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Rui Machete comprou ações do BPN a metade do preço pago pela FLAD

Atual ministro dos Negócios Estrangeiros já admitira ter comprado ações do BPN a 1 euro, mas negava ter conhecimento de qualquer situação de favor. Só que, no mesmo período, a FLAD, instituição a que presidia, comprou ações do mesmo banco a um preço superior ao dobro do que Machete tinha pago.
Machete e o seu antecessor nos Negócios Estrangeiros: negócios de favor com o BPN, mal visto pelos próprios embaixadores dos EUA. Foto de João Relvas, Lusa

Entre o final de 2000 e o início de 2001, Rui Machete, então presidente da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), pagou um euro por cada uma das mais de 25 mil ações da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) que comprou no aumento de capital da instituição realizado no final de dezembro de 2000. As ações foram para a carteira pessoal de Machete, que obteve ganhos de 150% com o negócio, conforme noticiou o Público há uma semana.

A novidade da notícia do semanário Expresso deste sábado é que no mesmo aumento de capital, a FLAD também comprou ações do BPN, só que a um preço muito superior: 2,20 euros por ação, obtendo, quando as vendeu, mais-valias proporcionalmente muito menores.

Ora Machete sempre sustentou que não tinha conhecimento de qualquer situação de favor proporcionada pelo então presidente do Banco, Oliveira Costa, aliás semelhante à que beneficiou Cavaco Silva. Mas, como presidente da FLAD, Machete tinha necessariamente de saber a enorme discrepância de preços que o beneficiava pessoalmente.

O Expresso relata que Rui Machete vendeu até 2006 as ações da SLN por dois euros e meio, com mais valias de 38 mil e duzentos euros.

Já a FLAD, que tinha comprado mais de dois milhões de ações, vendeu metade sete meses depois, por dois euros e trinta, conseguindo uma mais valia de dez cêntimos por ação, num total de 113 mil euros.

Até 2007, a FLAD abandonou a estrutura acionista da dona do BPN, com uma mais valia total de 643 mil euros.

Além do preço especial, era prática de Oliveira Costa na época oferecer outras garantias a estes investidores especiais, como o financiamento da própria operação de compra das ações, bem como o compromisso de compra de volta dos títulos com mais valias garantidas.

Gabinetes luxuosos decorados com peças de arte

Machete presidiu à FLAD, uma fundação que foi criada com dinheiro entregue pelos EUA como contrapartida pelo uso da Base das Lajes, durante 22 anos, numa gestão que passou a certa altura a ser muito mal vista pelos próprios embaixadores dos EUA.

Um telegrama do embaixador norte-americano em Lisboa, Thomas Stephenson, dado a conhecer pela Wikileaks, descrevia Rui Machete como “suspeito de atribuir bolsas para pagar favores políticos para manter a sua sinecura”.

O embaixador queixava-se da FLAD “continuar a gastar 46% do seu orçamento de funcionamento nos seus gabinetes luxuosos decorados com peças de arte, pessoal supérfluo, uma frota de BMW com motorista e 'custos administrativos e de pessoal' que incluem por vezes despesas de representação em roupas, empréstimos a baixos juros para os trabalhadores e honorários para o pessoal que participa nos próprios programas da FLAD”.

Rui Machete acabaria por ser substituído como presidente da FLAD, em 2010, por Maria de Lurdes Rodrigues, que foi ministra da Educação no governo Sócrates.

Esteve muitos anos sentado na podridão do BPN/SLN”

O Bloco de Esquerda já pediu a demissão do ministro, em 23 de julho, lembrando João Semedo que o grupo SLN, dono do BPN, “funcionava assim, selecionava uns amigos, arranjava estratagemas, em geral legais, para distribuir dinheiro fácil”. O coordenador do Bloco de Esquerda recordou que, para além do envolvimento de Rui Machete neste negócio, o atual ministro dos Negócios Estrangeiros “esteve muitos anos sentado na podridão do BPN/SLN sem nunca nada lhe ter parecido mal”, em referência ao facto de Machete ter sido presidente do conselho superior do grupo BPN/SLN entre 2007 e 2009.

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