O professor catedrático de Engenharia Informática do Inst. Sup. Técnico, que colaborou durante cinco anos com a Procuradoria Geral da República, garantiu à Rádio Renascença ter feito "repetidas recomendações a vários governos para que limpassem o sistema, mas é uma coisa que dá trabalho e custa dinheiro". Três anos após terminar essa colaboração, o crash da plataforma Citius com a mudança do mapa judiciário não o surpreende.
Juízes, procuradores, funcionários judiciais e advogados são unânimes nas críticas ao "caos" instalado na justiça desde o início do mês. Esta segunda-feira, foi anulada uma sessão de um julgamento com presos preventivos em Guimarães por ter falhado o sistema de gravação alternativo ao Citius.
"Os documentos estão no sistema, mas é como em nossa casa: vamos acumulando papéis sem grande organização e quando precisamos de algum não vamos saber onde está", explica José Tribolet. A razão são os "milhares de documentos e apêndices que se foram pondo na plataforma ao longo dos anos, muitos com informação ausente, errada ou trocada", impedindo a sua classificação correta.
Apesar do Governo dizer que a plataforma está operacional, na verdade ela só funciona para novos processos e não para os 3,5 milhões que existiam na antiga plataforma. Juízes, procuradores, funcionários judiciais e advogados são unânimes nas críticas ao "caos" instalado na justiça desde o início do mês. Esta segunda-feira, foi anulada uma sessão de um julgamento com presos preventivos em Guimarães por ter falhado o sistema de gravação alternativo ao Citius.
"Para o Citius funcionar, é necessário um ou dois anos de trabalho"
Na hora de apontar responsáveis pela paralisação do Citius, Tribolet aponta os dirigentes de topo do Ministério, que no que respeita aos modernos sistemas de informação das organizações, "são analfabetos, não conhecem o problema com que estão a lidar".
E ao desconhecerem o problema, prossegue o presidente do Instituto Nacional de Engenharia e Sistemas de Computadores (INESC), estes dirigentes "acreditam que as coisas se resolvem com uma equipa corajosa ou uma liderança forte ou empregando consultorias externas que levam um ‘dinheirão’ e estão ali uns meses, mas este não é um trabalho de meses. Leva anos e tem de ser feito pelas pessoas da justiça".
Ao contrário da ministra da Justiça, que começou por garantir que o sistema ia estar pronto poucas horas depois do arranque do novo mapa judiciário e desde então foi renovando as promessas de resolução em poucos dias, Tribolet prevê que a reintrodução dos processos na nova plataforma precise de "pelo menos um ou dois anos de trabalho". Quanto às garantias do Ministério de que o sistema "está a funcionar em pleno", o presidente do INESC responde: "A informação nova que agora entra no sistema funciona – pudera! – já vai para os sítios certos! E a anterior? Só com sangue suor e lágrimas".