A European Theatre Convention é a maior rede de teatros com financiamento público da Europa, integrando 63 teatros de 31 países. A sua presidente, a portuguesa Cláudia Belchior, denuncia que a chegada da extrema-direita ao poder em vários países está a provocar despedimentos dos agentes culturais que estas forças políticas consideram incómodos.
Este tipo de fenómenos já se passa em países como a Itália, a Polónia, a Eslováquia, a Áustria e “está a começar a crescer na Alemanha”, onde a Alternativa para a Alemanha se tornou dominante pela primeira vez nos órgãos de um dos estados federais, a Turíngia.
A assessora artística do Centro Cultural de Belém e ex-presidente do conselho de administração do Teatro Nacional D. Maria II de julho considera que as autoridades nacionais e regionais das “direitas radicais têm tido uma atitude muito gravosa” em teatros, galerias de arte e museus públicos europeus.
Revela que há “um número significativo de associados que estão a ser despedidos, simplesmente porque não têm a linguagem nacionalista que neste momento lhes interessa” e que “há teatros em que, pura e simplesmente, o repertório foi eliminado para passar a haver um repertório com uma linguagem nacionalista, única, e isso é muito perigoso para as nossas democracias”.
Para ela, a estratégia da extrema-direita quando chega ao poder tem sido de “retirar pessoas, quase à pinça, do seu local de trabalho para serem substituídas por outros, que têm uma agenda de propaganda cultural”. Isto porque “percebem que a cultura é super importante”.
A dirigente associativa refere que “isto já foi utilizado no passado, não é novidade, mas estamos a chegar a um ponto muito preocupante e andamos muito adormecidos, um bocadinho de olhos fechados”.
À agência noticiosa nacional afirma que o crescimento da extrema-direita coloca em risco a liberdade de expressão e de criação artística na Europa, tendo o organismo que dirige transmitido estas preocupações à Comissão Europeia.
Belchior exemplifica com o caso italiano onde “existe uma cultura de medo” depois de Giorgia Meloni ter passado a chefiar o executivo.