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“Se toda a esquerda tivesse sido firme, podíamos já ter resolvido problemas no SNS”

No debate televisivo com João Ferreira, Marisa Matias lamentou a oportunidade perdida no último Orçamento do Estado para o país poder reforçar o SNS e não estar hoje a responder a esta crise com as leis laborais de Passos Coelho e da troika.
Marisa Matias no debate com João Ferreira.

Já na fase final dos frente-a-frente que opõem candidatos presidenciais, Marisa Matias debateu esta sexta-feira com João Ferreira, com quem assumiu muitas lutas comuns, nomeadamente nas questões laborais. Mas sublinhou vários combates - “de sociedade, de geração e de mudança da nossa sociedade” - onde se posicionam ou posicionaram de forma diferenciada. Lembrou, a título de exemplo, o fim das touradas, a despenalização das drogas leves, a despenalização da morte assistida ou a paridade entre homens e mulheres nas listas eleitorais. Lembrou igualmente a lei que aprovou, há precisamente onze anos, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e posteriormente a co-adoção.

Também acerca do combate às alterações climáticas foram identificadas posições diferentes, com Marisa a lembrar posição do PCP contra a proibição da exploração dos recursos fósseis no Algarve e as posições distintas que ambos têm no que diz respeito ao nuclear. Marisa Matias defendeu que é preciso avançar com a transição energética em Portugal e com a descarbonização, que até aqui tem sido um “slogan vazio” de soluções que reduzam o fardo ambiental e as emissões poluentes.

“Eu estou disponível para discutir projectos reais e concretos de descarbonização energética, mas projetos que venham acompanhados das medidas efetivas”, frisou Marisa, acrescentando que essa reconversão energética que tem de vir acompanhada de “uma política para a economia e para a sociedade que permita reconverter postos de trabalho e ter novos tipos de especialidades que nos ajudem a fazer essa transição”.

Outro dos temas que marcou este debate foi o da saúde, com a candidata presidencial apoiada pelo Bloco a reforçar que “o SNS é o pilar da democracia em Portugal”. Para Marisa Matias, é preciso investir mais no Serviço Nacional de Saúde, “repensá-lo num contexto que responda até a necessidades que são cada vez mais atuais e prementes“, um SNS que “esteja mais presente em todo o território” e não deixe para trás a “população envelhecida deste país que está abandonada e que precisa desse serviço de proximidade”. “Tenho pena que não tenhamos usado esta situação [de crise pandémica] como uma oportunidade para reforçar o Serviço Nacional de Saúde” e “suprir já dificuldades que temos identificadas e que podíamos resolver”, continuou.

No entender de Marisa, “se toda a esquerda tivesse sido muito mais firme [aquando das negociações e votação do Orçamento do Estado para 2021], nós poderíamos ter já resolvido um problema grave do Serviço Nacional de Saúde como é a contratação dos profissionais de saúde”. Lembrou que chegámos ao final de 2020 com menos 961 médicos no Serviço Nacional de Saúde e que nos próximos três anos são 2.800 profissionais de saúde que se vão reformar. “Nós precisamos desses quadros, que estão a ser absolutamente sobrecarregados e não podemos olhar para o lado em relação a isto”. Marisa teceu ainda críticas ao Partido Socialista por esta sexta-feira se ter oposto ao reconhecimento da carreira dos auxiliares de saúde.

“Por causa da crise e da dimensão da crise, a vida vai-nos mostrar que muito em breve o Governo terá mesmo de vir mais à esquerda para negociar estas medidas e poder dotar de facto o Serviço Nacional de Saúde e as leis laborais das medidas que permitem responder à crise. É esse o papel do Presidente da República”, concluiu Marisa.

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