Trabalhadores do BCE chumbam desempenho de Lagarde

23 de janeiro 2024 - 17:21

Incompetente, autocrata e sem perfil técnico suficiente. É assim que a maioria do pessoal do Banco Central Europeu avalia a sua presidente, segundo um inquérito divulgado pelo sindicato.

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Christine Lagarde
Christine Lagarde. Foto Felix Schmitt/BCE

O inquérito promovido pelo sindicato International and European Public Services Organisation (IPSO) aos trabalhadores do Banco Central Europeu indica que a confiança destes quadros na direção da instituição está e queda com quase 60% de opiniões negativas. À questão se Christine Lagarde é a presidente certa para o BCE, a maioria (53,5%) responde que não e apenas 22,8% diz que sim. Trata-se da primeira vez que acontece esta avaliação negativa na história dos inquéritos feitos pelo IPSO.

O inquérito citado pela agência Reuters, procurou medir o pulso à opinião geral de quem trabalha no banco sediado em Frankfurt a meio do mandato de oito anos da atual presidente. Se as principais preocupações dos trabalhadores não surpreendem - o salário e as condições e organização do trabalho, que se mantêm altas desde os tempos de Mario Draghi e Jean-Claude Trichet -, é o descontentamento com a liderança de Lagarde que se destaca, com metade dos inquiridos a porem em causa a sua atuação no combate a inflação, que supostamente é o principal objetivo do BCE.  

Vicente Ferreira
Vicente Ferreira

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Mais de dois terços das cerca de 1.100 respostas recolhidas afirmaram que Christine Lagarde não melhorou a reputação do BCE, o que contrasta com a resposta em inquéritos semelhantes no final dos mandatos de Trichet e Draghi, quando mais de 70% responderam que ambos tinham contribuído para melhorar a reputação do banco, apesar de os contestarem noutros aspetos do funcionamento interno da instituição.

A falta de confiança em Lagarde parece estender-se ao comité executivo, onde têm assento a presidente e o seu vice, o ex-ministro do PP espanhol Luis de Guindos, com outros quatro elementos - Philip R. Lane, Isabel Schnabel, Frank Elderson e Piero Cipollone. 59% dos inquiridos responderam que essa confiança é baixa ou inexistente, quando no inquérito do ano passado essa opinião era partilhada por apenas 40%.

Segundo o site espanhol El Diario, que teve acesso ao inquérito, o descontentamento com Lagarde fica expresso em comentários como "na maior parte do tempo não se dedica ao seu trabalho, mas sim a falar de política e de outros assuntos", ou "Lagarde comporta-se como uma autocrata do estilo 'faz o que eu digo, não faças o que eu faço'".

Tal como em anteriores inquéritos sindicais, a reação do BCE é de desvalorização, alegando que uma pessoa pode preencher várias vezes o mesmo inquérito. A administração do Banco Central Europeu alega que nos inquéritos que ela próprio promove há mais respostas e que 83% dos funcionários dizem-se orgulhosos de trabalhar no BCE. O IPSO responde que não detetou atividades suspeitas e que pelo menos 91,5% das respostas vieram de dentro das instalações do banco, pois têm o respetivo endereço IP, pelo que considera que o resultado reflete a opinião dos trabalhadores.

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