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Relatora da ONU critica inação internacional perante atrocidades de Israel

Impedida de visitar territórios ocupados por Israel, Francesca Albanese denuncia o aumento da violência e alerta para consequências da inatividade por parte da comunidade internacional.
Foto de Ana Mendes.

Numa entrevista ao eldiario.es, Albanese explica que, desde que foi nomeada, as autoridades israelitas não lhe concederam visto, impedindo o exercício das suas funções enquanto relatora especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos nos territórios palestinianos ocupados.

A relatora especial da ONU lembra que Israel nunca reconheceu a figura do relator especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos nos territórios palestinianos ocupados, que existe desde 1992. Ainda assim, conforme assinala, até 2008, Israel permitiu que os relatores especiais visitassem os territórios e mantiveram com os mesmos uma relação civilizada.

Este procedimento alterou-se no final de 2008, quando o então relator especial Richard Falk foi preso no aeroporto Ben-Gurion e depois deportado. Desde a época, a ONU adotou a prática de solicitar um visto, sem o qual a visita não é autorizada. Ainda que considere que Israel está “a abusar dos seus poderes reguladores”, Francesca Albanese informou as autoridades israelitas nos meses de setembro, outubro e novembro, que tinha a intenção de ir aos territórios palestinianos ocupados em novembro. Mas não obteve qualquer resposta.

Questionada sobre as acusações de que tem vindo a ser alvo por parte de Israel, no sentido de ser “parcial e antissemita”, Albanese afirma que isso é “algo que chamam a qualquer pessoa que critique as políticas de Israel face aos palestinianos”.

“Não tomo como algo pessoal por várias razões, porque sei que este é o preço que pagam todos os que lutam pelos direitos humanos e a justiça nos territórios palestinianos ocupados”, frisa. E acrescenta que as críticas a Israel surgem por parte da “comunidade académica, organizações de direitos humanos de Palestiniana, Israel e internacionais”. “E algo que realmente me comoveu é que muitos eruditos judeus, experientes em antissemitismo, em estudos do Holocausto, em judaísmo… têm falado em minha defesa”, assinala.

“Neste ano a violência não tem dado trégua”

Francesca Albanese denuncia que , “neste ano, a violência não tem dado trégua”: “No ano passado morreram cerca de 200 pessoas, a maioria em situações de execuções extrajudiciais sumárias, 50 delas eram crianças. Um assalto militar a Gaza matou centenas de pessoas em poucos dias e provocou muita destruição”, relata.

“Também, os ataques dos colonos têm sido incontrolados e completamente selvagens sob a vigilância das forças militares. Rusgas noturnas, detenções e encarceramentos de palestinianos, muitos deles meninos. Atualmente há 4.000 pessoas presas, 800 delas sem cargos. No ano passado foram detidas perto de 3.700”, continua.

Albanese fez ainda referência à “destruição de casas e estruturas civis, o assédio diário, os ataques a escolas e hospitais”, que é uma realidade com que se confronta todos os dias.

A relatora da ONU recorda que o ano passado “foi o mais letal desde 2005, quando as Nações Unidas começaram a documentar e compilar informações”, mas teme que a violência vá aumentar, “se nos fixamos nas declarações dos membros do novo Governo de Netanyahu”.

Francesca Albanese está preocupada “não só pelos palestinianos no território ocupado, mas também por palestinianos e israelitas, indivíduos e organizações que tentam ajudá-los, porque as forças de ocupação estão a tornar-se cada vez mais violentas”.

A responsável aponta que “este Governo é seguramente o mais extremista”, integrando, pelo menos, 13 colonos, como Itamar Ben Gvir ou Mikael Malkiel. O primeiro, ministro da Segurança Nacional, foi filmado no ano passado a cantar “morte aos árabes” e, depois das eleições, afirmou que era “hora de ensinar aos palestinianos quem é o amo da casa”.

Inação da comunidade internacional perante atrocidades de Israel

Albanese alerta para as consequências da “inação da comunidade internacional, perante as contínuas declarações e políticas abusivas dos governos israelitas”, e questiona a vontade dos Estados em fazer cumprir, respeitar e aplicar universalmente o direito internacional.

“Os palestinianos veem a resposta que se deu, por exemplo, à agressão ilegal e ilícita da Ucrânia por parte da Rússia e à ocupação ilegal, e veem um apelo à proteção do povo ucraniano em nome da autodeterminação, o qual é correto”, refere a relatora da ONU.

“Mas, ao mesmo tempo, não compreendem o desajuste e não entendem por que são tratados sempre de maneira diferente. De modo que, basicamente, estamos a dizer aos palestinianos: por muito que resistam pacificamente à ocupação, estais sozinhos. E isto é muito, muito perigoso”, remata Albanese.

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