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Renzi ensaia nova crise política em Itália

No rescaldo do debate sobre o destino da “bazuca europeia”, o ex-primeiro-ministro italiano anunciou a saída dos seus membros do governo de Giuseppe Conte. Mais do que novas eleições, Matteo Renzi quer recuperar protagonismo e forçar uma remodelação governamental.
Matteo Renzi
Matteo Renzi. Foto Italia Viva/Facebook

Com o país mergulhado na pior recessão económica desde a II Guerra Mundial e severamente afetado pela pandemia, o governo italiano discutiu na terça-feira o destino a dar aos 209 mil milhões de euros ao fundo de recuperação europeia a aplicar em Itália. As duas ministras do partido Italia Viva, liderado por ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, recusaram-se a votar a favor, exigindo o acesso aos fundos do Mecanismo Europeu de Estabilidade  para financiar a recuperação do sistema de saúde.

Essa exigência era inaceitável para o primeiro-ministro Giuseppe Conte e para os seus aliados do Movimento 5 Estrelas, que há muito vêm defendendo a abolição daquele Mecanismo que implica a aceitação das condicionalidades de má memória para a Europa, do tempo da austeridade e da troika.

Na quarta-feira, Matteo Renzi deu uma conferência de imprensa para anunciar que embora tivessem existido melhorias na proposta aprovada, a ausência do recurso ao MEE para financiar a saúde era motivo suficiente para bater com a porta. “As nossas ministras, Elena Bonetti e Teresa Bellanova, não querem estar no governo a qualquer preço. Se as querem no governo têm de ouvir algumas das suas ideias”, afirmou Renzi, citado pelo Politico, concluindo que “não quero ser cúmplice no maior desperdício de dinheiro público na história da república”. As ministras e um subsecretário de Estado tornaram pública a sua carta de demissão.

As reações ao anúncio de Renzi não se fizeram esperar, com a direita comandada por Matteo Salvini - que no passado fim de semana foi depor em tribunal numa audiência prévia ao julgamento onde é acusado de ter impedido o navio de resgate “Open Arms” de aportar em Itália, deixando centenas de migrantes à deriva no Mediterrâneo - a reclamar a demissão de Conte e eleições antecipadas.

Mas nos bastidores da política italiana, ganha terreno a leitura de que o verdadeiro objetivo de Renzi não será o de provocar eleições - que segundo as sondagens quase fariam desaparecer a sua bancada -, mas sim o de recuperar protagonismo político e reforçar a sua presença no governo, seja forçando a constituição de um novo governo com a demissão de Conte nas próximas semanas, seja arrastando a situação até julho, quando o presidente Sergio Mattarela deixa de poder convocar eleições.

Embora sejam conhecidas as divergências entre os dois desde o início do mandato do atual Governo, Renzi afirmou na conferência de imprensa não ter nenhum preconceito quanto à continuidade de Conte na liderança, acrescentando que há outros nomes que podem juntar uma maioria no parlamento. Outro cenário seria a formação de um novo governo de “tecnocratas” que juntasse o apoio de bancadas da direita sob a batuta do ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.

Do lado de Conte, ainda não é certo se conseguirá excluir o Italia Viva dessa maioria, com a prioridade a ser dada à busca dos chamados deputados “responsáveis” entre os independentes e os pequenos grupos parlamentares. É que, como lembrava há pouco tempo um antigo ministro da Justiça, esses deputados “responsáveis” são “como os Vietcong - aparecem do nada quando menos se espera”… 

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