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Será a nova ferramenta do BCE suficiente para travar subida de juros?

O Banco Central anunciou um “novo instrumento anti-fragmentação” mas ainda não especificou medidas. Com isso, visou passar uma mensagem semelhante àquela que Mario Draghi transmitiu em 2014 de que a instituição faria “tudo o que for preciso” para preservar o euro.
Conferência de Imprensa do BCE.
Conferência de Imprensa do BCE.

A periferia da Zona Euro voltou a ser pressionada pelos mercados financeiros. Depois do anúncio da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sobre o fim do programa de compra de ativos e o aumento das taxas de juro de referência, países como Itália, Espanha ou Portugal viram as taxas de juro da dívida pública aumentar significativamente, o que tem intensificado o receio em relação a eventuais dificuldades financeiras.

As decisões do BCE, que incluem o fim do programa APP (Asset Purchase Programme) e o aumento da taxa de facilidade de depósito (que define os juros que os bancos recebem por manter depósitos no banco central), começam a surtir efeitos nos mercados financeiros. Por um lado, a subida das taxas Euribor, utilizadas como referência na generalidade dos créditos à habitação, já está a pressionar o orçamento de várias famílias. Por outro, os países periféricos enfrentam agora condições menos favoráveis para se financiarem nos mercados, o que aumenta o risco de restrições orçamentais e cortes na despesa pública.

Fonte: Público

Face a este cenário, o Conselho de Governação do BCE reuniu de emergência para avaliar os sinais dados pelos mercados. Da reunião, saiu a promessa de se criar um “novo instrumento anti-fragmentação” – isto é, uma ferramenta que permita conter o aumento acentuado das taxas de juro para os países da periferia da Zona Euro.

A ideia seria evitar uma situação semelhante à que ocorreu após a crise financeira de 2007-08, quando países como a Grécia, Portugal ou a Irlanda viram as taxas de juro disparar e foram forçados a recorrer a um empréstimo da Troika e a adotar programas de austeridade.

A última crise colocou em causa a sobrevivência da moeda única, um cenário que o BCE parece querer evitar desta vez. O anúncio de novas medidas para evitar a fragmentação da união monetária, ainda que não se saiba quais serão exatamente, teve como objetivo declarado “acalmar” temporariamente os “mercados” e evitar uma escalada dos juros. Na prática, o BCE visa passar a mensagem de que fará “tudo o que for preciso” para preservar o euro, evocando o célebre discurso do ex-presidente do banco central, Mario Draghi, em 2014.

O Conselho de Governação do banco também se comprometeu a “aplicar flexibilidade” na forma como reinvestirá as receitas das obrigações adquiridas na sequência do programa de compras de emergência pandémica (PEPP) e que vão atingir a maturidade nos próximos tempos. É um anúncio importante: ao longo da última década, e mesmo depois do início da pandemia, aquilo que tem permitido a países como Portugal financiarem-se a taxas de juro muito baixas são as compras de títulos de dívida por parte do BCE. A reversão destas condições não se faria sem custos significativos para os países.

Alguns analistas citados pelo jornal britânico Financial Times estimam que o BCE poderá canalizar mais de 200 mil milhões de euros para voltar a comprar títulos de dívida pública dos países mais endividados, de forma a conter a “instabilidade” nos mercados financeiros.

Para Christine Lagarde, “as crises nunca são iguais. É preciso ter a coragem de agir mesmo quando não temos a informação toda”. Num evento promovido pela London School of Economics, a presidente do BCE disse que os governos têm de fazer o seu papel no combate à crise contrariamente ao que aconteceu após a última crise financeira quando “os bancos centrais tiveram de assumir um fardo muito pesado, que cabia também à política orçamental”.

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