Em agosto do ano passado, a Talkdesk tinha anunciado uma ronda de despedimentos. Na característica linguagem empresarial dizia-se então estar-se a “alinhar recursos com as prioridades da empresa e com o contexto económico” e tentava-se minimizar a situação dizendo que o que se passava teria um “baixo impacto”, uma vez que saíam “apenas um dígito percentual no número de colaboradores a nível mundial”. Numa empresa com 2.100 trabalhadores em todo o mundo, tal podia querer dizer que se despediriam até cerca de 200 pessoas.
Em fevereiro, seguiu-se uma nova ronda de despedimentos. Na altura, houve quem afirmarsse que esta poderia atingir 20% dos trabalhadores mas os números finais não chegaram a ser divulgados. Agora é a vez de uma terceira ronda, de acordo com o portal de notícias do setor tecnológico TechCrunch, que cita a confirmação por e-mail de uma responsável da empresa que não especificou de quantos despedimentos se trata, voltando a tentar minimizar a situação ao escrever que se tratam de “reduções limitadas em algumas áreas”.
Também por e-mail, o CEO da empresa afina pelo mesmo diapasão. Tiago Paiva escreve que os investimentos feitos em inteligência artificial colocam a empresa num lugar cimeiro da inovação no setor do serviço aos clientes e que “as reduções limitadas de pessoal que fizemos em algumas áreas não terão impacto negativo na velocidade da nossa inovação”, garantindo uma continuidade de investimento e contratações em “áreas estratégicas”.
Esta terceira vaga parece atingir particularmente trabalhadores portugueses. O Observador refere várias publicações no LinkedIn e no Reddit sobre estes despedimentos que afetam “desde gestores de produto, a gestores de engenharia, investigadores na área de UX (experiência de utilizador), designers ou programadores”.
Indicam-se relatos de chamadas a explicar que o posto de trabalho foi eliminado e depois os trabalhadores ficaram sem acesso ao e-mail da empresa e ao Slack, serviço usado para a comunicação interna. Alguns deles contam que lhes foi proposta a assinatura de uma rescisão por mútuo acordo, o que não conta como despedimento nem dá acesso ao subsídio de desemprego, com prazo final até esta sexta-feira. Se não aceitarem, foi-lhes dito, o caso segue para o departamento legal da empresa.
Escreve-se ainda nesta peça jornalística que os afetados pelos despedimentos criaram um grupo de WhatsApp que “já terá pelo menos 130 pessoas, a maioria portugueses”.
A empresa que vende software para melhorar o serviço aos clientes de grandes empresas, nomeadamente dos seus centros de contacto, foi criada em Portugal há cerca de 12 ano por Tiago Paiva e Cristina Fonseca, chegou a valer dez mil milhões de dólares, a ter 1.800 empresas clientes, entre as quais a IBM, a Trivago e a Fujitsu. Opera em 19 países e tem sido vendida como um caso de sucesso da economia digital. Ganhou o estatuto de “unicórnio”, atribuído às startups com avaliação de preço de mercado superior a mil milhões de dólares.