Segurança Social: contas do Governo "são só mais uma aldrabice

19 de setembro 2022 - 13:00

Após um encontro com produtores agrícolas no Fundão, Catarina Martins anunciou que o Bloco vai chamar ao Parlamento o Grupo de Estudos e Planeamento da Segurança Social para que este mostre as suas previsões sobre a sustentabilidade da Segurança Social.

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Catarina Martins encontrou-se com produtores agrícolas no Fundão. Foto de Pedro Reis Martins/Lusa.

Catarina Martins este esta segunda-feira no Fundão, onde ouviu queixas dos produtores agrícolas que nos últimos meses se viram afetados pelos incêndios e pela seca, a par da alta de preços dos fertilizantes e energia.

"Quem vai ao supermercado sabe que está a pagar muito mais pela alimentação, mas os produtores que estão a pagar a alta dos preços da energia e de tudo o mais que precisam para produzir, não estão a receber aquilo que as pessoas estão a pagar mais no supermercado e estão a vender muito abaixo dos custos de produção", afirmou a coordenadora bloquista aos jornalistas.

"Aqui no Fundão ouvimos produtores que estão a dizer que não sabem se conseguem continuar. Quem é que fica com o dinheiro? É a grande distribuição: a Jerónimo Martins aumentou os lucros em 40% no último semestre, a Sonae duplicou os lucros no último semestre", prosseguiu Catarina, concluindo que só nestes dois grupos "são mais de mil milhões de euros de lucro neste período em que os consumidores pagam mais no supermercado mas os produtores não recebem para os custos que têm com a alta de preços".

Para contrariar esta situação, o Bloco insiste na criação do imposto sobre lucros excessivos, "para podermos cobrar à grande distribuição os lucros que tem tido e colocar nos produtores o apoio de que eles precisam para que Portugal possa continuar a ter produção agrícola", defendeu Catarina Martins, lembrando que a própria Comissão Europeia tem feito apelos a favor dessa medida.

"Os pensionistas não são parvos e a Assembleia da República também não"

Questionada sobre a apresentação de um documento enviado pelo Governo ao Parlamento com as suas contas acerca do impacto da atualização das pensões tal como estava prevista na atual lei, Catarina Martins considerou "absolutamente inaceitável que o Governo tenha dito que precisava de cortar na evolução das pensões sem nunca mostrar cálculos e depois de o Bloco de Esquerda exigir esses cálculos ter mandado um documento para a AR que é mais um truque e aldrabice".

"Sabemos que o Governo primeiro dizia que ia apoiar os pensionistas e já todos percebemos que é mentira, afinal vai rever em baixa a evolução das pensões. Depois dizia que em 2024 podia vir a compensar e já se percebeu que não há nenhuma compensação para o futuro. Disse depois que ia mandar os cálculos e não mandou os cálculos, mandou uma folha que é uma aldrabice, que diz 'então e se houvesse inflação para aumentar as pensões e não houvesse inflação em mais nada?'. É ridículo, ninguém acredita nisto", comentou a coordenadora do Bloco.

O documento do Governo defende que se fosse aplicada a lei atual, o saldo da Segurança Social entraria em défice no final desta década, cinco anos antes do previsto.  Catarina diz que é "lamentável que o Governo tente justificar uma decisão política de revisão em baixa das pensões, descredibilizando a Segurança Social. Está a fazer o pior trabalho que a direita poderia querer". E para mostrar que "essas contas são só mais uma aldrabice", o Bloco vai chamar ao Parlamento o Grupo de Estudos e Planeamento da Segurança Social, que é a entidade que faz previsões e cenários sobre a sustentabilidade do sistema público de pensões e que não subscreve os cálculos agora enviados pelo Governo aos deputados. "Estes cálculos que o Governo diz que enviou são um desrespeito pela Segurança Social e pela nossa inteligência. Os pensionistas não são parvos e a Assembleia da República também não", afirmou.

"As maiorias absolutas podem não negociar, mas um país que exige uma vida melhor pode obrigar uma maioria absoluta a fazer diferente. Espero que ninguém se resigne a uma via de empobrecimento e de política dos truques que faz de nós parvos", concluiu a coordenadora do Bloco.