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WikiLeaks: CIA tem acesso a quase todos os aparelhos domésticos

A utilização de aparelhos domésticos para recolha de informação é estratégia da CIA assumida publicamente desde 2012. O que é verdadeiramente novo são as ferramentas e os hackers que a CIA emprega e as estratégias que utilizam para o efeito.

Telemóveis, computadores e, agora também, carros e televisões de última geração. Quase tudo serve para a CIA - Central Intelligence Agency - espiar qualquer cidadão no mundo, revela mais uma publicação da WikiLeaks.

Em específico, fica confirmado que a CIA tem grupos de hackers dedicados a aceder a telemóveis e computadores; que existe uma segunda base de operações do Center for Cyber Intelligence no consulado dos EUA em Frankfurt (que se dedica a vigiar a Europa, o médio-oriente e África); e que um programa com o nome de Weeping Angel é capaz de utilizar televisões inteligentes da Samsung para gravar o som ambiente apesar de parecer desligado.

As capacidades da CIA não são propriamente novidade, e só se reforçaram exponencialmetne com a conetividade crescente entre diferentes sistemas, desde termoestatos a câmaras de vigilância.

James Clapper, ex-diretor da CIA, revelou numa audição pública do Senado dos EUA em 2016 que os aparelhos eletrónicos caseiros estavam a ser usados para recolher informação: "No futuro, serviços de espionagem poderão usar a internet das coisas para identificação, vigilância, monitorização, geo-localização, e segmentação para recrutamento, ou ganhar acesso a redes e falsificação de credenciais".

Em 2012, o então diretor da CIA David Petraeus antecipava a tendência declarando que "aparelhos de interesse serão localizados, identificados, monitorizados e controlados remotamente através de tecnologias tais como identificação por radio-frequência, redes de sensores, micro-servidores embebidos, e armazenadores de energia - todos ligados à próxima geração da internet usando computação poderosa, abundante e de baixo-custo."

O problema das televisões inteligentes da Samsung é conhecido pelo menos desde 2015, quando alterou especificamente as cláusulas sobre privacidade do acordo que os utilizadores têm de assinar para poderem utilizar o aparelho.



Hoje, serviços como o Xbox Linect, o Echo da Amazon e o OnStar da GM (que regista os padrões de utilização de cada automóvel), ou mesmo as novas Barbies, todos têm a capacidade de recolher e armazenar informação, de tal forma que as Barbies foram proibidas para distribuição na Alemanha.
 
Os documentos que Edward Snowden recolheu, publicados pelo The Guardian em 2013, não deixavam dúvidas sobre os meios disponíveis para as agências dos EUA e, sobretudo, não deixavam dúvidas que a invasão de privacidade era e continua a ser uma das competências centrais da CIA.

Os únicos cidadãos a salvo eram, até 2010, os próprios residentes nos EUA. No entanto, Obama abriu a porta para que a recolha indiscriminada de dados se extendesse por "associação" a cidadãos dos EUA, mediante supervisão do FISA (Tribunal de Supervisão de Informação Estrangeira [Foreign Intelligence Surveillance Court]), um Tribunal com audiências à porta fechada e sem qualquer contraditório.

O que é verdadeiramente novo nesta publicação da WikiLeaks são as informações sobre um grupo interno da CIA com o nome de Umbrage, um grupo dedicado a criar ferramentas de ataque informático com uma característica específica: deixar provas falsas sobre a origem dos ataques.

Mas também há boas notícias. Aparentemente, a encriptação de mensagens no WhatsApp e Signal são realmente impenetráveis para a CIA. Apesar de serem capazes de interferir com o sistema operativo e recolher informação de qualquer iphone ou android pouco protegido, o acesso a mensagens obriga ao acesso físico direto com o aparelho. O que pelo menos prenuncia que os milhões de pessoas que passaram a usar estas aplicações após as revelações de Snowden estão minimamente protegidas.

De qualquer forma, aconselhamos à leitura de um artigo Luís Leiria com "Conselhos para defender a privacidade na net".

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