revolução que em 9 de novembro, o primeiro balbúcio da revolução, como o balbúcio instintivo de um recém-nascido, tenha encontrado a senha que há-de conduzir-nos ao socialismo: conselhos de operários e soldados”24.

O vigoroso sovietismo e antiparlamentarismo de RL logo desde os primeiros dias da revolução atraiu à sua esfera de influência, e finalmente ao congresso fundador do KPD, os radicais de Hamburgo e de Bremen, naturalmente inclinados para uma política boicotista e com a expectativa igualmente natural de verem essa política tolerada ou apoiada por RL. Mas, no dobrar do ano 1918 para 1919, já era claro que as eleições constituintes iam ser impostas pelo bloco de militares e social-democratas e que era preciso decidir o que fazer perante um dilema incontornável: boicotar ou participar.

RL e toda a velha direcção spartakista optaram pela participação nas eleições, mas tiveram muito pouco tempo para dissipar o equívoco que a sua agitação antiparlamentarista inevitavelmente devia criar. É só em 23 de Dezembro, uma semana antes do congresso, que RL publica em Die Rote Fahne um artigo defendendo a participação eleitoral, e mesmo assim como mero instrumento para promover o objectivo de um governo dos conselhos:

“Estamos agora no meio da revolução e a Assembleia Nacional vai ser uma fortaleza contrarrevolucionária, erigida contra o proletariado revolucionário. Trata-se portanto de assaltar essa fortaleza e de mudá-la. Para mobilizar as massas e trazê-las a mais dura luta, para isso é preciso utilizar as eleições e a tribuna da Assambleia Nacional (...) Um assalto das massas à porta da Assembleia Nacional, o punho cerrado do proletariado revolucionário, que no meio da assembleia levante e agite a bandeira em que esteja inscrito com letras de fogo: ‘todo o poder aos conselhos de operários e soldados’ – esta é a nossa participação na Assembleia Nacional”25.

No primeiro discurso que pronuncia perante o congresso, precisamente sobre a participação nas eleições, RL reafirma a mesma ideia: “A contra-revolução conseguiu levantar a Assembleia Nacional como um baluarte contra nós. Agora o nosso caminho passa por esse baluarte” 26.

Apesar do seu grande prestígio e apesar de estar unida em defender a participação eleitoral, a direcção spartakista perdeu claramente a votação nesse ponto. Com efeito, quando o núcleo central spartakista se apresentou no congresso a defender a participação, essa opção ainda parecia constituir uma viragem relativamente à sua recentíssima agitação antiparlamentar. Era difícil convencer o congresso com nuances subtis, como essa de combater as eleições parlamentares, mas participar nelas por serem, entretanto, inevitáveis.

Tal como a agitação antiparlamentar dificultou uma eficaz explicação ao congresso sobre a táctica eleitoral, também a opção boicotista do congresso dificultou ao KPD o trabalho de advertir as massas contra a armadilha que o Governo de Ebert e Noske lhes estendera no início de janeiro. A impreparação política era tal que o próprio Karl Liebknecht se deixou arrastar pela euforia de um levantamento sem perspectivas. RL, que já tivera a lucidez de contrariar o boicote eleitoral, teve-a também na hora de refrear o envolvimento dos seus camaradas na aventura insurrecional. Mas o seu entusiasmo pelo futuro da recém-descoberta forma de organização conselhista continua a fazer-lhe relativizar o significado da derrota sofrida no congresso.

A sua última carta conhecida é endereçada de Berlim a Clara Zetkin, em 11 de janeiro de 1919, e é um documento revelador da pouca importância que continua a atribuir às eleições para a Constituinte. À amiga preocupada com a política boicotista aprovada pelo Congresso, RL diz que sobreestima “enormemente” o alcance e consequências dessa política. E acrescenta:

“A nossa ‘derrota’ foi apenas o triunfo de um radicalismo infantil, mal passado e unilateral. Mas isso foi só no princípio da conferência. Mais adiante, a empatia entre nós (a direcção central) e os delegados foi restaurada sobre uma base sã e, quando eu voltei brevemente ao tema da participação nas eleições durante o meu relatório, já senti uma ressonância muito diferente do que no início (…) Todos decidimos unanimemente não dar demasiada importância a este ponto nem fazer dele uma grande tragédia. Na realidade, a questão da Assembleia Nacional será atirada para um segundo plano pela torrente dos acontecimentos e, se o rumo dos acontecimentos se mantiver como até aqui, será muito questionável que se chegue sequer às eleições para a Assembleia Nacional”.

Na mesma carta, RL procura tranquilizar Clara Zetkin quanto à influência do tal “radicalismo infantil” sobre a política do partido, explicando nomeadamente que Otto Rühle, o proponente da moção boicotista no congresso, não tem quaisquer seguidores e que o esquerdista berlinense Julian Borchardt não foi acolhido no KPD. Pelo contrário, a instâncias da direcção spartakista, Borchardt foi expulso do grupo “Comunistas Internacionais”, como pré-condição para que este pudesse participar na fundação do KPD.

Por outro lado, RL desaconselha a vinda de Zetkin a Berlim, para discutir os problemas que considera mal resolvidos, com a significativa explicação de que

“viver no presente alvoroço e perigo constante, constantemente mudando de domicílio, correndo de um lado para o outro, não é para ti, e especialmente não haveria qualquer possibilidade de trabalharmos ou mesmo de discutirmos de forma organizada. Espero que numa semana ou algo assim a situação se tenha clarificado de uma maneira ou de outra e que volte a ser possível um trabalho normal”.

Mas dentro de uma semana nada disso irá acontecer. Passados quatro dias, Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht estarão mortos. Passados mais quatro dias, a assembleia constituinte estará eleita e o poder de Friedrich Ebert consolidado, em aliança com o general Groener e a mais reacionária oficialidade prussiana.

O salto teórico espectacular dos últimos dois meses

A algazarra que se fez à volta do escrito de Breslau sobre a revolução russa deixa no ar a ideia de uma Rosa Luxemburg defensora da democracia parlamentar contra a política bolchevique de dissolver a Constituinte. Mas a ideia não convence: seria paradoxal que RL, depois de ter combatido o “cretinismo parlamentar” durante duas décadas conservadoras e rotineiras, logo fosse sucumbir perante essa praga no momento em que, por força do processo revolucionário, a instituição parlamentar se encontrava mais desacreditada.

É verdade que, no momento de elaborar o escrito de Breslau, RL continuava a dedicar pouca atenção às novas instituições de democracia directa criadas nas revoluções proletárias daquele meio século: a Comuna de Paris, os sovietes russos de 1905 e os de 1917. Fisicamente, ela tinha-se desencontrado sempre dos sovietes: em 1905, esteve em Varsóvia, quando eles existiam principalmente na Rússia; em 1917 e 1918, esteve na cadeia, quando os sovietes russos se tornavam a mais forte presença no espaço público e a mais palpável alternativa de poder.

Mas, ao ser libertada da cadeia, ao regressar a Berlim, e ao encontrar uma revolução protagonizada por conselhos de operários e soldados, RL imediatamente se deixou entusiasmar por essa nova realidade e imediatamente se tornou a mais ardente sovietista. Ela descobriu na Alemanha os sovietes que não tinha descoberto na Rússia. A descoberta que fez na Alemanha mudou o seu olhar sobre a realidade sovietista que tinha ignorado na Rússia. Sem cair nunca numa imitação servil do modelo russo, ela adoptou para a Alemanha uma política muito próxima do “Todo o poder aos sovietes!” que distinguira o bolchevismo de todos os restantes partidos russos.

O corolário desse entusiasmo fresco e recente de RL pelos órgãos de democracia directa foi a sua mudança de atitude sobre a questão da Assembleia Constituinte. Ela, que para a Rússia preconizara uma segunda eleição, na Alemanha não quis nem a primeira. E, no congresso fundacional do KPD, só defendeu a táctica de participar nas eleições, aliás com um empenhamento morno que era invulgar nas suas intervenções, porque entretanto faltavam três semanas para as eleições e já nada podia impedi-las.

Para além das conclusões que tirou sobre os sovietes e sobre a assembleia constituinte, RL não chegou a tirar outras tantas sobre questões fundamentais como o terror vermelho, a política agrária e a autodeterminação das nacionalidades. Nos dois meses que viveu depois de sair da cadeia, a revolução alemã não colocou tudo isso na ordem do dia com igual prioridade. Podemos hoje interrogar-nos sobre a elaboração que teria feito RL, se tivesse vivido os anos seguintes e assistido à guerra civil russa com os seus milhões de mortos.

E podemos interrogar-nos sobre a perplexidade que provavelmente lhe teria suscitado o destino dos programas nacional e agrário por ela preconizados. Em 1922, foi Estaline, acolitado entre outros pelo luxemburguista Djerjinski, quem combateu o “liberal” Lenine pela defesa que este fazia da autodeterminação das pequenas nações. Em nome do “socialismo”, Estaline intrigava incansavelmente contra as aspirações nacionais gerogianas, ucranianas e outras. Em 1928, foi também Estaline quem reviu a política bolchevique de distribuir a terra aos camponeses e procedeu à colectivização forçada. Em nome do “socialismo” mandou “liquidar os kulaks como classe” – e liquidou muito mais do que os kulaks. Com estas duas opções, o regime soviético só formalmente parecia ir ao encontro do socialismo ideal que RL defendera no escrito de Breslau. Na substância, Estaline afastava-se mais do que nunca do socialismo e anunciava o terror termidoriano.

As nossas interrogações sobre o que teria pensado a “melhor cabeça do socialismo internacional” se confrontada com estas ironias da revolução terão de ficar como interrogações sem resposta. Mas, tal como Rosa aprendeu intensamente nos dois meses que viveu em revolução, podemos também estar certos de que teria, nesses anos seguintes, sido consequente com a sua recomendação de aprender, aprender sempre na “escola da grande mestra, a História”27

Bibliografia

  • Georg Adler, Peter Hudis, Annelies Laschitza (ed.). The Letters of Rosa Luxemburg. Londres, Nova Iorque: Verso, 2013.

  • Comrade and Lover. Rosa Luxemburg’s Letters to Leo Jogiches. Ed. Elzbieta Ettinger. Londres: Pluto Press 1981.

  • Rosa Luxemburg. Gesammelte Werke. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

1 Disso continuará RL, nos meses seguintes, a orgulhar-se nas cartas que entretanto envia para Karl e Luise Kautsky. Depois de relatar que a repressão impede qualquer jornal democrático de ser publicado em toda a Rússia, ela sublinha, como excepção, “o facto de o nosso [Czerwony] Sztandar se publicar diariamente apesar de tudo isto”. Carta de RL a Luise e Karl Kautsky, Varsóvia, 2 de janeiro de 1906. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 214 sg..

2 Há uma única referência, não aos sovietes, mas aos comités de fábrica, logo na primeira carta de Berlim para Jogiches, em 21 de maio de 1905, em que RL declara: “Ainda assim, não estou de acordo contigo sobre as comissões de fábrica. Seu tonto, o que te falta é instinto de ‘classe’; do excesso de radicalismo, resvalaste para o oportunismo”. Como não são dadas outras explicações, ficamos sem saber a que se refere RL. Comrade and Lover, pp. 142 sg.. Ed. Elzbieta Ettinger, Londres, 1981, Pluto Press.

3 Carta de RL a Luise e Karl Kautsky, Varsóvia, 2 de janeiro de 1906. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 212 sg.. Na mesma carta, RL fornece ainda alguns dados sobre uma situação altamente volátil, em que “todos os dias duas ou três pessoas são passadas à baioneta pelos soldados” e em que “de dia para dia há mais detenções”; e em que, por outro lado, e “apesar da lei marcial, estamos a conseguir publicar o nosso jornal Sztandar diariamente e ele está a ser vendido na rua”. Cheia de confiança, acrescenta que, “assim que a lei marcial for levantada, o nosso diário legal, Trybuna [Ludowa], vai aparecer novamente. Por agora, nas tipografias burguesas, ainda temos de obrigar todos os dias à sua impressão de revólver em punho. Comícios de massas também recomeçarão logo que tenha acabado a lei marcial e nessa altura vocês vão ter notícias minhas”.

4 Carta de RL a Luise e Karl Kautsky, Varsóvia, 11 de janeiro de 1906. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 214 sg..

5 Carta de RL a Luise e Karl Kautsky, Varsóvia, 11 de janeiro de 1906. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 214 sg.. RL manifesta noutro ponto da carta a sua convicção, baseada em informações incompletas, de que a participação eleitoral teria resultado de uma votação desfavorável aos leninistas. A verdade é que os leninistas se dividiram nesta questão, tendo o próprio Lenine votado vencido dentro da sua fracção a favor da participação eleitoral, mas vendo o seu ponto de vista prevalecer no partido graças à posição eleitoralista dos mencheviques.

6 Carta de RL a Luise e Karl Kautsky, Varsóvia, 11 de janeiro de 1906. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 214 sg..

7 Carta de RL a Luise e Karl Kautsky, Varsóvia, 5 de fevereiro de 1906. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 217 sg..

8 Rosa Luxemburg. Gesammelte Werke. Band 2. Berlim: Dietz Verlag, 1974, p. 123.

9 Carta de RL a Mathilde Wurm, Breslau, 15 de novembro de 1917. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 395 sg..

10 Carta de RL a Clara Zetkin, Breslau, 24 de novembro de 1917. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 397 sg..

11 Carta de RL a Luise Kautsky, Breslau, 24 de novembro de 1917. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 403 sg..

12 Carta de RL a Sophie Liebknecht, Breslau, antes de 24 de dezembro de 1917. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 405 sg..

13 A advertência será retomada por Lenine, quase palavra por palavra, quatro anos depois, em O esquerdismo, doença infantil do comunismo.

14 Segundo Annelies Laschitza, RL refere-se ao artigo de Radek “O terror vermelho”, publicado na Izvestia de 6 de setembro, portanto seis dias depois dos atentados em que Lenine ficou ferido e Uritsky foi morto. No artigo, Radek anunciava que quaisquer novos atentados seriam retaliados com o terror vermelho, incluindo a execução de reféns das antigas classes dominantes.

15 A única luz que RL julga ver no fundo do túnel vem das lutas dos trabalhadores e não da iniciativa dos políticos socialistas: “Há quatro semanas, parecia que estavam a acontecer grandes coisas na Renânia, mas claro que politicamente os nossos lorpas não fizeram nada e o movimento foi-se abaixo”. Carta de RL a Marchlewski, Breslau, 30 de setembro de 1918. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 420 sg..

16 Carta de RL a Warski, Berlim, novembro/dezembro de 1918. The Letters of Rosa Luxemburg, pp. 428 sg..

17 Gesammelte Werke, Bd. 4, pp. 397 sg.. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

18 Gesammelte Werke, Bd. 4, pp. 408 sg.. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

19 Gesammelte Werke, Bd. 4, p. 424. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

20 Gesammelte Werke, Bd. 4, p. 427. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

21 Gesammelte Werke, Bd. 4, p. 444. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

22 Gesammelte Werke, Bd. 4, pp. 445 sg.. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

23 Gesammelte Werke, Bd. 4, pp. 448 sg.. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

24 Gesammelte Werke, Bd. 4, pp. 497 sg.. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

25 Gesammelte Werke, Bd. 4, pp. 476 sg.. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

26 Gesammelte Werke, Bd. 4, p. 483. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

27 Gesammelte Werke, Bd. 1, Halbband 2, p. 509. Berlim: Dietz Verlag, 1974.

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Neste dossier:

O Fórum Socialismo 2019 realiza-se de 31 de agosto a 2 de setembro na Escola Artística Soares dos Reis, no Porto.

Fórum Socialismo 2019

Neste dossier, apresentamos vários textos de introdução a diversos painéis e debates, que decorrerão entre 30 de agosto e 1 de setembro no Fórum Socialismo, na Escola Artística Soares dos Reis, no Porto.

Fotografia de Paula Nunes

2º dia do Fórum Socialismo: 18 painéis em debate

O Socialismo 2019 terminou este domingo a sua ronda de debates. O esquerda.net assistiu a algumas das 18 sessões do dia.

Fotografia de Paula Nunes

1º dia do Fórum Socialismo: 33 painéis em debate

O Socialismo 2019 começou este sábado a sua ronda de debates. O esquerda.net assistiu a algumas das 33 sessões do dia.

O meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

Texto de Pedro Lamares de apoio ao debate "Recordar Sophia de Mello Breyner", que terá lugar no Fórum Socialismo 2019 no sábado, 31 de agosto, às 18h15, no Porto.

EUA x China: para além da guerra comercial, há uma disputa pela hegemonia tecnológica

Texto de Luis Leiria de apoio ao debate “EUA x China: para além da guerra comercial, há uma disputa pela hegemonia tecnológica”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 10 horas, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

Será com o Mexia que vamos reduzir as emissões?

Texto de Jorge Costa e Miguel Heleno de apoio ao debate “Será com o Mexia que vamos reduzir as emissões?”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 11h45, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

Desafios na governação de uma cidade

Texto de Manuel Grilo e Filipa Gonçalves de apoio ao debate “Desafios na governação de uma cidade”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 14h30, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

Pluridiscriminações de género. A luta pela igualdade, retrocessos e caminhos

Texto de Sandra Cunha e Cyntia de Paula de apoio ao debate “Pluridiscriminações de género. A luta pela igualdade, retrocessos e caminhos”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 10 horas, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

Quem protege as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens?

Texto de Paula Nogueira e Célia Carvalho de apoio ao debate “Quem protege as Comissões de Proteção de Crianças e Jovens?”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 10 horas, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

Como se muda a escola? Doze anos de escolaridade: e agora?

Texto de Alexandra Vieira de apoio ao debate “Como se muda a escola? Abertura de um processo sobre revisão curricular”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 10 horas, no Porto.

Fotografia de Ana Bárbara Pedrosa

Quanto mais Trump, menos Palestina

Texto de Alda Sousa e José Manuel Resende de apoio ao debate “Quanto mais Trump, menos Palestina”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 14h30 horas, no Porto.

Fotografia: académicos, intelectuais e ativistas sociais apelam, à escala latino-americana e internacional, ao fim da violência e ao “diálogo político e social” na Venezuela, 2017.

Venezuela, um país bloqueado

Texto de Carlos Santos de apoio ao debate “Venezuela”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 10 horas, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

1969 – O Ano que Nunca Terminou

Texto de Maria Manuela Cruzeiro de apoio ao debate “50 anos da crise académica”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 14h30 horas, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

Como tornar os Transportes Públicos gratuitos?

Texto de Heitor de Sousa de apoio ao debate “Como tornar os Transportes Públicos gratuitos?”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 11h45, no Porto.

Fotografia: Reprodução/Karilayn Areias

O samba como movimento político: conferência cantada

Texto de Luca Argel de apoio ao debate “O samba como movimento político: conferência cantada”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 14h30, no Porto.

Fotografia: precarios.net

Combater as novas formas de precariedade

Texto de Nelson Silva de apoio ao debate “Combater as novas formas de precariedade”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 14h30, no Porto.

Fotografia: commons/wikimedia.org

A concepção do processo revolucionário em Rosa Luxemburg

Texto de António Louçã de apoio ao debate “Rosa Luxemburgo”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 16h30, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

Por uma Academia de Iguais

Texto de Teresa Summavielle de apoio ao debate “Transformar a academia”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 11h45, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

Como se muda a escola? Abertura de um processo sobre revisão curricular

Texto de Adelino Calado de apoio ao debate “Como se muda a escola? Abertura de um processo sobre revisão curricular”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 10 horas, no Porto.

Fotografia de Hugo Evangelista

Como resgatar os CTT para a esfera pública?

Texto de Roberto Tavares de apoio ao debate “Como resgatar os CTT para a esfera pública?” , que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 10h, no Porto. O debate será dinamizado por Joni Ledo e Roberto Tavares.
Fotografia de Paulete Matos

O que é o municipalismo de esquerda? 2/2

Texto de Ana Garron de apoio ao debate “O que é o municipalismo de esquerda?”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 16h30, no Porto. O debate será dinamizado por José Castro e Ana Garron.

Fotografia de Paulete Matos

Transformar a Academia: o poder em disputa

Texto de Luís Monteiro de apoio ao debate “Transformar a Academia“, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 11h45 horas, no Porto.

Política de drogas em Portugal

Texto de Adriana Curado, Bruno Maia e Henrique Barros de apoio ao debate “Política de drogas em Portugal?”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 14h30, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

Pela nossa saúde: respostas públicas para o envelhecimento

Texto de Nuno Veludo de apoio ao debate “Pela nossa saúde: respostas públicas para o envelhecimento“, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 11h45 horas, no Porto.
Imagem de andrelemos.info

Eles andam por aí nas redes sociais: a nova direita

Texto de Francisco Louçã de apoio ao debate “Eles andam por aí nas redes sociais: a nova extrema-direita”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 14h30, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

O que é o municipalismo de esquerda? I/II

Texto de José Castro de apoio ao debate “O que é o municipalismo de esquerda?”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 16h30, no Porto. O debate será dinamizado por José Castro e Ana Garron.

Fotografia de Paulete Matos

A história do capitalismo português em 40 minutos

Texto de Mariana Mortágua de apoio ao debate “A história do capitalismo português em 40 minutos”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 18h15, no Porto.

Fotografia: theglobepost.com

Nações sem Estado

Texto de Isabel Pires de apoio ao debate “Nações sem Estado”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 14h30 horas, no Porto.

Fotografia de Paulete Matos

CTT: nacionalizar e reabrir. A exceção que falta.

Texto de Joni Ledo de apoio ao debate “Como resgatar os CTT para a esfera pública?“, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 10 horas, no Porto.

Texto de Rui Cortes de apoio ao debate “Regionalização: uma descentralização democrática”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019

Regionalização – a receita mágica para a coesão territorial?

Texto de Rui Cortes de apoio ao debate “Regionalização: uma descentralização democrática”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 16h30, no Porto. O debate será dinamizado por Rui Cortes e Helena Pinto.

Fotografia de Paulete Matos

Políticas para envelhecimento de qualidade - políticas para todos e todas!

Texto de Lúcia Cunha de apoio ao debate “Pela nossa saúde: respostas públicas para o envelhecimento”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 11h45 horas, no Porto.
Fotografia de Paulete Matos

Uma nova era na forma de encarar o parto e os cuidados a ter

Texto de Ana Campos e Luísa Sotto Mayor de apoio ao debate “Uma nova era na forma de encarar o parto e os cuidados a ter", que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 16h30, no Porto.

Trabalhadores por turnos, batalha pelo tempo e pela saúde

Texto de Alexandre Café de apoio ao debate “Trabalho por turnos: custos na vida familiar e social”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 11h45, no Porto. O debate será dinamizado por Joana Neto e Alexandre Café.

Alternativa de integração à praxe: disputa cultural nas universidades

Texto de João Teixeira Lopes de apoio ao debate “Alternativa de integração à praxe: disputa cultural nas universidades”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 10 horas, no Porto.

Trabalhadores por turnos: uma legislatura e uma oportunidade perdida

Texto de Joana Neto de apoio ao debate “Trabalho por turnos: custos na vida familiar e social”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no sábado, 31 de agosto, às 11h45, no Porto. O debate será dinamizado por Joana Neto e Alexandre Café.

Fórum Socialismo 2019: de 30 de agosto a 1 de setembro no Porto

Luca Argel, Pedro Lamares e Miguel Duarte são alguns dos convidados para o fórum de debates organizado anualmente pelo Bloco de Esquerda.

50 anos da Crise Académica de 1969: Crises, história e memória

Texto de Miguel Cardina de apoio ao debate “50 anos da crise académica”, que terá lugar no Fórum Socialismo 2019, no domingo, 1 de setembro, às 14h30 horas, no Porto.