Avanços do capitalismo digital

A oligarquia tecnoliberal impõe a sua vontade com o apoio de Donald Trump, e auxilia-se do imperialismo para o fazer. As empresas digitais criaram uma nova forma de extração de valor através da economia de dados e da economia de atenção. Pode haver alternativas? Dossier organizado por Daniel Moura Borges.

15 de fevereiro 2025 - 10:00
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Avanços do capitalismo digital
Avanços do capitalismo digital. Montagem de Esquerda.net

A chegada ao poder de Donald Trump colocou a olho nu uma disputa latente que vinha crescendo entre as grandes empresas tecnológicas e a democracia liberal. Com centro nos Estados Unidos da América, mas reflexos em todo o mundo, incluindo na resposta do império chinês, a disputa económica em torno da indústria digital acentua-se e cria várias tensões.

Desde o interesse de Trump nas terras raras da Ucrânia à mediação com a União Europeia para o desenvolvimento da Inteligência Artificial, a política estadunidense vira-se para o apoio incondicional às Big Tech como motor de uma economia desindustrializada. As implicações que isso tem são vastas.

Como é que a nova realidade digital nos afeta? Como é que se relaciona com o capitalismo? Que alternativas há à esquerda? Como se disputam tensões económicas e de influência digital entre impérios? Este dossier procura problematizar algumas dessas questões, sem perder de vista a base económica na qual assenta o capitalismo digital e o domínio das Big Tech.

Em Economia de atenção, economia de dados: os dois textos de Shoshana Zuboff, Daniel Moura Borges introduz uma grelha de análise com dois pilares para o funcionamento dos mecanismos de extração e controlo do capitalismo digital com base na obra emblemática A era do capitalismo de vigilância.

Cédric Durand procura caraterizar o “regime predatório” que se desenvolve com a aproximação de Trump aos líderes das grandes tecnológicas, utilizando a figura polémica do “tecnofeudalismo” para explicar a atuação da oligarquia tecnoliberal.

Romaric Godin traça a estrutura do funcionamento da Big Tech e trata a sua mais recente aproximação a Trump, isto é, a viragem à extrema-direita impulsionada pelos interesses económicos de Musk, Bezos, Zuckerberg e companhia, e que justifica a política externa do atual governo estadunidense.

É sobre essa “nova hegemonia da direita radical” que escreve o professor universitário e investigador Tiago Lapa, abordando a desinformação, a implosão da verdade e o colapso das autoridades tradicionais como forma de crise epistemológica.

Também sobre a nossa relação com o digital, Pedro Celestino reflete sobre o desenvolvimento da Inteligência Artificial, redes sociais e as nossas relações sociais usando a Alegoria da Caverna Digital.

Republica-se neste dossier a carta aberta com o título Contra o ataque das Big Tech às soberanias digitais, que foi divulgada em finais de 2024 no contexto das tensões entre o Brasil e a plataforma X, de Elon Musk. É uma carta que reflete sobre a relação entre democracia e as grandes tecnológicas e pede ação urgente, assinada por figuras influentes como Mariana Mazzucato, Shoshana Zuboff e Thomas Picketty.

Sobre as tensões internacionais em torno da tecnologia, mais concretamente na corrida pela Inteligência Artificial, Michael Roberts escreve a propósito do surgimento do DeepSeek. Argumenta que a Inteligência Artificial desenvolvida sobre o paradigma do capitalismo digital terá más consequências e piores “externalidades”, propondo alternativa.

As disputas sobre inteligência artificial a nível internacional levantam questões importantes sobre tecno-imperialismo e disputas geopolíticas, usando as redes sociais como arma. Pedro Celestino apresenta uma introdução a esse fenómeno com base em exemplos concretos.

Na tensão entre a ligação do mundo digital com o capitalismo e a sua libertação, Jake Pitre dialoga com o livro Terra Queimada de Jonathan Crary, para tentar perceber se existe ou não alternativa pós-capitalista à Internet ou se o pós-capitalismo implica o seu fim. Chega à conclusão de que a Internet não tem de ser assim tão má.

Para finalizar, Daniel Moura Borges aborda a transformação da Internet para entender que alternativas nos estão disponíveis a nível estrutural. É possível construir uma Internet descentralizada e transparente? Que papel tem o Estado nisso? É um texto onde são apresentados caminhos que ficam em aberto, porque o caminho faz-se caminhando.

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