Largo das Heroínas, Luanda, manhã deste sábado. Um grupo de mulheres tentava realizar uma marcha contra a violência de género. Pelo menos dez delas acabaram por ser presas pela polícia que travou à força a realização da ação.
A história é contada pelo Deutsche Welle. A organização, do movimento social “Unidas Somos Mais Fortes”, garante que cumpriu todos os requisitos legais necessários para a realização do evento que, sob o lema “O nosso grito é justiça”, pretendia alertar contra o elevado número de casos de violência contra mulheres em Angola.
Ginga Patrícia, deste coletivo, explica que todo o protocolo tinha sido enviado ao Governo Provincial de Luanda. Mas, antes da hora marcada para o encontro, havia já um dispositivo policial apertado destinado a impedir a participação.
A polícia alegou que não tinham autorização para se concentrar. A ativista conta: “explicámos que cumprimos todos os requisitos legais, comunicámos com bastante antecedência a realização da marcha e que estávamos num espaço público, pelo que não deveríamos recuar. A polícia respondeu que não podíamos estar no Largo das Heroínas e que devíamos dispersar”.
Seguiu-se “forte repressão” policial, descreve, com a polícia a forçar as manifestantes a obrigá-las a sair do local, a tirarem as t-shirts da marcha e a retirar-lhes os cartazes. Depois de terem sido afastadas da praça, a polícia insistiu em dispersá-la: “foi então que dissemos que estávamos na rua, num espaço público, e que não sairíamos dali”, diz, sublinhando que foi nessa altura que várias das organizadoras da marcha, e alguns homens que apoiavam, foram detidas. De acordo com DW, “o paradeiro das manifestantes detidas ainda é desconhecido”.
Ginga Patrícia acusa o Estado angolano de ter mostrado assim ser opressor, machista e hostil para com as mulheres e salienta que as as políticas de proteção e inclusão das mulheres na sociedade angolana são meramente fictícias. Por exemplo, a lei contra a violência doméstica “não é aplicada na prática”, o casamento infantil “ainda não foi erradicado”, “não existem esquadras especializadas para mulheres e elas continuam a ser assassinadas nas ruas apenas por exercerem as suas profissões”.
Ao mesmo tempo, assegura que a luta pelos direitos das mulheres vai persistir: “continuamos aqui. Não seremos vencidas pelo medo nem pelo cansaço. E não vamos desistir”.
Oficialmente, em 2023, foram registados mais de três mil casos de crimes de violência doméstica em Angola.