Trabalhadores da TAP apontam "erro crasso" da privatização

29 de setembro 2023 - 16:14

Comissão de Trabalhadores da TAP e sindicatos contestam a decisão anunciada pelo Governo de privatizar pelo menos 51% da companhia aérea.

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Avião da TAP
Foto André Carneiro/Fiickr

O anúncio da privatização da TAP feito esta quinta-feira no final do Conselho de Ministros foi recebido com muitas críticas por parte dos trabalhadores da empresa. A Comissão de Trabalhadores (CT) da TAP diz tratar-se de um "erro crasso", pois a história comprova que as privatizações "resultaram sempre em prejuízos para Portugal".

A coordenadora da CT da TAP, Cristina Carrilho, disse à Lusa que a TAP "deve ser 100% portuguesa, nunca deve ser privatizada". E acredita na possibilidade de o Governo reverter a decisão, continuando a ser o único acionista da empresa. Quanto aos 5% do capital reservado para os trabalhadores, segundo a apresentação do ministro das Finanças, Cristina Carrilho diz que "é algo que não dá aos trabalhadores poderes de decisão ou de influência na gestão da empresa". A CT contesta o argumento do Governo de que a TAP tem necessidade de se integrar num grupo de aviação maior, pois diz existirem alternativas como a partilha de aviões e rotas para aumentar a abrangência das várias companhias aéreas.

Para o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, Ricardo Penarroias, o anúncio da privatização significa "uma cambalhota total" em relação à posição do Governo que antes reverteu a privatização que dava 51% do capital aos privados. "Quis reverter e agora está disponível a fazê-lo quando a empresa está a apresentar resultados históricos, quando está finalmente a ter um trabalho bem feito por parte da administração, ou seja, também o público pode dar dinheiro. Este mito de que só o privado é que poderá dar dinheiro é errado", afirmou o sindicalista à TSF.

Pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil reagiu Tiago Faria Lopes, desconfiando das razões dos grandes grupos de aviação, nomeadamente a Air France, IAG e Lufthansa, para terem interesse na compra da TAP. "Não creio que essas companhias venham comprar a TAP em Portugal devido à nossa situação geográfica, que é de perfeição para todos nós. Somos concorrentes diretos para eles, ganhamos muito dinheiro em relação a eles, nomeadamente na América do Norte, América do Sul e África Subsariana. A não ser que o Governo consiga trancar muito bem a venda", apontou.

Também o Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos não encontra "qualquer racional económico ou outro para esta decisão". Em comunicado, o SITAVA afirma que mesmo pra os que defendem a venda da TAP "ao desbarato, este não é claramente o momento de a privatizar". E acrescenta que "até na perspetiva dos neoliberais que tanto vociferam contra o investimento público na TAP, teremos que lhe lembrar que quanto mais valorizada estiver a companhia, mais o Estado recuperaria do tal investimento que eles tanto condenam". Quanto às razões do Governo para avançar agora com a venda da TAP, o SITAVA considera que ou "não sabe fazer contas e está deliberadamente a causa danos avultados ao país e aos portugueses, ou então o Governo considera que a TAP é um 'ativo tóxico' e quer livrar-se dele o mais rapidamente possível".

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